Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cidade

No Dia do Voluntariado, gente que se dedica o ano inteiro

Marina Chiarelli* - Do Portal

28/08/2013

 Marina Chiarelli

Um em cada quatro brasileiros com mais de 16 anos, cerca de 35 milhões de pessoas, faz ou já fez algum tipo de trabalho voluntário, de acordo com pesquisa da Rede Brasil Voluntário, realizada pelo Ibope Inteligência. No momento da pesquisa, realizada em 2011, 15 milhões de pessoas exerciam alguma atividade voluntária, enquanto 20 mil declararam já haver exercido. A expectativa é que aumente o voluntariado no Brasil, pois em épocas de eventos internacionais como a recente Jornada Mundial da Juventude (para a qual foram selecionados 60 mil voluntários, sendo 38 mil cariocas), Copa do Mundo e Olimpíadas, o interesse pelo trabalho é maior. Para a Copa das Confederações inscreveram-se 5.652 voluntários, dos quais 39% tinham entre 16 e 25 anos. Nesta quarta-feira, 28 de agosto, quando se comemora o Dia Nacional do Voluntariado, a Pastoral e o Hemorio promovem na PUC uma campanha de doação de sangue.

Além dos grandes eventos, há quem trabalhe voluntariamente o ano todo. O RioVoluntário é uma central de voluntariado e de doações responsável por ligar pessoas que desejam ser voluntárias a quem esteja precisando de ajuda.

– Temos um banco de dados em que constam os interesses e o histórico do voluntário do Rio, e um banco de dados de instituições com as oportunidades que elas oferecem. Fazemos um casamento do desejo do voluntário e a necessidade da instituição – explica a diretora executiva do RioVoluntário, Heloisa Coelho. 

Heloisa constata que o número de interessados que procuram a instituição tem aumentado, e acredita que os grandes eventos têm contribuído para que mais pessoas queiram ser voluntárias.  

– Ter um grande número de pessoas realizando algum serviço voluntário é fundamental para contribuir com uma sociedade mais coesa. Os megaeventos estão capacitando muitos voluntários. O destaque que têm na mídia faz com que mais pessoas se interessem.

Porém, há voluntários que, por iniciativa própria, prestam serviços voluntários durante o ano inteiro. A má condição das escolas e hospitais públicos, a fome ou a falta de agasalho nos períodos de frio são alguns dos problemas recorrentes no país, e a esperança de reverter o quadro de desigualdade faz com que essas pessoas dediquem parte do seu tempo a uma causa social. Segundo a pesquisa, 49% dos voluntários atuam em instituições religiosas, e 25% em instituições de assistência social.

 Arquivo pessoal A estudante de publicidade da PUC-Rio Camila Bertine, de 19 anos, (foto) começou a se interessar pelo trabalho voluntário por motivações religiosas.

– Cresci no ambiente da igreja, e lá aprendi a ser solidária. Foi na igreja também que conheci a ONG Sonhar Acordado e decidi ser voluntária. Acho que qualquer tipo de trabalho voluntário é válido, pois pequenas atitudes podem ser fundamentais para pessoas que precisam de ajuda – conta Camila, que, como integrante do Comitê Organizador da JMJ, no setor de hospedagem, ficou responsável por acomodar peregrinos. Na ONG Sonhar Acordado, a jovem participa de suas festas anuais, a festa Dia do Sonho, no meio do ano e a festa de Natal. Nos dois eventos, os voluntários brincam com as crianças e doam os presentes pedidos em cartinhas ao Papai Noel.

Juliana Taboada, outra jovem voluntária, começou o curso de psicologia no segundo semestre de 2013, e resolveu dedicar o tempo livre das férias a atividades no Hospital da Lagoa, onde sua  mãe já era voluntária. A estudante passa suas tardes de terça e quinta-feira dando assistência a crianças portadoras de leucemia.

– Agora que as aulas começaram, pretendo conciliar o trabalho com a faculdade. Não quero deixar de ser voluntária no hospital. É muito bom dedicar parte do meu tempo às crianças, elas ficam muito mais felizes, e é perceptível o bem que proporcionamos.

Neam, Núcleo de Estudo e Ação Sobre o Menor da PUC-Rio, trabalha com a formação e educação de jovens e adolescentes. Em 2011 foi instalado um Telecentro Comunitário na Rocinha, em parceria com o Ministério das Comunicações e a Fundação Banco do Brasil, com 11 computadores para inclusão digital e acesso dos moradores.

O projeto conta com a ajuda de voluntários para ajudar nas aulas de informática, e para doações de equipamentos. O Telecentro foi só uma das instalações do Neam: no campus da PUC-Rio também há atendimento a jovens carentes. Duas vezes por semana os jovens vêm à PUC para cursos de informática, aulas de arte e oficinas de leitura com auxílio de estudantes voluntários da universidade.

