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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cidade

Solange Amaral: trabalhar a seis mãos

Caroline Carvalho e Julia Braga - Da sala de aula

26/08/2008

A candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo DEM é a deputada federal, eleita em 2006, Solange Amaral, que por muitos anos esteve junto à gestão do prefeito Cesar Maia, como subprefeita e secretária Municipal de Habitação. Também coordenou o Programa Favela-Bairro, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Formada em  Psicologia pela PUC-Rio em 1977, passou parte da infância e da juventude em Niterói, onde foi jogadora de vôlei profissional. Começou a carreira política como servidora pública, atuando junto a creches comunitárias e foi superintendente da Legião Brasileira de Assistência (LBA) do Rio de Janeiro. Foi eleita deputada estadual duas vezes (1995 a 2002), exercendo a liderança da sua bancada na Alerj (Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro).

Sua atividade político-partidária começou no PV, quando obteve o primeiro mandato de 1993 a 1995. De lá para cá, passou pelo PFL, foi para o PTB e voltou ao PFL, de onde é o seu atual mandato. Em 2007, com a mudança da sigla do PFL, passou a integrar o DEM (Democratas)

Na Câmara, seus principais temas são meio ambiente, esportes, mulher, planejamento familiar, transportes e segurança pública. Atuou também na CPI dos Marajás; na CPI da crise do tráfego aéreo. Já recebeu medalhas condecorativas por seus trabalhos, dentre elas a medalha Pedro Ernesto, em 2006. Em 2003, por sua atuação no Programa Favela-Bairro, publicou o livro e a revista Favela-Bairro – Dez anos integrando a cidade.

Qual o seu projeto para ampliar o ensino básico?

Essa é uma questão muito importante. Está comprovado que as pessoas que passam pela pré-escola têm melhor desempenho educacional e maiores chances de arrumar emprego. Nesse sentido, acho essencial a ampliação da pré-escola e da creche na rede pública, além de continuar investindo no ensino médio. A classe média coloca seus filhos na escola – normalmente privada – aos três ou quatro anos de idade da criança. Todos devem ter essa possibilidade. Ainda existem cerca de 10 mil crianças que precisam ir para a escola nessa faixa etária.

Como integrar as favelas à cidade?

Esse é um ponto de suma importância para mim porque eu coordenei o projeto Favela-Bairro durante seis anos, numa parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). E foi esse órgão internacional que nos alertou sobre a importância de integrar os bairros às suas comunidades. Então, eu acho que o trabalho é investimento em infra-estrutura: garantir escola, área de lazer, formalidade, endereço – já que muitos moradores de favela sequer têm endereços legais. Precisamos integrar um milhão de pessoas que vivem em comunidades às pessoas que vivem na chamada “cidade formal”. O Rio de Janeiro é um conjunto de bairros, regiões e pessoas. E cada um com necessidades diferentes.

Por exemplo, devemos investir em Vilas Olímpicas. Nós sediamos os Jogos Pan-Americanos, e estamos disputando as Olimpíadas, mas a Prefeitura também tem que investir no seu cidadão, e as Vilas Olímpicas são um bom exemplo.

Como administrar e redistribuir a rede de transporte público?

Acho que, junto com a questão da saúde, o transporte depende de uma integração de governos. Sempre digo que vou trabalhar a seis mãos – com o Governo do Estado e com o Governo Federal – porque precisamos garantir que essas instâncias todas caminhem juntas, formando uma que coordene tudo isso. Seria uma “governância” da metrópole, já que o Rio de Janeiro é o coração de uma metrópole. A cidade gera 500 mil empregos para pessoas que vivem fora da cidade, em Niterói, Macaé, Nova Iguaçu, entre outras.

Para o transporte, acho essencial fazer as obras no corredor T5, da Light, que passa pela Penha, Madureira, Jacarepaguá, Barra da Tijuca. Também pretendemos implantar o projeto dos bondes, que são transportes ambientalmente corretos – no Centro da cidade e na Barra da Tijuca, para circulação interna. E isso é investimento do Governo do Estado e Federal, mas também da Prefeitura. Nós vamos duplicar a Avenida das Américas, a partir da Salvador Allende, e fazer o túnel da Grota Funda. Além da nova licitação dos ônibus, como criar a tarifa das duas horas e o bilhete único. Mas, para isso, precisamos que todos os governos trabalhem juntos, e nós estamos dispostos a isso.

Como tornar a rede municipal de saúde pública mais eficiente?

