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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Luz, câmera... doces memórias: os favoritos de outros tempos

Renan Rodrigues e Vítor Afonso* - Do Portal

10/06/2013

 Divulgação

A PUC-Rio recebe a partir desta segunda-feira a exposição JVTD É Apenas uma Palavra. Organizada pelo Departamento de Comunicação Social, a mostra retrata como a força dos jovens está transformando a sociedade contemporânea desde a década de 1950. Uma das atividades é o festival de cinema, cujos filmes retratam os jovens dentro deste contexto. A seleção feita pelo professor e crítico de cinema Miguel Pereita inclui, por exemplo, Somos tão jovens (Antônio Carlos da Fontoura, 2013), que será exibido nesta segunda-feira, às 13h no auditório do RDC, com a participação do diretor e do elenco; Juventude Transviada (Nicholas Ray, 1955), na próxima quarta, às 9h, na sala 102K (edifício Kennedy); e Paraísos Artificiais (Marcos Prado, 2012), na quinta, também às 9h na sala 102K. Organizador da mostra, e coordenador de pós-graduação do Departamento de Comunicação Social ,  Pereira explica que a ideia é “observar como o cinema abordou a juventude transviada até o advento das redes sociais”:

– Não devemos pensar a juventude apenas como uma etapa da vida, mas também como eles participam da sociedade. O jovem não é apenas emoção. Ele também colabora para o desenvolvimento do mundo.

Ao reforçar a importância de uma reflexão sobre os caminhos da juventude, ele destaca a sessão de Somos tão jovens na abertura da mostra:

– Dedicamos um dia ao cinema brasileiro mais contemporâneo com a exibição deste filme. Contaremos com a presença do diretor, Antônio Carlos da Fontoura, que, ao lado do elenco, debaterá o filme com o público.

O Portal aproveitou esse clima de namoro entre o cinema e os jovens para convidar professores do curso de Cinema da PUC-Rio a recordar filmes que marcaram a juventude. Entre as diversas – e ternas – memórias, extensivas a "memoráveis diretores", Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, 1969), emplacou uma reprise: foi lembrado pelos professores José Mariani e Denise Lopes. O resultado até poderia virar uma (outra) mostra:

Miguel Pereira, coordenador de pós-graduação do Departamento de Comunicação Social e crítico de cinema: No tempo das diligências (John Ford, 1939).

“Grande parte da minha juventude foi vivida em um seminário. Só via os filmes que passavam lá, pelo menos duas vezes por mês. Lembro-me bem de alguns faroestes e o que mais me marcou foi o clássico No tempo das diligências. Claro, era um filme de John Ford, portanto, de alta qualidade. Era uma obra-prima. Durante um tempo, fui responsável pelo cineclube, e alguns filmes me marcaram muito na época. Noites de Cabíria (Fellini, 1957) e Rocco e seus irmãos (Visconti, 1960), por exemplo. São filmes que se destacam por um profundo humanismo e pela denúncia da hipocrisia e das injustiças sociais.”

Marcelo Taranto, professor de Cinema da PUC-Rio: O Sétimo Selo (Ingmar Bergman, 1957) e Morte em Veneza (Luchino Visconti, 1971).

“O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, e Morte em Veneza, de Luchino Visconti, iluminaram minha juventude e sedimentaram de maneira sólida um caminho que depois eu ia trilhar com meus filmes todos. Esses filmes me trouxeram elementos importantes porque meu trabalho como cineasta está muito pautado na questão da morte, na relação do ser humano com essa perspectiva, como isso influencia no aspecto psicológico e na forma como as pessoas agem durante a vida em função dessa relação de desconhecimento. A temática destes filmes foi referência na busca pela minha linguagem.”

 Clique para ampliar José Mariani, professor de cinema da PUC-Rio: Roma de Fellini (Frederico Fellini, 1972) e Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969).

