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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Cultura

Machado rock and roll

José Augusto Martini - Do Portal

23/09/2008

O diretor da TV Globo, Luiz Fernando Carvalho, apresentou no último dia do seminário Machado de Assis (1908-2008) um vídeo com cenas da minissérie Capitu, que estava em pós-produção. A série, uma releitura baseada no clássico "Dom Casmurro”, não pretendia ser uma adaptação, mas sim uma “aproximação”, contou o diretor. O encerramento teve ainda com a presença da professora e especialista em Língua Portuguesa, Cleonice Bernardelli, com o escritor Domício Proença Filho, da Academia Brasileira de Letras (ABL) e com os atores Othon Bastos e Nathalia Timberg, que fizeram uma leitura de textos machadianos.

Por acreditar numa atemporalidade da obra machadiana, Luiz Fernando utilizou elementos modernos para compor a minissérie. Além de referências de mestres cinematográficos como Ingmar Bergman e Luchino Visconti, o diretor buscou na música uma forma de atrair os jovens. “Nessa adaptação pensei muito num Machado rock and roll, para tirá-lo do formol. Ele é moderno”, disse. O diretor acredita que a série vai melhorar a interpretação de Machado para os mais jovens: “a força dramatúrgica de Machado facilita a aproximação”.

Enquanto filmava Capitu, Luiz Fernando se deparou com a necessidade de uma reeducação do espectador. “Meu trabalho dialoga diretamente com as questões educacionais. A TV precisa buscar um princípio mais nobre de formar o cidadão”, explicou o diretor. A tentativa de uma reflexão sobre a educação no Brasil, por meio de uma releitura de um clássico da literatura nacional, deixou Luiz Fernando longe daquilo que descreveu como “uma hegemonia audiovisual”. Para ele, é imprescindível respeitar o leitor individual mesmo numa adaptação de uma obra literária para um veículo de massa.

 O último dia do seminário teve espaço para uma aula de literatura da professora Cleonice Bernardelli. Ela destacou a qualidade dos versos na obra de Machado e criticou o quase desaparecimento do ensino do latim. A surpresa ficou para a revelação do imortal da ABL, Domício Proença, que contou ter sido aluno de Cleonice na faculdade. “Ela me ajudou a reinterpretar Carlos Drummond e com isso manteve meu interesse pelas letras”, falou em tom de agradecimento deixando uma emocionada Cleonice receber o mais longo aplauso do seminário.

O encerramento foi marcado por homenagens ao ator Fernando Torres, que havia falecido na véspera. O diretor do departamento de Letras, Julio Diniz, anunciou a criação do curso de artes cênicas na PUC-Rio e disse que o curso serviria para continuar de alguma forma aquilo que Fernando Torres havia feito tão bem em vida. Nathalia Timberg, que fez uma leitura de textos de Machado, prestou sua homenagem ao falecido ator, enquanto Othon Bastos, dizendo citar um sábio, deu um recado aos jovens presentes: “Analfabeto é aquele que aprende a ler e depois não lê”.