Na questão da saúde, há um grande problema: as redes públicas são concorrentes. Temos os hospitais do estado, que estão de Marechal Hermes para cima – o Carlos Chagas, o Rocha Faria e o Pedro II – e temos os hospitais federais, como o Hospital de Bonsucesso e o Hospital da Lagoa. Além disso, temos a rede municipal de saúde, que são os postos de saúde e os hospitais. Todos concorrem entre si e, no fim, as coisas não funcionam direito e os prejudicados são os cidadãos. Precisamos definir uma gestão única, eu acho que só assim nós vamos conseguir avançar. A saúde é uma questão nacional. Por isso, eu reforço que ou trabalhamos a seis mãos, para que possamos acertar, ou teremos dificuldades. Isso é muito importante. É preciso garantir o abastecimento de recursos humanos, equipamentos e medicamentos em qualquer posto de saúde ou hospital. Hospitais que concorrem entre si não funcionam.

Qual deve ser a função da Guarda Municipal na segurança da cidade?

O foco da guarda municipal é o cidadão, e não o criminoso. É uma função preventiva, e consiste em cuidar da administração da ciclovia, dos parques, das áreas ambientais, enfim, do uso do espaço da cidade em geral. Além disso, ela cuida da coordenação do trânsito, e de fazer a ronda escolar, para garantir o patrimônio, e a segurança de pais, professores e alunos. Tenho defendido que ela comece a trabalhar também na inibição do pequeno furto, ou seja, na segurança do transeunte. Eu defendo essa idéia porque, só no último ano, os pequenos furtos aumentaram aproximadamente 30%. São os roubos de celulares, carteiras e a chamada “saidinha de banco”. Então eu acho que a Guarda Municipal, junto com a Polícia Militar, deveria cuidar também desse policiamento preventivo. Já até apresentei uma emenda constitucional, porque precisamos mexer na Constituição para podermos fazer isso.

Qual o principal problema do meio-ambiente no Rio de Janeiro e qual seria sua solução para ele?

Eu acho que não existe um problema, e sim uma série de questões. Temos uma tarefa imensa em relação a isso que, acredito eu, parte da conscientização dos cariocas em relação a seus hábitos de consumo. Devemos ampliar a consciência das pessoas com relação ao aquecimento global e à emissão de gases poluentes. Eu tenho o projeto “Rio Futuro Carbono Zero”. Temos que aumentar o reflorestamento e implantar a política de cobrança das equivalências, ou seja, quem poluir vai ter que plantar, para diminuir a emissão do CO2. Exigir que se use equipamentos recicláveis. No meu posto de recrutamento, por exemplo, o que era grade passou a ser plástico reciclado. Usar luzes de sinal que poupem energia, usar tampões, ralos e grelhas de polietileno reciclado. As placas de sinalização também serem de material reciclado. A cidade do Rio de Janeiro tem a maior rede de ciclovias do Brasil. São 140 ciclovias atingindo 31 bairros. Quero ampliar isso e incentivar o uso da bicicleta, criando bicicletários junto às estações de metrô, por exemplo. Cobrar a reutilização de água em prédio público, e uma série de outras cobranças e idéias.

Como democratizar a cultura na cidade?

O Rio de Janeiro é muito cultural, com aquela concentração histórica no Centro da cidade, que foi capital do Brasil durante 200 anos. Precisamos criar a dimensão de cultura não só do ponto de vista do consumo. Precisamos incentivar as pessoas para que haja produção de cultura. Para isso, é necessário um trabalho do governo, mas não podemos esquecer da iniciativa privada, de pessoas que produzem espetáculos. Nós temos 10 lonas culturais, localizadas no subúrbio, que são de extrema importância. Elas estão instaladas em áreas onde antes não existia estrutura para receber shows, por exemplo. Hoje, não só os espetáculos chegam ao subúrbio, mas há ainda oficinas sendo realizadas com os moradores. Assim, podemos descobrir qual é o talento daquele bairro. Precisamos ampliar esse projeto de lonas culturais porque, em Jacarepaguá, por exemplo, não tem. Estou fazendo um estudo que permite que ampliemos de 10 para 22 lonas culturais. A área periférica precisa muito do programa cultural, além do apoio à juventude que trabalha com street art, e produz a chamada arte alternativa. Trata-se do projeto “Movida Carioca da Cultura”. Durante 24 horas haverá espetáculo de teatro, dança e música.

O Rio de Janeiro é cidade candidata a sediar os Jogos Olímpicos de 2016. O que deve ser feito para melhorar o que já existe e possibilitar um grande espetáculo caso sejamos escolhidos?

Essa é a primeira vez na história que o Rio passa para essa fase final. Estamos na final com Madri, Chicago e Tóquio, deixando para trás outras grandes cidades. Isso significa que recebemos melhores notas em meio-ambiente, cultura e transporte. Mas eu acho que precisamos melhorar ainda mais em termos de infra-estrutura e transportes, e nós temos um ano e meio para isso. Acabo de assinar um termo de compromisso com o Comitê Olímpico Internacional, dando todas as garantias que, no caso de nossa vitória, nós vamos cumprir rigorosamente com tudo o que o comitê estabelecer como regra. E nós vamos nos preparar para realizar esse investimento. Porque quem ganha com a continuidade do trabalho é a cidade, independente dos governos.

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