Paulo Rubens - aplicativo
06/08/2013Que diabo está nos acontecendo que, em pleno gozo de um estado de direito, vemos as polícias em geral, e a PM carioca em particular, agindo com mais grosseria do que nos tempos da ditadura!
Participei das manifestações dos anos 67 e 68 duplamente, quero dizer como liderança estudantil (membro do diretório da Faculdade de Filosofia da UFRJ) e como repórter fotográfico do Correio da Manhã, e não vejo diferença em relação ao modo como age a PM de nossa cidade agora e como agia quando estava instalada no Brasil a mais cruel ditadura de nossa história.
E é terrível, mas explicável, que os profissionais da imagem, fotógrafos e cinegrafistas, sejam sempre “premiados” com mais brutalidade nestas horas em que o poder se vê contestado e exposto pelos protestos populares. Qual a explicação? A imagem exerce enorme impacto e convencimento quando postada na mídia, é a pedra no sapato dos governantes por ser inquestionável. Há cerca de dez dias, na porta do Palácio Guanabara, saíram machucados o fotógrafo da AFP Yasuyoshi Chiba e Marcelo Carnaval, do Globo. Foi chocante ver as imagens do profissional japonês com as mãos levantadas mostrando sua câmera, que deveria ser seu passe como profissional da informação, levando, talvez por isto mesmo, uma saraivada de golpes na cabeça.
Em março de 1968 nosso colega Alberto Jacob, do Jornal do Brasil, foi golpeado, na maior covardia, pelos sabres da cavalaria da PM (sempre a mesma) nas escadarias da Candelária, onde rezava-se a missa de sétimo dia do estudante Edson Luiz, morto durante uma manifestação no restaurante estudantil do Calabouço. Esta lembrança me dói mais porque penso no tanto que tivemos de lutar por uma democracia genuína e, em pleno estado de direito, vemos o facismo com que a PM está atuando nas recentes manifestações e, pior, prioriza na sua brutalidade as clínicas de saúde, os repórteres e a garotada tranquila .
Não é estranho que não vejamos nenhum dos ditos “baderneiros” sendo atingido, preso ou identificado? Não seriam estes “vândalos” confrades da força policial?
O grotesco é que, por mais brutal que fosse a ação da repressão durante a ditadura, não era outra a conduta esperada de quem tinha usurpado o poder ilegalmente pela força das armas. Mas por que esta brutalidade da nossa PM nesses tempos supostamente democráticos? O que quer ocultar o governador Sergio Cabral, o prefeito Eduardo Paes? Será a privatização dos interesses do Estado usando o dinheiro público numa gastança nunca vista para reformar maracanãs aos quais a galera não terá acesso. Que falcatruas a garotada irá desvendar se aguentar a porradaria e tirar da encolha estas aprontações?
* Professor de fotojornalismo da PUC-Rio.
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