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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Cidade

Vila Olímpica da Maré é destaque no exterior

Mariana Totino - Do Portal

30/09/2013

 Reprodução

Universidade de Yale, uma das principais instituições de ensino superior dos Estados Unidos, vai receber integrantes do complexo sociodesportivo da Vila Olímpica da Maré (VOM) para uma palestra sobre os projetos educativos que desenvolvem. É a primeira vez que o trabalho é apresentado formalmente no exterior, mas a ligação com estudantes estrangeiros vêm desde 2009, por meio de um programa de intercâmbio mediado pela PUC-Rio. Na sexta-feira 8 de outubro, a coordenadora de cultura e educação Sandra Garcia estará na universidade americana para divulgar o projeto para que mais estudantes estrangeiros visitem a Vila Olímpica.

– Quando nos convidaram para ir a Yale e a Princeton, pensei no que teríamos de tão interessante para mostrar. Em como, mesmo com tantas precariedades, ainda conseguimos ter destaque – afirma Sandra, coordenadora do projeto há quase 15 anos.

Beatriz Garcia, aluna de Jornalismo na PUC-Rio, vai acompanhar a visita a Yale. Voluntária da Vila, ela costuma auxiliar na tradução do inglês e do espanhol nas visitas de estrangeiros. Desta vez, vai auxiliar Sandra, sua mãe, como tradutora e intérprete, e fazendo o registro jornalístico para o jornal da Vila Olímpica.

– Eu me sinto lisonjeada. É uma oportunidade única estar lá nesta posição, por esta causa. Estou muito feliz e ao mesmo tempo orgulhosa de ver o reconhecimento de todo o trabalho que minha mãe realiza. É sinal de que o mundo todo reconhece – ressalta Beatriz.

Grupos de universitários brasileiros também visitam o projeto, mas desde 2009 os estrangeiros são maioria. Em julho passado, alunos de Princeton e Yale estiveram no local (foto). Os intercambistas que demonstram interesse em conhecer a comunidade são em maioria alunos que estudam a sociedade latina, com enfoque em comunidades carentes e, quando vêm ao Brasil, quase sempre exercem trabalho voluntário, participando de oficinas e outras atividades. Divididos em grupos, frequentam a comunidade ao longo de 20 dias, e muitas vezes reagem com estranhamento a certos hábitos de uma realidade tão diferente da que vivem.

– Um americano se espantou porque uma mãe levava também ao projeto o filho de uma vizinha, sem cobrar por isso – conta Sandra.

Citando Carlos Drummond de Andrade, Sandra diz que “de tudo fica um pouco”, ou seja, os visitantes ao mesmo tempo aprendem, ensinam e compartilham. Ela dá como exemplo um aluno de Yale que frequentou a vila por três meses, ensinou música e participou de um festival de black music. Três brasileiros saíram da Maré para fazer um curso no instituto de artes CalArts, na Califórnia, com recursos levantados pela Vila. Outra ex-aluna da Vila Olímpica passou no teste para o Balé Bolshoi de Joinville (SC), cursou faculdade de dança e hoje dá aulas para crianças.

Os recursos restritos, conseguidos por meio de patrocínio, dificultam a ida de mais alunos da Vila para o exterior. A parte esportiva e a administração da Vila são custeadas pela Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura, mas outros projetos precisam de patrocinadores. A Petrobras aprovou, por exemplo, um projeto de nutrição que distribui lanches a 350 alunos da vila que vivem em risco social.

Apesar de ter o esporte como principal foco, a Vila Olímpica oferece oficinas de dança, música e educação. A metodologia é baseada nas oito inteligências de Howard Gardner (corporal, linguística, musical, interpessoal, matemática, espacial e naturalista), estimulando o desenvolvimento de habilidades específicas identificadas em cada criança.

– Desenvolvemos inteligências. Buscamos promover a interação em meio a diversidade – afirma Sandra.

São 5.100 crianças inscritas, 38 mil atendimentos por mês e duas aulas por semana em cada oficina. Há parceria com escolas municipais, para que crianças matriculadas frequentem o local no contraturno das aulas escolares. Espera-se que pelo menos 100 crianças possam diariamente complementar a rotina escolar com atividades na Vila. Assim como ampliar o atendimento a idosos, como as avós que levam os netos e poderiam ter melhor saúde com a prática de atividade física. Há o sonho ainda de ampliar a biblioteca, que funciona de forma improvisada, embaixo da arquibancada do ginásio, onde linhas de fita adesiva delimitam o espaço destinado a cada prática esportiva.

Mas uma das maiores aspirações para o local é desenvolver na Maré um projeto ambiental, em uma área livre de 80 mil metros quadrados.

– Quando subimos um degrau, não queremos mais parar. Engenheiros ambientais ainda não nos olharam. Imagina se pudéssemos nos tornar uma espécie de Inhotim da Maré – sonha Sandra, contando que um pau-brasil plantado na sede floresceu e teve a foto foi compartilhada pelo Facebook.  

O Complexo da Maré é a segunda maior favela do Rio, menor apenas que a Rocinha, e composto por 16 comunidades ainda não pacificadas. Para Sandra, apesar de ser conhecido, inclusive internacionalmente, como um lugar violento, trabalhar lá não é uma tarefa fácil.

– É uma luta diária. Crianças que moram em determinadas comunidades têm que sair da escola uma hora antes, por ordem de facções locais.

Roteiros culturais personalizados em intercâmbios

Segundo o coordenador da Coordenação Central de Cooperação Internacional da PUC-Rio, Daniel Castro, este ano mais de 200 estudantes de universidades como as de Boston, Columbia, Montreal e Princeton participaram de programas de intercâmbio customizados, de curta-duração. Estes programas são criados especificamente de acordo com as demandas de cada grupo. Há alunos que ficam um ano como alunos regulares da PUC e outros que fazem programas específicos. A coordenação indica pontos de visitação como a Vila Olímpica.

O programa dura de uma semana a um mês, nos meses de janeiro e fevereiro ou julho. Inclui atividades como visitas culturais, aula de português, palestras que podem ser sobre cultura latina, sulamericana ou brasileira, economia, sociologia, política, recursos naturais ou meio ambiente. Os jovens se hospedam em casas de família ou hotéis.

Por meio da parceria com a PUC-Rio, a Vila Olímpica da Maré também recebe estagiários da universidade, de cursos como Biologia, Física, Matemática e Pedagogia, que conforme se adaptam são efetivados e permanecem como professores.