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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Campus

Debate reúne 200 pessoas nos pilotis da PUC-Rio

Rodrigo Serpellone - Do Portal

25/06/2013

 Marianna Fernandes

O debate Movimento da Hora Presente reuniu políticos, representantes de comunidades e cientistas políticos na tarde de segunda-feira, 24, nos pilotis do edifício Kennedy, na PUC-Rio. Diante de uma plateia de mais de 200 pessoas, foram discutidas a reforma política, o ressurgimento dos movimentos sociais e propostas concretas que poderiam ser apresentadas à sociedade e aos governos.

Especialistas presentes ao debate foram unânimes em considerar as manifestações democráticas, mas destacaram também pontos negativos. O professor da PUC-Rio Luiz Werneck Vianna crê que a falta de um rumo para as manifestações traz “maus presságios”:

– É preciso separar o joio do trigo. As manifestações têm que construir, não destruir. Temos que avançar com a democracia. Não foram concepções anárquicas que nos trouxeram aqui. Não estamos fazendo revolução, mas revendo atitudes. Queremos mais democracia, não menos.

O professor Marcelo Burgos reconheceu a natureza “profundamente democrática” das manifestações, mas disse sentir angústia por não saber o rumo que os protestos darão à sociedade e à política brasileira:

– A sociedade está sendo chamada a pensar, mas qual será o espírito desta mula-sem-cabeça? O movimento não é de esquerda nem de direita. Creio que a luta é pelo acesso popular à política.

Bastante aplaudido, o deputado estadual Marcelo Freixo, presente ao debate como presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), pediu relatos ou imagens de pessoas agredidas pela Polícia Militar nas manifestações recentes para denunciar à Corregedoria da PM:

 Marianna Fernandes – Encaminharemos a denúncia ao Ministério Público (MP) para que eles investiguem a PM. Já que lutamos tanto contra a aprovação da PEC 37 (que restringe o poder de investigação do MP), vamos exigir que eles trabalhem.

Freixo considerou as manifestações como um movimento espontâneo por causa do desrespeito e a falta de diálogo entre governantes e sociedade. Para ele, não se deve controlar o ato, mas deixar que aconteça livremente. O deputado afirmou que os movimentos sociais são importantes para propor pautas aos líderes políticos:

– O poder tem uma dívida imensa com o povo. Como o governo privatiza o Maracanã sem um plebiscito, sem um canal direto de participação popular? Os movimentos sociais devem propor ideias para não termos que aceitar o que nos é imposto por eles.

O líder comunitário da Rocinha Denis Neves contou que uma caravana saiu do morro para protestar na quinta-feira, 20, quando mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas em todo o país, na maior manifestação popular deste século XXI. Pesquisa Ibope realizada neste dia indicou que 45% dos manifestantes têm renda familiar abaixo de cinco salários mínimos.

– Além de questões nacionais, nós protestamos por assuntos locais. Não temos energia, água e saneamento básico decentes, mas o governo quer construir um teleférico na Rocinha, que vai ser mais um elefante branco na cidade – afirmou Denis Neves, que desabafou contra a repressão policial: – enfim, estão vendo como a gente sempre sofreu com a violência policial. E, quando reclamávamos, éramos vistos como protetores de bandido.

Democracia participativa

A mudança do sistema político brasileiro para uma democracia participativa foi um dos principais temas debatidos pelos cientistas políticos. O professor e coordenador de graduação de Ciências Sociais, Ricardo Ismael, disse acreditar que os partidos ouvirão a população e que “isso fortalecerá a democracia representativa”. Defensora da reforma, a professora de Ciências Sociais Angela Paiva criticou a democracia representativa, que para ela “não representa a população”.

 Marianna Fernandes Marcelo Burgos acredita que “o voto se tornou algo que não define mais a sociedade”, pois o povo é comandado por um sistema de grandes coligações de políticos com empresários:

– Esse sistema foi feito para que o povo nunca mais tomasse de volta o poder, mas agora isso está acontecendo. O levante democrático das ruas traz novas oportunidades de mudanças.

Werneck Vianna enfatizou que só o despertar dos jovens tomando as ruas e se expressando “já vale a pena”. A partir de exemplos de iniciativa popular como a Lei da Ficha Limpa e a proibição da compra de votos, Ricardo Ismael lembrou que a população nunca perdeu sua força e que os jovens estão percebendo isso.

Veja a fotogaleria do debate.