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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


País

Jornais e bibliotecas se renovam com acervos digitais

Giovanni Sanfilippo - aplicativo - Do Portal

07/10/2013

Arte: Giovanni Sanfilippo

O desenvolvimento tecnológico é frequentemente associado a inovações científicas, criações de aparelhos e aproximação do “futuro”. A cada lançamento da área de eletrônicos e computação, fica mais evidente que as tecnologias atuais estão à frente de sua época. No entanto, não é sempre que elas apontam para os tempos que estão por vir. No caso dos jornais impressos, a tecnologia está servindo também para que se possa reviver o passado com as consultas às edições antigas e toda a história de cada publicação.

O jornal O Globo lançou seu acervo na internet em agosto, com mais de 11 milhões de arquivos digitalizados. O jornalista Luiz Henrique Romanholli, um dos principais responsáveis pelo acervo, reconhece que a tecnologia é essencial para o projeto:

– É um projeto bastante dependente da tecnologia, tanto para a digitalização das páginas como para indexação do conteúdo. Há um programa que pesquisa palavras pelas páginas e as reconhece para que possam ser realizadas buscas no acervo. Sem uma tecnologia avançada, o acervo não poderia existir.

Mais do que disponibilizar as páginas de todas as edições desde 1925, quando O Globo começou a circular, o site do acervo oferece informações específicas que contribuem para o resgate da memória do Rio, do Brasil e do mundo. Essas atrações fazem com que o site tenha enfoque e manutenção diferenciados dos acervos dos jornais Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, por exemplo, que já ofereciam ferramentas de busca.

Diariamente, a coordenadora do acervo do Globo, Letícia Helena, seleciona notícias e acontecimentos de anos ou décadas atrás para ilustrar a capa do site. A jornalista revela que várias vezes se surpreendeu com o que lia durante as pesquisas nas edições antigas:

 Reprodução – O interessante do acervo é conhecer uma história paralela, que não necessariamente é a história oficial. São fatos da história do Brasil e do mundo que não aprendemos pelos livros de estudo, porque não foram tão importantes para estar neles, mas foram notícia em determinada situação – explica, lembrando que o acervo também vem sendo utilizado com fins didáticos em escolas e universidades.

A ideia de disponibilizar o acervo surgiu em 2010, quando a Folha de S.Paulo lançou seu conteúdo na internet, mas a primeira etapa do processo começou só em agosto de 2011, quando foram iniciadas as digitalizações dos microfilmes. Todas as páginas foram indexadas e na terceira etapa do processo foi aplicado o Reconhecimento Ótico de Caracteres (OCR, em inglês).

Apesar de parecer trabalhoso, o andamento do projeto foi ágil, de acordo com o pesquisador e coordenador dos processos técnicos do acervo, Fábio Pouso. Ele explica que a digitalização dos microfilmes foi terceirizada, o que acelerou o processo, sem contar que desde 1996 todas as edições do jornal já saíam do forno com uma cópia digital:

– O processo mais lento é o da indexação, porque é necessária a supervisão humana para controlar a qualidade do trabalho da máquina. É preciso ter pessoas abrindo arquivo por arquivo e verificando as informações manualmente. É um trabalho de pente fino, que é mais demorado.

Outro acervo muito utilizado principalmente por pesquisadores e historiadores é o do Jornal do Brasil. Todas as edições do jornal carioca (hoje limitado à versão online) estão disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, e também foram preservadas no Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC) do JB. O coordenador do CPDOC, José Luiz Martins, conta que, mesmo com a facilidade da digitalização das páginas, muitos pesquisadores preferem trabalhar com o acervo físico, na Avenida Paulo Frontin:

– Atendemos a pesquisas de texto e fotografias, mas como as imagens não estão todas digitalizadas, e às vezes o pesquisador vem atrás de vários assuntos, eles preferem fazer a pesquisa no acervo físico.

Hemeroteca da Biblioteca Nacional

 Divulgação Enquanto isso, a Biblioteca Nacional, fundada em 1810, durante a presença da Família Real Portuguesa no Brasil, e uma das dez maiores Bibliotecas Nacional para a Unesco, vai perdendo espaço. O local ainda é referência em termos de pesquisas e estudo, porém o movimento caiu nos últimos anos, apontam funcionários. A diminuição não foi causada apenas por problemas como os vazamentos revelados em maio do ano passado, mas também devido à própria Hemeroteca Digital.

