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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

Uma janela para o futuro

Paula Giolito e Joana Medina - Do Portal

08/10/2008

 Paula Giolito

Em um auditório repleto de futuros cineastas, publicitários e jornalistas, o diretor e professor Walter Lima Jr. contou como é trabalhar com cinema hoje no Brasil. O cineasta, que no início de sua carreira escreveu críticas para jornais, disse acreditar no possível fim das salas de exibição e em uma nova forma de se fazer cinema. A palestra aconteceu no auditório do RDC, na terça-feira, 23, e fluiu como um bate-papo entre amigos, completando o ciclo de apresentações oferecido aos alunos do primeiro período de Comunicação Social.

Com 13 longas-metragens no currículo, Walter Lima Jr. não acredita na necessidade de um diploma para exercer a profissão. “Não vou negar alguém bom na minha equipe porque a pessoa não cursou uma faculdade.”, disse o diretor aos alunos. Walter é um exemplo de profissional bem-sucedido que não fez o curso superior de cinema (formou-se em Direito), mas aprendeu na prática tudo o que hoje o consagra.

Ainda no início de sua carreira, teve a oportunidade de trabalhar como assistente de produção de Glauber Rocha no filme “Deus e o Diabo na terra do sol (1964)”, e a partir deste momento resolveu seguir a carreira. Seu primeiro longa, “Menino de Engenho (1965)”, teve produção de Glauber e surgiu graças a um financiamento obtido após o envio do roteiro para um concurso.

Em um tempo em que o advento tecnológico permite que todos criem seus próprios vídeos, Walter ressaltou a importância do conhecimento da expressão através da imagem. Para ele, a linguagem audiovisual não pode ser colocada à margem. “Você pode filmar tudo o que quer com uma câmera com dispositivo para filmagem. Pode fazer um filme, documentário, mas é fundamental ter conhecimento para uma boa produção audiovisual.” afirma.

Iniciado na carreira em uma época em que o Rio de Janeiro tinha 8.600 salas de exibição - hoje são apenas 2.200 -, Walter acredita que o relacionamento das pessoas com o cinema atualmente é diferente. Com a informação cinematográfica disponível em DVD, a tendência é que acabem as salas de exibição e se modifique a forma de fazer cinema.

Frente à indicação ao Oscar do filme brasileiro “Última Parada 174”, sobre o seqüestro do ônibus 174 no Jardim Botânico em 2000, o diretor defende que o cinema nacional tem a tradição de se representar com filmes violentos, criando uma identidade depreciativa já conhecida nos festivais internacionais. “É como se houvesse um pacto: para o filme brasileiro ser sério, ele tem que tocar em mazelas sociais.”, defende o diretor de “Os Desafinados (2008)”. Na obra, um grupo musical parte para Nova York e participa da criação da Bossa Nova.

Com o fim da palestra, Walter convidou os alunos à inauguração do Cineclube no Jardim Botânico, um local onde podem assistir e sobre o cinema. Na sua opinião, a participação em cineclubes é fundamental para que se desenvolva o conhecimento cinematográfico. A cada 15 dias há a apresentação de um filme novo, e estudantes cadastrados não pagam.

 O ciclo de palestra também contou com a presença do jornalista Aydano Motta. Ele falou sobre a profissão e seus desafios. Para Aydano, hoje, muito mais do que antes, o jornalista precisa ter responsabilidade com a informação. “A questão é que o funil está apertando na qualidade. O jornalismo está se democratizando, cada vez mais pessoas tem acesso a fazer jornalismo. Você vai ter que saber fotografar, filmar, como se comportar na frente da câmera. O jornalista deve ser completamente multimídia”.

Bem humorado e entrosado com a platéia falou sobre assuntos atuais que preocupam os jovens, como a dificuldade de ingressar no mercado. “A economia está crescendo. Tem mais empresa surgindo e toda empresa tem área de assessoria de imprensa. Isso é mais emprego para jornalista.”

Para ele, o jornalista que se destaca no mercado de trabalho é aquele que sabe um pouco de tudo. “Se eu só sei de esporte e aparece uma vaga na economia eu vou perder a chance. É importante está informado, saber um pouquinho de cada coisa. Ter pelo menos três perguntas para o entrevistado, qualquer que seja ele”, diz.

A tarde de palestras encerrou com a apresentação do publicitário Johnny Soares, da agência Full Pack.