“Se fosse pra escolher, eu escolheria dois filmes. O Roma de Fellini e o Macunaíma. É difícil pensar o porquê de escolher um filme que marcou a juventude, pois o filme, de maneira geral, atinge os telespectadores emocionalmente e esteticamente. Ele nos envolve de uma forma muito intensa. Mas acho que o Roma de Fellini me marcou por ser um filme dentro de um filme, por ser um filme biográfico. O Fellini é personagem do próprio filme, como o próprio título indica. O filme me surpreendeu por apresentar uma questão muito íntima. O Fellini retrata uma realidade próxima das suas experiências de vida. Há uma reflexão da cidade de Roma. Em relação ao outro filme, o Macunaíma, o ponto que me chamou atenção foi o fato da construção de um personagem a partir de uma obra literária. Essa transformação de literatura para cinema, com a criação de imagens, foi o que me impactou muito quando eu assisti.”

Denise Lopes, professora de cinema da PUC-Rio: Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969).

“Eu gostava muito dos filmes dirigidos por Luis Buñuel e Silvio Tendler, mas o que realmente marcou a minha juventude foi Macunaíma, de Joaquim de Andrade. Assisti com 16 anos, quando comecei a me interessar de verdade pelo cinema. Confesso que na época eu não entendi muito bem o filme, mas as cenas estão na minha cabeça até hoje. Fiquei maravilhada com a Dina Sfat dançando e jogando os braços ao som da música Papo Firme, de Roberto Carlos. Esse filme me desconcertou, foi o que mais me impressionou na vida.”

Andrea França, coordenadora do curso de cinema da PUC-Rio: 9 ½ Semanas de amor (Adrian Lyne, 1986).

“O filme fala sobre uma paixão, justamente a experiência pela qual estava passando, na adolescência. Foi marcante, por misturar um pouco da vivência  do cinema com a minha própria vida. Outro título que me marcou foi O Obscuro objeto de desejo (Luis Buñuel, 1977). Mergulhei tanto no  filme que não percebi que a protagonista era vivida por duas atrizes distintas. Era um jogo do diretor para que o espectador não identificasse facilmente a questão obscura por trás disso. Envolveu-me muito a ideia de que o cinema pode ter esses jogos de linguagem.  É como se você passasse a duvidar do que vê e mudasse sua perspectiva.”

Sergio Mota, professor de Cinema da PUC-Rio: Sociedade dos Poetas Mortos (Peter Weir, 1989).

"Sociedade dos Poetas Mortos, que se passa em 1959 na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória. Lá, um ex-aluno (Robin Williams) se torna o novo professor de literatura, mas logo seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos cria um choque com a ortodoxa direção do colégio. É nesse filme que está a raiz do Projeto Intervenções, trabalho desenvolvido com os alunos de Comunicação e Literatura. Lembro como se fosse hoje. Ao chegar da sessão, com os olhos vermelhos de tanto chorar, imitei o gesto dos alunos que homenageiam o professor demitido, subindo na cadeira da sala da minha mãe e gritando: Oh, Captain, my Captain! Inesquecível!"

Arturo Netto, professor de cinema da PUC-Rio: O Poderoso Chefão I (Francis Ford Coppola, 1972).

"Citar um filme que marcou a minha juventude é muito pouco, mas tenho origem italiana e por isso me identifico com este. Lembro muito do meu pai. Além de ser um filme maravilhoso e premiado, vencedor de três Oscars, melhor ator para o Marlon Brando, melhor roteiro adaptado e melhor filme, ele fala da visão preconceituosa sobre a máfia e estereótipos, o que sempre me chamou bastante atenção." 

Silvio Tendler, professor de cinema da PUC-Rio: Os Companheiros (Mario Monicelli , 1963)

"O mais político e marcante que eu vi foi Os Companheiros. Na época eu tive um certo encantamento pelo discurso político dele, e depois eu descobri que era uma comédia. Eu o via como um filme militante, sobre a história de uma greve. Aí no ano 2000 eu entrevistei o diretor e disse que tínhamos visto muito o filme dele pra formar consciência, “fazer a cabeça” e tal. Aí ele disse: “Olha, aqui na Itália esse filme é considerado uma comédia”. Isso também me marcou bastante pelo fato de para nós à época parecer um filme completamente político, quando para eles era, na verdade, considerado mais uma comédia."

* Brenda Baez, Danilo Alves, Igor Novello, João Pedroso de Campos, Marina Chiarelli, Nicolau Galvão, Rafaella Nogueira.