A arrancada de Fernando Gabeira na reta final do primeiro turno surpreendeu até os institutos de pesquisa, que só apontaram o candidato do PV em segundo lugar na boca de urna. Com 25% dos votos, o candidato do PV ultrapassou Marcelo Crivella (PRB), que terminou com 19%. Gabeira disputa o segundo turno com Eduardo Paes (PMDB), que obteve 32% dos votos, graças aos votos anti-Crivella e da classe média, avalia o cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael. Ele prevê que, embora Paes tenha largado na frente, o duelo será acirrado:  

– Se Fernando Gabeira terá de atingir as camadas mais populares para tirar a vantagem de Eduardo Paes, que está muito consistente entre os eleitores de baixa renda. E isso é decisivo. – ressalta Ismael. Ele faz um balanço da primeira fase da corrida à prefeitura do Rio:

– A eleição teve três momentos. Logo no início as pesquisas apontavam Crivella disparado na frente. Com o programa eleitoral gratuito, o senador do PRB foi ultrapassado por Eduardo Paes. Quando tudo indicava um segundo turno entre os dois, os votos anti-Crivella e da classe média alavancaram a onda Gabeira que garantiu o segundo lugar para o candidato do PV.

Segundo o professor da PUC-Rio, Crivella perdeu parte do eleitorado para Eduardo Paes, que focou a campanha nos eleitores de baixa renda, até então fiéis ao senador. Para Ricardo Ismael, a onda Gabeira se formou por uma conjunção de fatores:

– A 15 dias do fim do primeiro turno, havia ainda muitos eleitores indecisos. Gabeira apostou nesses eleitores e na movimentação final dos votos. Apesar de aparecer no seu programa com uma postura mais careta, de paletó, ele nunca perdeu uma característica própria: de fazer uma política diferente. Isso atraiu os votos dos jovens e da classe média. Além disso, foi beneficiado pela migração de votos de Crivella para Eduardo Paes.

No campus da PUC-Rio, a onda Gabeira é percebida em discussões animadas sobre o resultado das eleições. Estudantes comemoravam a passagem do candidato do PV segundo turno. Segundo pesquisa realizada pelo Departamento de Sociologia e Política, ele conta com 47% das preferência entre os alunos da universidade. Na opinião de Adrissa Parnaíba, aluna de Engenharia, “Gabeira sempre se apresentou de forma diferente dos outros políticos e as pessoas resolveram experimentar”. Embora animada com a perspectiva eleitoral, a estudante de Psicologia Julia Ramalha ressalva:

– Sempre votei no Gabeira. Mas me senti traída com as alianças que ele fez.

Apesar da boa aceitação no ambiente universitário, Gabeira não é unanimidade. Raquel Nascimento, funcionária da limpeza, prefere Eduardo Paes: 

– Não gosto muito do Gabeira. Para falar a verdade, não o conheço muito. Eu moro em Jacarepaguá e o Eduardo Paes sempre acompanhou a gente lá. É nele que eu vou votar.

O estudante do curso de Cinema Felipe Araújo prevê uma disputa acirrada: "Acredito que os votos de Crivella migrem para Eduardo Paes. Isso vai dificultar as coisas para Gabeira". O professor Ismael considera coerente a expectativa de Felipe:

– Eduardo Paes tem mais força nas camadas populares, que compõem a maior parte do eleitorado. Os votos de Crivella se confundem com os de Paes. Portanto, a tendência é que seus votos migrem para Eduardo Paes. Gabeira vai ter de investir mais nessas camadas e popularizar seu voto nas próximas semanas.