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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cidade

Chico Alencar: “Não sou nenhum Messias”

Gabriel Torres e Luísa Pontes - Da sala de aula

28/08/2008

 Paula Giolito

Francisco Rodrigues de Alencar Filho, 56 anos, é o candidato do PSOL para assumir a Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições de 2008. Está em seu segundo mandato consecutivo como deputado federal (2003-2007 e 2007-2011) pelo PSOL. É também membro do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e foi líder do seu partido na Câmara.

Formado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), defendeu dissertação de mestrado em Educação na Fundação Getúlio Vargas sobre o movimento das Associações de Moradores do Rio, do qual foi um dos líderes no início dos anos 1980. Ligado à esquerda católica, morador do bairro carioca da Tijuca, foi fundador e presidente da Associação de Moradores da Praça Saens Peña (AMOAPRA), diretor e presidente da Federação das Associações de Moradores do Estado do Rio de Janeiro (FAMERJ).

Foi vereador, pelo PT, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro por dois mandatos (eleito pela primeira vez em 1988 e reeleito em 1992). Um dos líderes na luta pela moralização da casa, participou da elaboração da Lei Orgânica e da discussão do Plano Diretor da Cidade, quando apresentou sugestões e emendas reivindicadas pelos movimentos populares. Foi também presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Teve aprovados mais de 30 projetos de lei, todos voltados para a melhoria dos serviços públicos e da qualidade de vida dos cidadãos. Candidatou-se à Prefeitura em 1996, ficando em 3° lugar, com 642.000 votos. Foi eleito Deputado Estadual (PT/RJ) em 1998, com 70.095 votos – o terceiro mais votado do estado. Foi presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania e Vice-presidente da Comissão de Educação da Alerj.

Em setembro de 2005 desfiliou-se do PT e ingressou no Partido Socialismo e Liberdade, PSOL. Em 2006, foi eleito deputado federal pelo PSOL, com 119.000 votos. Foi líder da bancada na Câmara, em 2006 e 2007, e é titular da Comissão de Direitos Humanos e Minorias e suplente da Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania.

Qual o seu projeto para melhorar e ampliar o ensino no Rio de Janeiro?

Em primeiro lugar, a boa colocação de algumas das nossas escolas públicas no ranking das melhores instituições de ensino do país, revela que é possível ter ensino público de qualidade. O Rio é, por excelência, uma cidade universitária e pedagógica. Uma prefeitura com compromisso educacional criará um ambiente que vai estimular a aproximação dos que estão à margem da escola. Não é complicado: basta ampliar o projeto Educação de Jovens e Adultos (EJA), que é excelente, mas ainda insuficiente, e reabrir as escolas públicas a iniciativas voluntárias, como os vestibulares populares. Esse movimento "educacionista", para usar uma expressão do amigo e senador Cristóvam Buarque, pode estabelecer metas para o "analfabetismo zero", à razão de 2,5% ao ano. Em quatro anos o quadro mudará para melhor.

Como a Prefeitura pode ajudar para melhorar a segurança do Rio hoje?

A Prefeitura não tem função direta na segurança pública, no que se refere ao uso da força coercitiva do Estado. Por outro lado, o problema da segurança é tão grave que não pode ser considerado apenas assunto de polícia. É também, e principalmente, de política social. Este é o braço indispensável da prefeitura, implantando creches, escolas e espaços culturais e profissionalizantes, de nível médio, nas áreas mais abandonadas, muitas vezes controladas pelo varejo armado das drogas ilícitas. A política atual do governo do estado, que produziu a polícia que mais mata e mais morre, é a de "enxugar o gelo", pois não ataca as causas estruturais do problema. Sem combinar a repressão, muito criteriosa e inteligente com a ação social, nada mudará e episódios bárbaros como o da Providência, onde houve casamento da promiscuidade político-partidária com a promiscuidade criminal, vão acontecer de novo.

Como fazer para integrar as favelas à cidade?

Favela é uma solução, em geral, de má qualidade para a falta crônica de política habitacional. O forte crescimento urbano do Brasil na segunda metade do século passado criou uma distorção absurda: produzimos, por ano, três milhões de automóveis e um milhão de casas, mas para os primeiros há financiamentos viáveis de até 60 meses, já para as habitações populares não. Há uma visão classista e distorcida que só tem olhos para o desmatamento produzido pelos pobres: é o eco-elitismo. Condomínios e casas de luxo do alto Leblon e Gávea, no Alto da Boa Vista, no Itanhangá e na Baixada de Jacarepaguá não são questionados. É justo isso? As favelas precisam de urbanização, envolvendo sua própria população. Só uma política habitacional popular, nessa cidade que tem só no centro 5 mil imóveis vazios, conterá sua expansão.

Como tornar eficiente a rede municipal de saúde?

A epidemia pior que a de dengue, que gerou mais de 100 óbitos, foi a de omissão do poder público. Nem união nem estado nem município fizeram a prevenção correta para a dengue. Uma incúria absurda. Dengue, muito mais que cura no hospital, que também foi precaríssima, é atendimento primário, orientação, saneamento, coleta de lixo. Precisamos dos postos abertos 24 horas e educação permanente nas escolas. É inaceitável que a cidade que abriga a Fiocruz e do pioneirismo na Reforma Sanitária viva essa situação. Vamos mobilizar todas as forças vivas da saúde carioca para evitar que essa tragédia se repita. Ampliação do programa médico de família, tão insuficiente, também ajudará.

Segundo o economista André Urani, o Rio não acompanhou o desenvolvimento do resto do País na última década. Como reverter esse quadro?

Políticas públicas continuadas, em especial na educação e na saúde. O Rio precisa recuperar a presença de um poder público ativo, orientador, mobilizador. Temos, em diversas áreas, quadros técnicos no serviço público dos mais qualificados do país. Não é irrelevante estar aqui a maior rede municipal de escolas públicas (1060 unidades) e 176 postos de saúde. O imperativo é que eles funcionem melhor, inclusive com profissionais valorizados e respeitados. Eles também precisam redescobrir que são governo. É igualmente fundamental entender que o Rio não anda sem a Baixada e sem o povo trabalhador de São Gonçalo; políticas integradas para a Região Metropolitana, sem mesquinharias partidárias, também ajudam a melhorar nosso IDH.

Confira site do Chico Alencar