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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Campus

Eleição presidencial sem a polarização entre PT e PSDB

Guilherme Simão - Do Portal

22/10/2013

 Vitor Afonso

Diferentemente das últimas cinco eleições presidenciais, a disputa pelo Palácio do Planalto em 2014 não vai ser polarizada entre o Partido dos Trabalhadores  (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), segundo cientistas políticos presentes ao debate sobre o cenário da política nacional realizado nesta segunda-feira, 21, no Auditório Padre Anchieta da PUC-Rio. Os palestrantes destacaram o favoritismo da presidente Dilma Rousseff na disputa presidencial no ano que vem, e se dividiram sobre os impactos das manifestações de junho nas eleições.

Para o sociólogo Luiz Werneck Vianna, professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, a próxima eleição presidencial não vai ser disputada em meio à polarização entre PT e PSDB, ainda que ela seja decidida pelos dois partidos. O cientista político Jairo Nicolau (no centro da foto), do Departamento de Ciência Política da UFRJ, observou que o cenário político de 2014 pode ser semelhante ao da disputa presidencial de 1989, marcado pela pluralidade de candidatos (22 chapas concorreram). Ele acredita que a próxima eleição presidencial será acirrada por causa do baixo crescimento econômico do país e da união entre Eduardo Campos e Marina Silva no Partido Socialista Brasileiro (PSB), duas “forças alternativas” a PT e PSDB.

Para Nicolau, as Jornadas de Junho e a candidatura de Marina como vice-presidente de um “partido político tradicional” trazem incertezas para o pleito presidencial:

— Há uma incógnita de quem é capaz de capturar os votos da Marina Silva em 2010 (19,6 milhões ou 19,33% dos votos válidos), pois é muito diferente ela ser agora candidata à Vice-Presidência pelo PSB. Vejo que há um espaço para candidatos à esquerda de Dilma entre o eleitorado que não se identifica com a polarização entre PT e PSDB. E também à direita, porque quando há movimentos como os protestos que mexem com a ordem pública, há lugar para candidatos mais conservadores.

Já o professor David Samuels (à esquerda na foto), da Universidade de Minnesota, nos EUA, acredita que as manifestações de junho não terão influência sobre os resultados das próximas eleições. Para ele, as pessoas que foram protestar nas ruas não têm simpatia por nehum partido.

— Os protestos podem até levar a um aumento do número de votos nulos e brancos, mas isso não faz diferença no cálculo final das votações (que registra apenas votos válidos). Além disso, a confiança da população nos políticos e no Congresso já era pequena há anos — disse o professor visitante pela Cátedra Fulbright PUC-Rio.

O cientista político Cesar Zucco (à direita na foto), da FGV-Rio, destacou que as Jornadas de Junho afetaram a popularidade de Dilma Rousseff, mas que ela ainda é favorita para as eleições presidenciais de 2014 por causa do cenário econômico externo. Segundo ele, mesmo que a situação econômica internacional esteja piorando, a conjuntura ainda é relativamente favorável à presidente:

— Tomando como base uma projeção conservadora, na qual a economia global se estabilize, Dilma teria 58% de aprovação durante as eleições e, portanto, dificilmente perderia a disputa. Em um cenário mais pessimista, de piora do cenário econômico externo, a presidente apareceria com 46% de apoio, índice que ainda a torna favorita em 2014.

Manifestações de junho expõem crise de representatividade dos partidos

Na opinião do cientista político Jairo Nicolau, o caráter apartidário das manifestações revela uma crítica à capacidade de os partidos políticos representarem os interesses da sociedade. Ele observou que o distanciamento da classe política se acentuou diante de um eleitorado mais exigente por causa das redes sociais e da ascensão da nova classe média. Nicolau disse não saber se os impactos das Jornadas de Junho sobre o cenário político serão duradouros:

— A questão é se esse sentimento antipartidário contaminou toda a população, especialmente os setores populares. E, como consequência, saber se o sistema político vai precisar se reconfigurar. Teremos as repostas nas eleições de 2014.   

