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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Uma carona nas janelas para o mundo de Sebastião Salgado

Brenda Baez - aplicativo - Do Portal

22/08/2013

 Brenda Baez

Embarcar numa travessia planetária pela lente de Sebastião Salgado é sempre uma oportunidade enriquecedora, cujo encanto se perfuma ainda mais num cenário como as alamedas do Jardim Botânico carioca. Na semana passada, o programa recebeu o reforço do diretor de fotografia e professor de cinema da PUC-Rio Marcelo Taranto. A convite do Portal, Tarando ciceroneou a visita à exposição mundial do fotógrafo no Rio. Gênesis reúne 245 imagens em preto e branco que retratam natureza, animais e povos indígenas de regiões remotas do planeta. Mas, no olhar do cineasta, o que se vê, a princípio, é a reconhecida busca de Salgado por forma, textura e perspectiva. "Antes de percebermos o que cada figura significa, vemos um encontro de forma, textura e perspectiva”, ressalta.

Neste terceiro projeto de longo prazo financiando pela Vale, Salgado viajou durante oito anos com sua mulher, e curadora da mostra, Lélia Wanick, para reunir todo o material. Organizada em cinco seções de acordo com os ecossistemas clicados – Planeta Sul, Santuários, África, Terras do Norte e Amazônia e Pantanal –, a mostra já recebeu quase 72 mil visitantes, desde maio, e fica no Rio até o próximo domingo (25). No passeio com o cineasta convidado, Taranto observa para a repórter – e para os visitantes que se juntaram à dupla, atraídos pelas apreciações do professor – a "contrariedade" intrínseca no registro de objetos, cenas, personagens "primitivos":

– O projeto busca as origens, fugindo da contemporaneidade, mas, ao mesmo tempo, utiliza um instrumento pós-moderno para registrar dois índios selvagens – exemplifica, referindo-se à foto de dois índios do Deserto Kalahari.

Depois das duas horas mergulhadas nas imagens reflexivas, não raramente desconcertantes, de Sebastião Salgado sob a visão de Marcelo Taranto, e sob a luz generosa do inverno carioca, o Portal seleciona abaixo algumas das impressões do cineasta:   


  
"Em um primeiro momento, é difícil perceber que se trata da pata de um animal, mais especificamente de uma iguana. A princípio, parece ser uma planta exótica e suas raízes. Consigo ver sobretudo um elemento de forma, textura e contraste. Isso é bacana. O contraste resultante do preto e branco é mais abstrato que o trabalho que faz o uso da cor, despertando no observador uma questão mais conceitual, uma visão mais artística da foto".

 

  

"Segundo uma perspectiva artística, é um homem inserido no aspecto natureza, mas sem a existência de uma relação social, ressaltando a questão do isolamento. Eu olho para ele e não sei o que está buscando nessas plantas todas, mas me remete à origem religiosa do mundo, a Adão pensando nas questões de conflito e sobrevivência".

 

 

  

"Por mais que se consiga identificar uma pequena ilha, parece um figurativo de paisagem, um landscape. Além de  Salgado ser um tremendo fotógrafo, a natureza estava bastante favorável. Se ele usou filtro ou não, eu não sei, mas isso não desmereceria a imagem, é apenas uma questão de recurso".

 

 

  


"Antigamente os nobres eram pintados pelos artistas, o que exigia muito tempo. Com a revolução industrial e o enriquecimento da burguesia, as famílias queriam cada vez mais ser registradas, impulsionando o movimento de entrada da fotografia na sociedade. É uma analogia com o surgimento dessa nova arte no mundo".

 

 

 


"A exposição mostra os pontos intocáveis da Terra, e é impressionante como esse iceberg é natural e ao mesmo tempo grandioso, trazendo em si um elemento futurista. Parece um castelo cortado pela erosão, pelo mar e pelo vento".

 

 

 

 

  

"Esse é o tipo de fotografia que conta uma história sem precisar de legenda. É engraçado ver como os conceitos que são básicos entre nós também existem entre eles, o conceito de sociedade e amor".

 

 

 

 


"Esta foto é belíssima! Cria uma ideia de formação da sociedade. O homem se relacionando com os outros, constituindo uma identidade a um grupo de selvagens e, ao mesmo tempo, como na época da pré-história, eles estão tentando fazer fogo, realçando sua importância para a evolução do ser humano. Nesta foto você vê algo muito simbólico. A sensação que eu tenho é de ter algum elemento estético para construir a ideia de estátua, no sentido de ampliar o significado do homem dessa tribo tentando fazer fogo". 

   
"Apesar de não haver relação com o Impressionismo, da mesma forma que Auguste Renoir, Salgado faz da foto uma obra agradável aos olhos, dando importância à forma e retratando as mulheres".

Exposição Gênesis - Sebastião Salgado

Jardim Botânico/Museu do Meio Ambiente: Rua Jardim Botânico, 1.008. Telefone: 2294-6619. Entrada Gratuita.