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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Economia

Etiqueta e boa impressão valem ponto nos processos seletivos

Igor Novello - Do Portal

21/08/2013

 Arte: Nicolau Galvão

Os processos seletivos organizados por empresas mobilizam milhares de jovens que querem ingressar no mercado de trabalho, seja por meio de estágio, programas de trainee ou empregos. Com o alto grau de competitividade, todos procuram se diferenciar de alguma forma para conseguir trabalhar na área de interesse, e a busca por dicas se intensifica. Segundo especialistas que atuam na seleção de candidatos, além da capacidade técnica, a etiqueta, que envolve postura e aparência, é fundamental. Critérios como a primeira impressão, o perfil nas redes sociais e o conhecimento sobre a empresa também são analisados. 

A especialização técnica do candidato é apontada como fator determinante na escolha. Porém, segundo a analista de recursos humanos Priscila Fernandes, que trabalha para o Grupo Personale, só a qualificação não atende à necessidade das empresas. Hoje são inúmeros os casos de demissões por conta do mau comportamento de empregados em ambiente de trabalho. Por isso, os bons modos se tornam imprescindíveis para quem deseja ser selecionado:

– A postura profissional é importante. Sabemos que muitas demissões ocorrem devido ao comportamento no ambiente de trabalho. Com isso, mesmo que a pessoa seja qualificada, a análise da postura na entrevista é um diferencial no momento de escolha.

A analista de recursos humanos da SulAmérica Seguros, Previdências e Investimentos Dayane Gomes, resume como funciona a seleção dos candidatos e quais características as empresas esperam encontrar entre os concorrentes que disputam as vagas oferecidas:

– As empresas atualmente praticam o recrutamento e seleção por competências; focamos o comportamental, associado à capacidade técnica. O técnico se aprende, se ensina. Já o comportamental acompanha a pessoa desde sempre, e dificilmente será mudado. As empresas buscam pessoas com determinados comportamentos para determinadas vagas, mas alguns comportamentos estarão presentes em qualquer posição, como boa comunicação, segurança, simpatia, maturidade. O uso correto do português, uma boa vestimenta e o senso de análise sempre serão avaliados, em qualquer posição. É importante também que o candidato avalie sempre a história da empresa, a cultura, missão e visão.

Dayane lembra que cada cargo tem sua especificidade. Por isso, tanto a etiqueta como a qualificação do candidato podem ter pesos diferentes na hora da escolha para a vaga:

– Tudo depende da vaga e do recrutador. Para ocupar um cargo o candidato precisa atender alguns requisitos, e nem sempre um candidato atende a todos; logo, balanceamos as características apresentadas pelo concorrente e as exigidas pela empresa.

A aparência também é levada em conta na avaliação. Dayane ressalta que as empresas não podem demitir um funcionário que apareça com um corte de cabelo novo, um piercing ou uma tatuagem. O direito é do empregado, e o contratante não pode interferir nisso. Mas, no mercado de trabalho, Priscila diz que todo cuidado é pouco com roupas chamativas, cortes de cabelo alternativos, tatuagens e piercings em partes expostas do corpo:

– Algumas empresas são mais tradicionais, e a aparência pode ser determinante na seleção. É importante avaliar o clima organizacional de cada empresa em particular, considerando que cada uma tem uma visão diferente e relativa quanto à questão da aparência dos funcionários. Portanto, é difícil generalizar. A flexibilidade em relação a isso vai de acordo com o perfil da empresa contratante.

 Arquivo pessoal O estudante de economia Vítor Ximenes, 19 anos, que estagia na Cemec (Centro de Estudos de Mercado de Capitais), acredita que muitas empresas estão se adaptando aos novos tempos e diminuindo suas exigências em relação à imagem dos funcionários. Mas acredita que o candidato deve se adequar à imagem da empresa:

– Mas devemos nos adaptar ao ambiente onde trabalhamos. Eu faria qualquer mudança na aparência que fosse necessária, devido às normas da empresa.

Outro fator que muitos dizem ter caráter decisivo na seleção é a primeira impressão que o candidato passa. Para Dayane, o que é passado no primeiro encontro é relevante, porém não é tudo:

– O primeiro contato impressiona, direciona, mas temos que levar em conta também o desenvolvimento da entrevista, quando temos chance de fazê-lo.

 Arquivo pessoal Na opinião do estudante de comunicação social da PUC-Rio Luciano Giambiagi, 19 anos, que estagia no portal noticioso Esporte Interativo, a primeira impressão determina se o candidato continuará ou não no processo seletivo:

– No caso da entrevista de trabalho, você só vai ter aquela oportunidade para mostrar quem é. Se o entrevistador tiver uma má impressão, com certeza não vai chamá-lo para a próxima fase.

Redes sociais também integram avaliação

Em um cenário em que as tecnologias cada vez mais fazem parte do cotidiano, com a ampliação do uso de redes sociais, algumas empresas já têm o hábito de verificar os perfis virtuais dos que participam do processo seletivo. Para Priscila, a análise desses perfis virtuais é válida. De acordo com a analista, essas ferramentas são importantes pois podem confirmar ou não a opinião do recrutador sobre o candidato. As redes sociais, portanto, se tornam mais um tipo de avaliação, já que o que é compartilhado no mundo virtual por uma pessoa pode, sim, ser compartilhado também no mundo real.