Werneck Vianna observou que os partidos brasileiros têm dificuldades de se comunicar com a sociedade. O sociólogo destacou que os novos atores sociais, especialmente os jovens da nova classe média, não foram mobilizados pelos partidos políticos e não vão se aproximar da política até 2014. O professor da PUC-Rio criticou o modo como os partidos que estão no poder obtêm governabilidade no Brasil:

— O ano de 2014 marca o fim de um ciclo. O PT não tem como se manter no poder da maneira que vem fazendo política. Em certos momentos, pareceu que iria haver um partido único no Brasil.

O professor Cesar Zucco, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), ressaltou que os manifestantes das Jornadas de Junho não representam uma parcela expressiva do eleitorado nacional:

— Segundo pesquisas, os manifestantes representam de 5% a 9% da população e são pessoas mais escolarizadas, mais ricas e mais jovens que a média brasileira. Os políticos não mudam a maneira de fazer política porque eles continuam mirando os votos do eleitor médio, que decide as eleições. 

Jairo Nicolau avalia que as manifestações mais recentes, como as da greve de professores, perderam apoio popular. O professor afirmou também que a criação de três novos partidos políticos – PEN, Solidariedade (SDD) e PROS – nos últimos 12 meses transmitiu uma percepção equivocada de que o cenário político nacional é instável. Ele acredita que as organizações partidárias do país se consolidaram e já podem ser consideradas tradicionais. Nicolau sustentou que criar um partido político no Brasil é uma tarefa difícil. O cientista político destacou que partidos políticos brasileiros passam por uma crise de representatividade, o que estimulou a discussão de reformas políticas.

— A questão central, que apareceu de maneira mais forte este ano, é que vivemos um cenário de crise da representatividade dos partidos políticos no Brasil. Esse diagnóstico ficou mais claro após as Jornadas de Junho.

Zucco: eleições presidenciais são definidas pelo cenário econômico externo

O cientista político Cesar Zucco Junior, da FGV-Rio, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre a influência do cenário econômico externo nas eleições presidenciais na América Latina, realizada em parceria com a cientista política Daniela Campello, da FGV-Rio. Zucco estudou a dimensão do chamado voto econômico, conceito segundo o qual o eleitor escolhe seu candidato principalmente em função da situação econômica do país. O estudo sustenta que a conjuntura externa é determinante para o desempenho da economia dos países latino-americanos, com exceção do México e de países da América Central. Como consequência, defende Zucco, a popularidade dos presidentes dependeria mais da “sorte” que dos méritos do governo.

— Nos países estudados, o cenário econômico externo é mais importante que as políticas econômicas domésticas para o crescimento da economia, fator decisivo nas eleições presidenciais. Isso gera um problema em termos de democracia, já que esses governos não têm poder sequer para influenciar indiretamente os rumos da economia internacional — afirmou Zucco, acrescentando que a tendência é que esses países fiquem cada vez mais expostos às oscilações do mercado global. 

Ainda de acordo com Zucco, é possível prever o sucesso presidencial na América Latina sem recorrer a qualquer fator econômico doméstico, baseando-se apenas na variação do preço das commodities e da taxa de juros dos EUA. O cientista político sustenta que o cenário econômico externo explica 70% da variação da popularidade dos governantes e pode aumentar em 40% a probabilidade de vitória do candidato governista à presidência.

— Vale destacar, no entanto, que o grau de exposição de um país às oscilações da economia internacional é uma decisão política ao alcance dos governantes — completou Zucco.

Simpatia é quase voto no Brasil, segundo Samuels

O cientista político David Samuels falou sobre seu trabalho acadêmico, em parceria com Zucco, que trata dos simpatizantes de partidos políticos no Brasil. Ele produziu questionários que mostraram que a opinião do eleitor a respeito de políticas públicas tende a mudar quando ele é informado das posições dos partidos sobre as questões. Com base em pesquisas do Datafolha, Samuels afirmou que 25% dos brasileiros se declaram petistas, contra 7% que se dizem tucanos (partidários do PSDB). O professor identificou no país uma correlação forte entre a simpatia por um partido e o voto nos candidatos da mesma agremiação política. Por isso, Samuels projeta um cenário favorável ao fortalecimento do PT nos próximos anos:

— Acredito que o eleitorado do PT vai continuar crescendo no Senado e na Câmara dos Deputados. O apoio dos estratos mais populares da população ao partido é cada vez maior.