Marina Chiarelli Davison da Silva Coutinho, educador e assistente de direção do Neam, dá aula de informática para os jovens, e acredita que a ajuda dos estudantes é fundamental para o desempenho das crianças na escola.

– Alunos da PUC participam dando aulas de informática para os meninos. No primeiro semestre de 2013 contamos com a ajuda de 30 jovens voluntários, a maioria do curso de engenharia, e essas aulas têm ajudado muito no rendimento dos jovens na escola.

Davison ressalta que o trabalho voluntário precisa ser feito durante o ano inteiro, e lamenta que muitos só se lembrem de colaborar em megaeventos:

– Acho que falta incentivo. Estes eventos internacionais têm muita visibilidade; nos menores, o que conta é a boa vontade das pessoas. Alguns jovens já têm um interesse natural em querer ajudar, mas muitos ainda precisam de uma orientação sobre o trabalho voluntário. A PUC tem incentivado o interesse social dos alunos, com os programas relacionados a ética cristã e a ética profissional, mas as instituições de ensino precisam dar mais orientações.

Afonso Malecha, de 18 anos, Bruna Elia e Mateus Girafa, ambos de 19, são estudantes universitários que se dedicam ao trabalho voluntário por influência do colégio. Os três jovens eram alunos do Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho, e sempre participaram de serviços sociais que a instituição organizava. Afonso e Mateus são coordenadores da oficina de teatro do projeto CPF, Construindo e Preparando o Futuro. O trabalho é feito na cidade de Francisco Badaró, no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.

– Nos meses de janeiro e julho, durante as férias, durante uma semana montamos dois cursos diferentes. No primeiro, permanecemos com os alunos por quatro dias e criamos uma apresentação para o fim da semana. O segundo curso é com os alunos das oficinas de artes, dança e música, em que fazem conosco uma aula introdutória sobre o que é teatro e noções básicas – explica Afonso, que é filho de atores e cuja mãe, professora do Ensino Médio, era responsável pela oficina no Vale do Jequitinhonha antes dele: – O foco do trabalho é reconhecer uma realidade distante e, a partir dela, refletir sobre os avanços e os problemas do Brasil. A experiência da minha mãe me despertou um grande interesse e, quando ela não pôde mais participar, eu e Mateus começamos a ir às reuniões.

Bruna Elia, estudante de história da UFF, dá aula de Literatura Brasileira em um pré-vestibular comunitário no São Vicente de Paulo. O curso é uma preparação do Enem para pessoas que não podem pagar cursinhos particulares – um grupo heterogêneo, de adolescentes a adultos em busca do diploma do Ensino Médio.

– Resolvi dar aulas porque tinha acabado de passar pela pressão do vestibular. Queria passar adiante as dicas dos professores e as instruções de estudo. Claro que não é como um cursinho regular de vestibular. No pré-vestibular comunitário temos muitas discussões livres, e essas discussões têm ajudado os alunos a desenvolverem suas argumentações, o que é fundamental na redação.

A estudante se tornou voluntária quando estudava no colégio, dando aulas de matemática na EJA (Educação de Jovens e Adultos), projeto do governo federal que conta com a ajuda dos estudantes do Ensino Médio. Bruna sabia que, após se formar, não poderia continuar no EJA, então resolveu dar aulas no pré-vestibular.

– Vivemos em um dos países com maior desigualdade social do mundo, e isso é triste. Entretanto, vejo que muitas pessoas querem ajudar a diminuir essa disparidade e não sabem como. Doar bens materiais é uma ideia recorrente e válida, mas creio que não é o suficiente. Acho que o mais importante é trocar ideias, e é isso que o trabalho voluntário oferece: ajuda mútua e convivência harmônica entre pessoas.

O perfil do voluntariado brasileiro

Segundo a pesquisa da Rede Brasil Voluntário, 53% das pessoas que fazem algum trabalho voluntário são mulheres, e 47% são homens. Ao contrário do que muitos pensam, a maioria das voluntárias, 62%, têm filhos e 67% delas são casadas.

A diretora diz perceber uma mudança em relação ao perfil do voluntário no Brasil. Heloisa acredita que o uso da internet e os eventos que estão em alta no país, fizeram com que mais homens e jovens se interessassem pelo serviço voluntário.

– Durante muito tempo foi um público feminino, mulheres produtivas, no mercado de trabalho e com filhos. Mas com as novas tecnologias, o número de homens aumentou, está quase igual ao de mulheres. Hoje em dia é possível ser voluntário através da internet, sem sair de casa, e isso faz com que o público masculino se interesse mais.

A pesquisa do IBOPE Inteligência constatou que o maior número de voluntários pertence a classe C, 43%. 40% dos voluntários são da classe AB e 17% da classe DE. Além disso, entre as pessoas que se dedicam ao trabalho voluntário, 54% fazem o serviço de forma constante, e 46% não tem uma frequência definida.