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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cultura

O desafio de superar perdas e fazer o show continuar

Marcelo Elizardo* - Da sala de aula

09/09/2013

 Marcelo Elizardo

A morte do músico Luiz Carlos Leão Duarte Junior, o Champignon, vocalista do grupo A Banca, ex-Charlie Brown Jr., na última segunda-feira, trouxe novamente o tema de como alguns grupos enfrentam a perda de um integrante. A banda tentava se reestruturar após a morte do vocalista Chorão, em março deste ano. Agora, com a nova perda, o futuro é ainda mais incerto. Em junho, Champignon concedeu entrevista ao Portal comentando a morte do amigo Chorão. Na ocasião, o grupo – formado pelo baixista Champignon, pelo baterista Bruno Graveto e pelos guitarristas Marcão Britto e Thiago Castanho – se reuniu e decidiu seguir na estrada. Champignon acreditava que o carinho dos fãs com o grupo iria ajudar na reestruturação da banda:

– O Charlie Brown Jr. é uma unidade de vida. Não são só as músicas, mas uma maneira de pensar, de andar e de se vestir. Isso tem a ver com skate, que foi o que o Chorão trouxe. Então viam o Charlie Brown como um todo. Acho que isso facilita para a gente continuar. Por causa do público pedindo que a gente não pare, mandando e-mails, falando na internet, a gente tomou essa decisão de continuar. Acredito que o próprio Chorão esteja feliz de ver a gente continuar um legado que ele fez junto com a gente – declarou.

O grupo, rebatizado de A Banca, iria lançar em setembro o último disco do Charlie Brown Jr., La Familia 13, gravado com o vocalista Chorão. A banda realizava uma turnê em homenagem ao ex-líder pelo Brasil, com a participação da baixista Lena Papini, amiga do grupo e que já tocava em outros grupos de Santos, no litoral paulista, como o Mecanika.

– Nós somos a banca do Charlie Brown. Eternizamos o nome em homenagem ao Chorão, porque não imaginamos o Charlie Brown sem ele – explicou Champignon.

Champignon e Marcão chegaram a sair da banda em 2005. O grupo voltou à formação original em 2011, após pedidos de fãs pela volta da dupla. O baterista Renato Pelado, que iniciou carreira com o Charlie Brown em 1992, não retornou.

Barão, Titãs e outros grupos se refizeram após perdas

A professora Aline Rochedo, especialista em rock brasileiro, acredita que a ausência de um membro sempre desestrutura um grupo:

– Principalmente quando se trata de um líder ou um letrista de carisma. Uma banda por si já é o coletivo, mas nem sempre esse coletivo é reconhecido pelos fãs. Há casos em que um integrante é projetado como representante da banda, como aquele que expressa sua essência. E este processo é legitimado pelos fãs – explica a professora.

No entanto, além do Charlie Brown Jr., outras bandas já se reformularam no Brasil após a saída de um integrante. O exemplo mais famoso é o de Roberto Frejat, que assumiu os vocais do Barão Vermelho após a saída de Cazuza em 1990.

– Cazuza foi um grande parceiro, inesquecível. Um aprendizado. Uma lembrança de amigo querido. Toda hora me faz lembrar ele. Foi tudo muito intenso – conta Frejat, que começou como guitarrista da banda.

O ex-baterista do O Rappa Marcelo Yuka ficou paraplégico em 2000, após ser baleado ao tentar evitar um assalto na Tijuca, Zona Norte do Rio. Ele foi um dos fundadores da banda e compositor de sucessos como Minha alma e O Que Sobrou do Céu. Com Yuka impossibilitado de tocar e fazer turnês, o músico deixou a banda, hoje composta por Marcelo Falcão, Marcelo Lobato e Cléber Sena. Falcão era amigo de Chorão e de Champignon, a quem confortou quando perdeu o parceiro:

– De seis, sete anos para cá, estávamos muito amigos. Uma semana antes de Chorão morrer ele me ligou. Era um cara divertido, engraçado. E contar história triste do Chorão não vai rolar, comigo ele sempre foi uma pessoa maneira – lembrou o líder do O Rappa.

Marcão, guitarrista de A Banca, agradece a solidariedade de colegas:

– Recebemos apoio de amigos como o Digão (Raimundos), Dinho Ouro Preto (Capital Inicial) e Falcão (O Rappa), vários artistas que são “brothers” nossos e com quem cultivamos uma amizade verdadeira, que não é só uma coisa de palco. Eles tiveram esse carinho de ligar e falar: “Vocês não podem parar. Força agora”. Isso foi um grande apoio para a gente.

Os Raimundos também já precisaram trocar de vocalista. Rodolfo Abrantes deixou a banda em 2001, ao se converter à religião evangélica, após gravar seis discos com a banda, entre eles o bem-sucedido Lavô Tá Novo, lançado em 1995. Assim como no Barão Vermelho, o guitarrista dos Raimundos assumiu os vocais: Digão está na função até hoje.

– A primeira pessoa da música que a gente encontrou após a saída do Rodolfo foi justamente Roberto Frejat. E ele falou para o Digão: “Só não tenta copiar. Faz do teu jeito” – explica Fred, ex-baterista da banda. 

Se a saída de um vocalista já impõe dificuldades para uma banda continuar, no caso dos Titãs, dois dos fundadores e vocalistas deixaram a banda para seguir carreira solo: Arnaldo Antunes e Nando Reis, que também tocava baixo. Na sua trajetória, o grupo também conviveu com a morte de um integrante. Em 2001, o guitarrista Marcelo Fromer morreu atropelado por uma moto em São Paulo. O grupo hoje segue carreira como quinteto, formado por Branco Melo, Paulo Miklos, Sérgio Britto, Tony Belotto e Mario Fabre – os três primeiros desde a formação da banda, em 1982.

* Reportagem produzida para a disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso em junho de 2013.