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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Economia

Procura por engenharias dobra em 4 anos e confirma expansão

Ingrid Forino e Jana Sampaio - aplicativo - Do Portal

07/02/2014

 Arquivo Portal

A procura crescente pelas habilitações em Engenharia – para onde se dirigiu boa parte dos 250 calouros do Centro Técnico Científico da PUC-Rio no período passado – reflete a revitalização da área no país. Impulsionadas pelo aquecimento dos setores de construção civil e de óleo e gás, as oportunidades nesse segmento atrai quantidade significativa de estudantes. De acordo com a professora de Engenharia Civil da PUC-Rio Michele Casagrande, a quantidade de alunos passou de 200 para 550 em quatro anos. 

A corrida pela capacitação vai ao encontro de um mercado influenciado pela globalização (leia-se, por exemplo, mais concorrência de estrangeiros) e pelas novas tecnologias. Desafios que, no caso das engenharias, se inserem numa busca cada vez mais precoce de empresas por talentos universitários.

Há 13 anos a procura pelas habilitações em Engenharia não para de crescer. Reúnem mais de 500 mil alunos, com quase a metade das vagas ocupadas por calouros, quatro vezes mais do que no início da década. O curso é o segundo mais concorrido, superado só por Administração. A enorme procura ainda não se reflete, contudo, numa mão de obra suficiente para atender às demandas do crescimento econômico: menos da metade dos estudantes concluem o curso, o que gera déficit de 45 mil formandos contra a necessidade de 70 mil novos profissionais.

Uma parcela expressiva dessa demanda concentra-se no segmento de construção civil, que só em 2010 cresceu cerca de 11% e deve fechar o ano, apesar do freio na economia, com um avanço em torno de 4%. Para a professora Michele, o "bom momento do mercado" – refletido, por exemplo, nas obras no Rio – e a percepção de retorno ao inventimento na qualificação profissional – "que beira o pleno emprego" – justificam o interesse exponencial pelas engenharias. 

  Divulgação  – Não temos nenhum caso de aluno nosso que esteja desempregado. Tem estágio sobrando – reitera Michele – Com as Olimpíadas e a Copa do Mundo, as grandes obras aquecem o mercado de trabalho. Há quatro anos, tínhamos 200 alunos de todos os períodos no curso e agora estamos com mais de 550 alunos, uma alta significativa em relativamente pouco de tempo.

O coordenador do curso de Engenharia Mecânica da PUC-Rio, Marcelo Dreux, completa:

– As obras do metrô e dos eventos esportivos que o Brasil sediará ajudam a manter o mercado aquecido e são fatores influenciadores na escolha da profissão pelos universitários.

Como forma de se destacar num mercado, embora aquecido, cercado de mais exigências, cresce também a procura por especialização e cursos de mestrado. Tanto alunos quanto empresas investem nessa qualificação. Dreux lembra que "a boa formação" é, invariavelmente, o caminho para o profissional adaptar-se às novas tecnologias e oportunidades:

– A PUC-Rio tem a grande vantagem de investir pesado no ciclo básico, no qual há uma formação de física e cálculo muito forte. O aluno reclama, mas não há por que mudar. Já a ponta do curso pode variar com o tempo. Com uma melhor formação de base, é mais fácil se ajustar às novas tecnologias  – argumenta Dreux – Outro ponto importante para a formação é o diálogo com o mercado. Procuramos também chamar profissionais do mercado de trabalho para coisas específicas, como a Petrobras – acrescenta.

Além da construção civil, o setor de óleo e gás também movimenta oportunidades para os jovens talentos das engenharias. O pré-sal gerou 25 mil empregos diretos e cerca de 70 mil indiretos. O coordenador do curso de Engenharia de Petróleo da PUC-Rio, Arthur Braga, reconhece a expansão, mas ressalva que o mercado ainda carece de profissionais qualificados:

– Por ser um setor (o de óleo e gás) que emprega engenheiros de outras especialidades, e devido também à complexidade do curso, muitos alunos optam por outras áreas, mesmo que queiram trabalhar com petróleo. O mercado precisa de profissionais formados na área, com uma qualificação mais específica – reforça o professor.

 Jana Sampaio De olho nesta capacitação, e nas portas por ela abertas, Breno Augusto, de 18 anos, decidiu optar pela Engenharia de Petróleo na PUC-Rio. Ele diz que a "facilidade com as disciplinas exatas e a aptidão para o curso" sustentaram também a decisão, tomada depois de uma pesquisa de mercado em que o piso salarial e as oportunidades de estágio revelaram-se decisivos.

– Sempre soube a área da engenharia que queria seguir, e aproveitei o bom momento do mercado, em expansão e precisando de mão de obra, para tomar essa decisão – justifica.

Beatriz Borges, 20 anos, reforça o time dos que apostam no jorro de bons empregos decorrentes do avanço do setor de engenharia de óleo e gás.

– Ainda não sei o que me espera, pois escolhi o curso mais por gostar das áreas referentes às ciências exatas do que por uma pesquisa de mercado. Mas estou bastante animada com as perspectivas da carreira.

Já Paula Brandão optou por Engenharia Química. Ela conta que, mesmo sem a pujança dos setores de óleo e gás e de construção civil, a oferta de empregos e o retorno financeiro para o engenheiro químico são atraentes. E "foram cruciais" para superar a "concorrência" de Arquitetura, Publicidade e das Artes Cênicas:

– O curso de arquitetura está saturado e a publicidade é um mercado mais restrito, no qual o profissional precisa de muitos contatos – compara – A expansão do mercado de trabalho [associado à química] influenciou muito na hora de escolher meu curso, inclusive por causa do salário.

 Jana Sampaio O curso de Química propriamente dito divide, com o de Sistema da Informação, a lanterna do ranking de procura entre as opções do CTC. Apesar do reconhecimento conquistado e de um setor industrial aquecido, o bacharelado em Química e os profissionais dessa indústria perdem espaço para o engenheiro químico. Paula lembra que este cenário pesou na sua escolha:

– Pelo que pesquisei, o curso de Química Industrial da UFF corria o risco de encerrar as atividades em razão da baixa procura. O status engenheiro pesa muito na hora de contratar, e essa concorrência faz com que muitos profissionais da área de química percam oportunidades – avalia.

Mesmo atuando em áreas diferentes, profissionais de química e engenheiros químicos, muitas vezes, disputam as mesmas vagas. Embora estudo da Associação Brasileira de Química (Abiquim) indique que a indústria vai precisar, até 2020, de 200 mil a 300 mil profissionais formados – em nível técnico, superior e pós-graduação –, o setor ainda atrai poucos estudantes. Muitos universitários preterem o bacharelado por saberem que "suas" vagas podem ser destinadas a profissionais que cursaram engenharia. 

Outro curso que perde terreno para vizinhos de CTC é o de Sistema de Informação. Álvaro Balbi, 22 anos, explica por que optou pela Ciência da Computação em vez de Sistema de Informação:

 – Quero trabalhar no mercado de animação. Assim, as matérias do curso de Ciência da Computação me darão mais base para iniciar no mercado.