Lançada há pouco mais de um ano, a Hemeroteca é o próprio acervo de periódicos da Biblioteca Nacional disponibilizado na internet de maneira gratuita. Publicações raras ou já extintas, como o Jornal do Brasil, estão disponíveis para consulta – jornais ainda em circulação não podem ser incluídos, mesmo as edições mais antigas. São pelo menos 8 milhões de imagens em mais de 2 mil arquivos já disponíveis, e outros 7 mil estão já digitalizados.

No entanto, as memórias de outras publicações estão em risco por causa de má conservação na biblioteca. A condição para preservação dos microfilmes é de baixa temperatura, porém algumas cópias estão condenadas pelo calor no local, sem climatização nem ar condicionado desde os vazamentos. O salão onde estão armazenados os microfilmes está impregnado com um odor preocupante:

– Esse cheiro forte, que parece vinagre, é dos microfilmes. Estão deteriorando com o calor – aponta Luciana Grings, coordenadora de Serviços Bibliográficos. – Também estamos com problemas de armazenamento, tanto para periódicos como para livros – completa, rodeada por caixas e pilhas de livros recém-chegados.

A Fundação Biblioteca Nacional passou por duas trocas de direção nos últimos cinco anos. O cientista político Renato Lessa, que assumiu como novo presidente da Fundação, em março, prometeu o conserto do sistema de ar-condicionado para até 120 dias (início de setembro), mas até hoje a biblioteca permanece sem refrigeração. No verão passado, as temperaturas chegaram a 50 graus em alguns dos armazéns, prejuducial não só para os livros, mas também para os funcionários. A Biblioteca Nacional conta com uma verba de R$ 70 milhões para a obra de recuperação do sistema de ar-condicionado, provinda do BNDES, PAC e orçamentos da própria biblioteca.

Biblioteca Digital da PUC-Rio oferece acesso a milhares de jornais

 Divulgação Na PUC-Rio, alunos, professores e funcionários contam com diferentes opções de informação, por meio da Divisão Central de Bibliotecas da PUC-Rio, que torna disponível a assinatura do Press Display, central de acesso a jornais na internet.

De qualquer computador da PUC-Rio, até três pessoas podem acessar o link no site da DBD simultaneamente e folhear mais de 2,2 mil publicações nacionais e estrangeiras, como Folha de S.Paulo, The Washington Post, Los Angeles Time, The Guardian, Le Figaro e Clarin.  De um computador pessoal o acesso também é possível, através do número de matrícula e senha cadastrada no PUC Online. Ficam disponíveis no site edições de até 90 dias antes da data de acesso, e a pesquisa busca palavras-chave nas manchetes, títulos e texto.

Digitalização das fotos do Acervo O Globo

 Reprodução Acervo O Globo O Globo tem um centro de documentação e pesquisa cujo banco de dados fotográfico está quase totalmente digitalizado. No entanto, quando a foto ideal para uma matéria ou fotogaleria não está digitalizada, é feito um processo delicado para que a foto tenha a melhor qualidade possível nas mídias digitais.

Uma vez decidido o tema, o CDI verifica se existem fotos relacionadas ao tema no acervo fotográfico. As fotos estão em papeletas, cromos ou ampliadas e cada uma delas tem um negativo correspondente.

Escolhida a foto, é necessário identificar o negativo e digitaliza-lo num scanner especial, que contém ferramentas de reparação automática das imagens. Negativos da década de 50 ou mais antigos, demoram mais para serem digitalizados. Às vezes meia hora.

Quando não há informações relacionadas à imagem no banco de dados, é necessária fazer uma pesquisa para fornecer um contexto completo à fotografia. Se a foto retrata uma figura pública importante rodeada de pessoas aparentemente desconhecidas, é interessante conseguir informações sobre elas (como na foto com Getúlio Vargas em destaque); ou um registro de um jogo de futebol, as informações sobre o jogo são preciosas.