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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

Tendler: "Josué de Castro ainda é pouco lido e estudado"

Artur Romeu - Do Portal

05/09/2008

 Artur Romeu

Na terra do “em se plantando, tudo dá”, como saudou Caminha, a fome foi ignorada durante longos anos. O 5 de setembro marca o centenário de nascimento do primeiro brasileiro a se aprofundar na questão, o médico, antropólogo e geógrafo Josué de Castro. A data nos convida a repensar o problema. Diretor do documentário “Josué de Castro, cidadão do mundo” (1995) e professor da PUC-Rio, Silvio Tendler conversou com o Portal PUC-Rio Digital sobre essa alma pioneira.

– Josué foi um pensador que nunca deixou que ninguém pensasse por ele. Por isso, sempre esteve à frente do seu tempo – ressaltou o cineasta.

Em sua obra mais conhecida, “Geografia da fome” de 1946, Josué de Castro apresenta o conceito que desenvolve ao longo da carreira. Ele analisa cientificamente os diferentes tipos de fome e aponta a desigualdade social como fator determinante, quando ainda se justificava o problema por causas naturais, climáticas e até pela preguiça dos trabalhadores.

– Josué toca profundamente na má distribuição de riquezas, que levava grande parte da humanidade a não ter alimentos, enquanto outra parte vivia numa abundância absurda: tinha de jogar alimentos fora para manter os preços no mercado econômico – lembrou Tendler.

“Metade da humanidade não dorme porque tem fome e a outra metade não dorme porque tem medo dos que tem fome”. A famosa frase de Josué remonta aos anos 40, quando ele assumiu uma posição mais crítica. Posição que o levou a política e a integrar o grupo de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (ONU) de 1952 a 1955; mas também fez com que estivesse na primeira lista de cassações de deputados quando a Junta Militar assumiu em 1964.

Pouco depois, Josué foi exilado. Morreu em Paris, aos 75 anos. O corpo retornou ao Brasil sem direito a fotografias ou homenagens.“Ele foi censurado até depois da morte”, lamentou Tendler.

Durante as filmagens de “Josué, cidadão do mundo”  (veja trechos do filme na página de TV do Portal), Tendler pôde conhecer melhor a trajetória do personagem, que, segundo o cineasta, ainda é mal conhecido no Brasil e pouco estudado nas universidades:

– Graças ao documentário, algumas poucas mil pessoas conhecem melhor o Josué. Ele ainda é pouco lido e estudado nas universidades. É mais comum lermos traduções mal feitas de autores franceses comentando o trabalho dele do que ter acesso a algum de seus livros.

Quanto à fome no país, o documentarista reconhece avanços empreendidos nos últimos anos, porém ressalva que a solução exige ações mais profundas:

– O programa “Fome Zero” busca dar condições de sobrevivência às pessoas. Acho uma iniciativa interessante, mas tem que ser acompanhada por geração de empregos.