Dayane acrescenta que as empresas que trabalham com redes sociais têm maior tendência de checar essas ferramentas. A verificação ocorrerá, então, dependendo da cultura da empresa. Particularmente, entretanto, a analista considera a avaliação virtual “um tanto delicada”, na medida em que se trata da vida pessoal do candidato. O estudante Luciano lembra, por exemplo, que muitas pessoas não controlam o que postam nas redes sociais:

– As redes sociais são um ambiente mais descontraído. As pessoas têm que ter bom senso, têm que saber que existe um limite. Mas eu não fico controlando tudo o que posto, e sei que muitos também não.

Há quem, à procura de emprego, se preocupe com o que já postou e chegue a tirar frases ou fotos postadas com o receio de comprometer a própria imagem. O jovem Vítor, por exemplo, é um dos que usam as redes sociais com mais cautela:

– No mundo globalizado de hoje, em que todos são “amigos” na internet, devemos pensar duas vezes antes de divulgar ou postar coisas que possam nos deixar em situação constrangedora com nossos chefes.

Especialistas dão dicas

Por mais que o candidato tenha boa capacitação técnica e apresente boa postura e aparência tanto na vida real como na vida virtual, a garantia de emprego não é certa. Todo concorrente que deseja conquistar uma vaga deve, além de se preocupar com o perfil individual, entender e se adequar ao perfil da empresa:

– Pesquise sobre a empresa, sobre os colaboradores, seu ambiente de trabalho, suas políticas organizacionais e de atuação no mercado. Com essa análise, ficara mais fácil de compreender o perfil de profissional que a empresa está buscando – aconselha Priscila.

 Giovanni Sanfilippo Em palestra pela empresa Vero Talentos durante a Mostra PUC, semana passada, o diretor-executivo Marc Olivero acrescentou que um diferencial no currículo, como trabalho voluntário e intercâmbio, facilitam na procura por emprego:

– Expor-se, viver novas experiências profissionais, fazer um trabalho voluntário e vivenciar coisas que a universidade não proporciona é importante para o futuro profissional de cada um, pois somos os únicos responsáveis por isso. Entrar na faculdade significa estar em transição para o mercado de trabalho e, quando mais cedo isso acontecer, melhor, pois a dificuldade de entrar no mercado está cada vez maior, a competitividade e a procura tendem aumentar.

“Sucesso na faculdade não garante o sucesso no mercado”

Segundo Olivero, o desempenho na faculdade é importante, mas não é o suficiente. Para ele, nem sempre o aluno que tira dez em todas as disciplinas consegue desenvolver outras habilidades importantes, porque o ensino proporcionado pela universidade é consideravelmente diferente do que o mercado exige.

Olivero também apresentou as diferenças entre a universidade e o mercado, lembrando que, na universidade, os estudantes têm um ensino orientado pelo professor em um ambiente estruturado, e a única obrigação é fazer provas, enquanto no mercado de trabalho o que está em jogo é o autodesenvolvimento; as tarefas são múltiplas; e o ambiente de trabalho, imprevisível e caótico:

– Um professor não muda a matéria da prova em cima da hora, os alunos não aceitariam tal coisa. Em uma empresa, o seu chefe pode mudar de decisão a qualquer hora, e os funcionários precisam lidar com isso. Muitas vezes um trabalho todo planejado sofre alterações e precisa ser mudado rapidamente – afirma Marc, que diz já ter passado por experiências semelhantes ao longo da carreira.

Primeiro estágio: quanto mais cedo melhor?

Para os estudantes de nível superior, a partir de certo momento a palavra estágio começa a ser mais pronunciada nas conversas. Contudo, muitos têm receio de começar nos primeiros períodos. A justificativa é sempre a mesma: não ter o conhecimento necessário, devido ao pouco tempo de estudo, para exercer funções que lhe seriam atribuídas no trabalho. O estudante Luciano era um dos que pensavam assim, porém, quando teve a oportunidade de estagiar, mesmo estando no terceiro período, encarou:

– Eu pensava em estagiar apenas no quarto período, fiquei receoso em relação a trabalhar antes disso, mas tive a oportunidade e me joguei. Hoje, não me arrependo nem um pouco disso e acho que fui muito feliz. Adiantei seis meses da minha vida. Não tem problema entrar sem muito conhecimento, você vai aprender lá. É só ter vontade de aprender as coisas, ser proativo.

A estudante de engenharia da UFRJ Gabriela Espozel, 19 anos, que estagia na Fluxo Consultoria, também começou a trabalhar cedo – terceiro período –, e, com isso, afirma que o receio deve ser deixado de lado, pois a experiência profissional é diferente do que é passado na faculdade:

– O conhecimento prático é muito diferente e bem mais agregador do que o conhecimento passado em sala de aula e ter que fazer algo para o trabalho é uma grande motivação para a pessoa aprender sobre o assunto. Com vontade, é possível organizar o tempo para trabalhar, estudar e se divertir, tudo com certa moderação.