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Rio de Janeiro, 23 de abril de 2024


Economia

BlackBerry aposta em parceria com a PUC-Rio

Júlia Cople - Do Portal

15/08/2013

 Rodrigo Soldon

Em busca de antídotos para contornar a crise que deflagrou até a alternativa de venda da companhia, a BlackBerry intensifica convênios com universidades brasileiras e projeta expansão no mercado-latino americano. A empresa canadense inaugurou, quinta-feira passada (8), o quarto centro tecnológico (Tech Center) no país, em parceria com o Laboratório de Engenharia de Software da PUC-Rio. A novidade integra o Blackberry Academic Program (Programa Acadêmico da Blackberry), que já contempla unidades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico na Universidade Federal de Alagoas, na Universidade Federal de Pernambuco e na Universidade de São Paulo. Pretende, assim, explorar melhor o crescente mercado de mobilidade digital e lançar seu novo sistema operacional, o BB10.

Com dez bolsistas das áreas de Informática, Design, Engenharia, Comunicação e Administração, o projeto integra o conjunto de ações voltadas para melhorar a competitividade abalada pelo crescimento de concorrentes como Samsung, Apple e Microsoft. O acordo com a PUC-Rio também reflete, em parte, a estratégia do governo canadense de diversificação econômica, para reduzir a influência, ou dependência, do vizinho Estados Unidos.

Coordenador do novo Tech Center, Alex Lucena comemora o primeiro projeto entre a universidade e uma empresa do Canadá. Ele lembra a ligação histórica entre a PUC-Rio e a Universidade de Waterloo, onde fica a sede da BlackBerry:

– Morei no Canadá dois anos e percebi o fluxo de alunos para programas de pós-graduação. Havia um contato prévio, mas, no início deste ano, eles manifestaram o interesse de abrir um Tech Center no campus. Já tínhamos uma área de desenvolvimento de mobile (tecnologia móvel) para outras plataformas, e a BlackBerry estava atenta nesse trabalho diferenciado.

Desde que Apple e Samsung alçaram voo no universo dos smartphones, a BlackBerry viu atrofiar sua participação no mercado de telefonia móvel. Na segunda-feira passada (12), a empresa divulgou a formação de um comitê de executivos para orquestrar a venda da companhia, em uma tentativa de remediar a crise pela qual passa. Embora não tenha sido divulgado oficialmente o valor do investimento total nos centros de tecnologia, sabe-se que a iniciativa faz parte de uma reestruturação interna da empresa e coincide, no jargão do marketing, com o reposicionamento da marca.

– Eles se reposicionaram em termos de CEO (presidente da empresa) e hoje estão saindo da Bolsa, fechando o capital, para voltar a ser uma empresa privada – observa João Paulo Cavalcanti, gerente do Tech Center.

As mudanças articulam-se com a tentativa de diversificação dos negócios canadenses. Lucena ressalta o avanço das conversas entre Canadá e Brasil para "dinamizar acordos". O ministro de Relações Exteriores daquele país, John Baird, que participou da cerimônia de inauguração do centro instalado na PUC-Rio, afirmou que a iniciativa “trará empregos, crescimento e prosperidade para os dois países em mercados internacionais”.

– Eles buscam outros parceiros comerciais. É natural que invistam em países emergentes, onde a demanda interna é reprimida. Além disso, o Brasil, mais especificamente, corresponde a 50% do mercado de compra de TI – justifica Lucena.

Apesar dos levantamentos que indicam um protagonismo tecnológico brasileiro no continente, Lucena ressalva que os recursos aplicados em pesquisas "ainda são inferiores aos observados em países desenvolvidos, inclusive o Canadá". Ele propõe uma visão mais estratégica, de longo prazo, que gerasse mais incentivos para a coordenação de esforços entre empresas, universidades e governos:

– Quase não se pesquisa tecnologia aqui. É muito caro. Também não existe um road map, um planejamento a longo prazo das empresas. Lá fora, os gestores pensam três, cinco anos na frente.

 Rodrigo Soldon A "visão de futiuro" e as iniciativas de vanguarda preconmizadas por Lucena e Cavalcanti reverberam no treinamento dos dez alunos aprovados no Tech Center. A mensagem para os contratados, dizem eles, remete ao empreendedorismo. "A ideia é levar inovações para o mercado, criar empresas a partir desse projeto", empolga-se Lucena.

Por ora, o centro tecnológico concentra-se em identificar problemas do cotidiano cujas soluções estejam em aplicativos para plataformas móveis. É ponto de partida para o desenvolvimento das novas ferramentas tecnológicas. A produção deve começar já no próximo mês.

 

Fabricação no Brasil e lei de incentivo a pesquisas são estratégias para superar concorrência

Na raiz das parcerias tecnologicas da BlackBerry com universidades brasileiras está o novo sistema operacional BB10. Cavalcanti ressalta a importância estratégica:

– O BB10 vem para disputar espaço com iOS, da Apple, e com o Android. Ele é aberto a tecnologias híbridas. A ideia não é crescer de forma acelerada, e sim concorrer por cima, equiparando o produto aos que já estão no mercado há mais tempo. 

Ainda de acordo com Cavalcanti, a parceria com o Tech Center também é estratégica para aumentar a atenção dos desenvolvedores tecnológicos para a marca. Em relação aos consumidores, acrescenta Lucena, o objetivo é transformar o BB10 em um “artigo sexy”, com apelo popular. Ele acredita que, "assim como Steve Jobs trabalhou a vida inteira para alcançar o status da Apple", agora é a vez de a BlackBerry consolidar sua imagem. Para vencer este desafio, Lucena aponta um papel importante do Brasil:

– O país é muito conectado. Aqui a penetração de celulares é absurda. O desafio é migrar essa base de consumidores para smartphones. Nesse cenário, o desenvolvimento tecnológico torna-se um trunfo. 

No caminho para recuperar a competitividade há uma pedra com a qual a BlackBerry tem de confrontar: o aparelho é mais caro do que os concorrentes, o que dificulta a expansão da marca no proeminente mercado dos smartphones – cuja venda, segundo levantamento da Gartner, já ultrapassa a de celulares comuns: 225 milhões de unidades no segundo trimestre do ano, o que corresponde a 51,8% do total. A Samsung continua na liderança, com 31,7% (71,4 milhões), seguida pela Apple, com 14,2% (31,9 milhões), e pela LG, com 5,1% (11,5 milhões). A pesquisa constata também a ultrapassagem da BlackBerry pela Microsoft, com seu sistema Windows Phone.

Lucena reforça que a empresa canadense estuda uma solução para aumentar a competitividade do produto:

– O preço é maior por causa da tributação para importados. Por isso, o próximo passo é começar a fabricar o celular no Brasil. Além disso, existe a Lei do Bem (Lei de Informática, sancionada em 2005), em que a empresa reverte o pagamento de impostos para pesquisas de desenvolvimento. Isso é ótimo, porque podemos expandir nosso projeto, com mais alunos e profissionais.

De acordo com os gestores do Tech Center, apesar do interesse declarado em abrir uma unidade em Minas Gerais, a BlackBerry deve, por enquanto, concentrar suas fichas nos centros já em funcionamento, até os primeiros resultados. A PUC-Rio é a única universidade privada do programa.