"Desistir não é uma opção". O bordão poderia ser extraído de uma das incontáveis viradas do bicampeão olímpico vòlei brasileiro, mas dessa vez o mantra do técnico Bernardinho tinha outro endereço. Como se levassem a orientação à risca, quase 300 estudantes lotavam os corredores do auditório do RDC, na quarta-feira à noite, para ouvir as histórias do papa-títulos. Pareciam hipnotizados pelos conselhos, no estilo autoajuda,  disparados pelo treinador, convidado para fechar a rodada de palestras O ciclo de uma ideia, em comemoração aos 18 anos da Empresa Júnior PUC-Rio. O discurso de quase uma hora, seguido de um bate-bola de perguntas e respostas com a plateia, combinou esporte e motivação como uma receita para alcançar objetivos profissionais.

Formado em economia pela PUC-Rio, Bernardo Rocha de Rezende diz aplicar o conteúdo adquirido na graduação, seja nos raciocínios lógicos, nas quadras, ou nos números com que lida diariamente. Para o técnico da seleção de vôlei, “a vontade de se preparar tem que ser maior do que a vontade de vencer”.

Lançado em 2006, o livro Transformando suor em ouro desdobra-se na palestra com o sugestivo nome de Excelência, em que o profissional bem-sucedido, cuja liderança é admirada até fora das quadras, desfia frases motivacionais acompanhadas de exemplos cotidianos. Com a habilidade de quem está habituado a grandes públicos, Bernardinho contou bastidores da rotina de treinos, jogos, pressões, frustrações e, claro, muitas recompensas. Falou com bom humor sobre o temperamento marcado pela obstinação.  

Acostumado desde pequeno com perdas e vitórias, o técnico, dono de mais de 30 títulos no currículo, alertou sobre o risco de o sucesso levar à acomodação. Um perigo, segundo ele, intensificado pelo "efeito da mídia nos atletas":

– Sabe aquele centroavante que marca três gols em uma só partida, sai em todas as manchetes e nos outros jogos do campeonato não faz nada? Então, esse será sempre reserva – exemplificou.

Expressões como "um líder é aquele que não permite transgressões", "eles não jogam vôlei, eles defendem uma causa", "inconformismo é o que nos move" e "sou mais que um treinador, sou gestor de pessoas" levantavam a bola para a feição emprendedora do treinador. Atenta às dicas que volta e meia assumiam uma dicção de autoajuda, Victoria Magalhães, estudante de Administração na PUC-Rio, considera que "esse é o segredo" do êxito profissional de Bernardinho:

– Ele administra e escolhe pessoas, isso é fundamental para o sucesso. Empreendedor é aquele que dá inicio a uma organização, e ele não é nada diferente disso. Aliás, faz parte do processo inteiro – elogia a aluna.