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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Economia

Resiliência: a nova exigência do mercado de trabalho

Ingrid Forino - aplicativo - Do Portal

04/10/2013

 Ingrid Forino

Há muito a competência técnica deixou de ser suficiente para o sucesso profisional. Incorporaram-se nessa partitura atributos psicológicos, sociais, emocionais. O mais recente deles é um conceito conhecido como coeficiente de resiliência: a capacidade de manter o equilíbrio emocional, numa referência à teoria da física aplicada pela psicologia ao comportamento humano. Pois a habilidade revela-se o novo xodó dos contratantes em busca de talentos, afirmou a especialista em coaching Cristina Goldschimidt, sócia da UseCoach, na palestra Liderança e Inteligência Emocional, promovida pelo CCESP na PUC-Rio.

Assim como o metal amolece e volta rapidamente ao seu estado normal quando sofre tensão, ao receber calor ou frio, o profissional também precisa lidar com estresse sem entrar em colapso, compara Cristina. Segundo a especialista, aqueles que mostram capacidade de manter ou retornar rapidamente ao equilíbrio emocional em adversidades têm um trunfo competitivo no mercado. A característica torna-se um potencial qualitativo na visão de empresas, um ingrediente "indispensável ao profissional do século XXI".

 Ingrid Forino Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, Cristina Goldschimidt e a psicóloga Dulce Soares, diretora da UseCoach, explicam como funcionam os testes para identificar o tal coeficiente de resiliência. Elas afirmam que não raramente o resultado é fator de desempate em processos seletivos. Segundo Cristina, “saber se adaptar a eventuais controvérsias é o indicador mais confiável em relação à capacidade de prever a provável eficácia do indivíduo na sociedade contemporânea”. Com base nesses princípios, ferramentas como Janusian e Pheonix traçam, por exemplo, parâmetros de liderança e resiliência. As especalistas garantem: todos nós somos capazes de desenvolver a habilidade, e um dos caminhos é aproveitar as adversidades como aprendizado.

Portal PUC-Rio Digital: O que significa resiliência, na visão do mercado?

Cristina Goldschimidt: A resiliência é um conceito emprestado da física, que identifica a capacidade de um material, afetado por fatores extremos como calor ou frio, retornar ao seu estado normalmente. Esse conceito foi transplantado para o comportamento humano e significa a capacidade que nós temos de usar a inteligência emocional para mantermos o equilíbrio e nos adaptarmos com sucesso a experiências difíceis e desafiadoras.

Portal: Quais são os traços de profissional resiliente?

Cristina: O primeiro fator é a forma como nós explicamos para nós mesmos o externo, tanto os problemas quanto as coisas boas. O segundo é a nossa capacidade de olhar o problema e responder a seguinte pergunta: “eu controlo o problema ou estou sendo controlado?”. É importante, também, perceber que o problema não precisa afetar a nossa vida inteira. E, principalmente, saber o que é preciso para influenciar o resultado e ter a capacidade de agir. O repertório de comportamentos que formam as pessoas assim é extenso: inclui autocontrole, concretividade, controle de impulsividade de ação, otimismo, confiança na capacidade de resolver o problema.

Portal: Como é medido o coeficiente de resiliência?

Dulce: Nós usamos o Pheonix, um instrumento de avaliação chamado de assessment pelo mercado. É um questionário online que pede para a pessoa responder 214 perguntas. O objetivo é identificar quantas vezes você usa determinado comportamento diante de um problema. A ferramenta mapeia também todas as competências, além de fatores estressantes, como contas para pagar, insatisfação com o salário, relação com o chefe. A partir de um algoritmo, é gerado um número de zero a mil:quanto mais perto de mil, maior será o coeficiente de resiliência do candidato.

Portal: Qual é a importância dessa qualidade, hoje, para o mercado de trabalho?

Cristina: Há pouco tempo, o diferencial era a competência técnica. Cursos de pós-graduação, mestrado, entre outras especializações, passaram a fazer parte do currículo da maioria dos talentos disputados pelas empresas. Assim, a capacidade de manter o equilíbrio emocional na hora de resolver problemas torna-se um trunfo competitivo. Mas é preciso exercitar a resiliência.

Portal: De que forma se pode desenvolver essa habilidade?

Dulce: Deve-se recorrer ao nosso repertório de comportamentos produtivos e de resultados positivos. Demos desenvolver e a praticar uma atitude que deu certo. Significa prestar atenção em comportamentos que tiveram resultados positivos e usá-los novamente, de maneira inteligente. Isso ajuda a evitar conflitos e a desenvolver a capacidade de lidar com problemas.

Portal: Como aplicamos esse conceito na carreira?

Cristina: A aplicação da resiliência está ligada, como observamos, à resolução de problemas, à capacidade de lidar com os fatores estressantes ao redor. No mundo corporativo, ser resiliente é importante para achar soluções, responder a crises, saber se relacionar com o outro; e, sobretudo, desenvolver autocontrole, ser l íder de você mesmo.

Portal: Na prática profissional, quais os principais ganhos ao se desenvolver essa habilidade?

Cristina: Os ganhos podem estar relacionados à obtenção de melhores resultados com o menor desgaste possível e com a maior rapidez. O grande ganho é esse: conjugação entre agilidade e eficácia na solução de problemas.

Portal: Pode-se dizer que o condicionamento psicológico mostra-se cada vez mais decisivo ao rendimento profissional?

Cristina: Você rende muito mais quando não perde tempo com reações de autodesgaste. Por exemplo, o com tempo que eu gasto reclamando da tarefa que o meu chefe passou, eu já tinha começado a tarefa. Quanto maior o nível de soluções, maior é o espaço que as pessoas têm para inovar.

Portal: Que outros atributos psicológicos são valorizados pelo mercado?

Cristina: Resiliência é a palavra da vez, mas é importante a pessoa ter foco em resultado, capacidade de liderança e ser multitarefas. Todos esses são comportamentos do psicológico aplicados na prática.

Portal: Na busca da resiliência, quais os principais inimigos?

Cristina: O ser humano gosta muito de reclamar dos outros e apontar culpados. Nunca aceitam a responsabilidade da culpa. Isso causa um estresse geral, principalmente no ambiente de trabalho.

Portal: Que situações negativas devem ser evitadas na rotina de trabalho?

Cristina: O principal é a mania de criar novelinha em cima das coisas, ou seja, não saber separar os fatos daquilo que é fantasia na nossa cabeça. O ideal é simplificar as situações e não criar problemas. Pois isso atrapalha o nosso modelo mental e dificulta a busca por soluções. Existe um pré-juízo e um pré-julgamento das pessoas e dos acontecimentos, o que dificulta a manter o foco e enxergar a realidade.