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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Cidade

Alessandro Molon: a construção de um novo Rio

Pedro Zuazo Maia Ribeiro e Priscila Marotti - Da sala de aula

27/08/2008

Casado, 36 anos, bacharel em Direito e mestre em História pela Universidade Federal Fluminense, Alessandro Lucciola Molon exerce seu segundo mandato como deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Na disputa pela vaga na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, em 2006, Molon recebeu um total de 85.798 votos, o que representou um aumento de 40% em relação às eleições do seu primeiro mandato, em 2002. O candidato foi o mais votado dentro do PT, o que levou o partido a pleitear sua candidatura a prefeito.

Molon recebeu apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB) e do presidente da Alerj, Jorge Picciani, antes mesmo de vencer as prévias petistas. Mas, recentemente, numa reviravolta política, a aliança foi desfeita e o PMDB lançou a candidatura de Eduardo Paes.

O primeiro mandato de Molon foi marcado por uma oposição ferrenha ao governo Rosinha Garotinho, com várias denúncias de irregularidades na administração estadual. Atualmente, ele é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania e integrante da Comissão de Educação, ambas da Alerj. Por sua iniciativa também foi criada a Comissão Especial de Políticas Públicas para a Juventude, que tem como objetivo atender jovens entre 15 e 24 anos.

Em seu site, é possível acessar os projetos de leis propostos, bem como a declaração de bens do candidato. Molon declara possuir um título do Clube Naval, no valor de R$ 3.000,00 e depósitos bancários que somam R$ 15.490,37. Afirma morar num apartamento que pertence ao pai e sua mulher possui um automóvel Golf, avaliado em R$ 37.558,00. Os filhos do casal não possuem bem algum.

Qual o seu projeto para melhorar o ensino básico?

Alessandro Molon: De um lado, nós temos o desafio de ampliar o número de matrículas no ensino fundamental. É verdade que nós já temos mais de 90% de alunos matriculados no ensino fundamental, mas é preciso elevar esse percentual a 100% e a cidade do Rio de Janeiro pode fazer isso. Segundo ponto: dar formação continuada para os professores e profissionais de educação; prepará-los para atuar com qualidade na nossa escola municipal. Terceiro ponto: democratizar o acesso à educação infantil, de zero a seis anos, em especial às creches, de zero a três, garantindo o direito das mães de trabalhar e deixar seus filhos com pessoas capacitadas para cuidar deles e, ao mesmo tempo, estimular a sua inteligência.

Tenho certeza de que um investimento em educação infantil vai, em médio prazo, fazer com que a população do Rio de Janeiro seja a mais qualificada e a mais bem preparada para o mercado de trabalho. Isso vai atrair muitas empresas para o Rio e reforçar o ciclo de desenvolvimento econômico, que nós temos que retomar na cidade do Rio. Por fim, é preciso tornar a escola cada vez mais interessante para os nossos adolescentes e crianças. A escola de hoje tem que falar com o adolescente de hoje. Essa escola tem que atrair o interesse e a atenção do adolescente e para isso o acesso à novas tecnologias, à inclusão digital e às novas metodologias é crucial.

Como integrar as favelas à cidade?

 Nós vamos adotar o modelo do PAC, que vem sendo implementado aqui no Rio de Janeiro, começando por Manguinhos, Rocinha, Alemão e Pavão-Pavãozinho. Nessas comunidades, o Governo Federal começa um grande projeto de urbanização integrada, o que inclui saneamento básico; acesso à educação, com a construção de escolas; acesso à cultura, com a construção de centros culturais; acesso ao esporte e lazer, com a oferta de equipamentos esportivos e também de instrutores e professores que podem ajudar os nossos meninos e meninas a terem melhor acesso a essas atividades.

Isso vai representar, sem dúvida alguma, não só a integração aos serviços que o Estado deve oferecer a todos, mas também, através de uma reforma urbana nessas comunidades, a mudança de ruas, de prédios, de casas, além de garantir ampla acessibilidade e mobilidade dentro das favelas para acabar com os becos que favorecem o crescimento do crime organizado.

Por outro lado, nós vamos investir num projeto habitacional da Prefeitura e na completa reorganização do sistema de transportes para evitar que qualquer favela cresça ou que surjam novas favelas. Então, com aquelas que existem, urbanização integrada, e projeto habitacional com reorganização da malha de transportes para desestimular o crescimento e o surgimento de novas favelas.

Como tornar eficiente a rede de saúde do município?

Mudando completamente o modelo adotado aqui no município do Rio de Janeiro, ou seja, substituindo o modelo hospitalar, que espera que o doente fique em estado grave para que seja internado, pela prevenção, que os médicos chamam de atenção básica ou atenção primária.

Isso se faz através da adoção do programa Saúde da Família, que leva à casa das pessoas profissionais de saúde para prevenir doenças, explicar como combater epidemias e, ao mesmo tempo, identificar casos de doenças em estágio inicial, para evitar que eles se agravem, com o encaminhamento imediato a centros de apoio ou aos hospitais.

Portanto, este é o modelo que nós vamos adotar e que em Belo Horizonte cobre 76% da população e aqui no Rio só 7%. Não é por acaso que, em Belo Horizonte, as internações vêm caindo seguidamente, porque com a prevenção a saúde melhora muito.

Qual deve ser a função da Guarda Municipal na segurança da cidade?

Nós vamos redirecionar completamente a função e o papel da Guarda Municipal. Na nossa Prefeitura, ela não vai servir para proteger apenas o patrimônio do município. Isso pode ser feito por uma vigilância simples. No nosso governo, a Guarda Municipal vai servir para proteger as pessoas. Ela vai estar na rua com o objetivo de proteger as pessoas, de cuidar das pessoas. Vai ser quase um policiamento comunitário. Esse vai ser o foco da nossa guarda municipal.

Aliando isso à melhor iluminação da cidade e aos programas sociais que, preventivamente, vão ter um papel muito importante no combate à criminalidade e à violência, certamente a situação de segurança vai melhorar muito no Rio de Janeiro.

Quais são os principais problemas relacionados ao meio ambiente no Rio de Janeiro em sua opinião?

Eu destacaria três pontos. Em primeiro lugar, eu destacaria o problema do lixo. O Rio de Janeiro tem que adotar um programa sério de reciclagem e coleta seletiva. Isso tem que virar uma mania da cidade. É fundamental para a conservação e proteção do meio ambiente do nosso município saber cuidar do lixo e tratá-lo, dar o destino correto ao lixo que é a coleta seletiva e a reciclagem.

A nossa Prefeitura vai entrar de cabeça nisso. Segundo ponto: a despoluição de praias e lagoas. O município, responsável pela rede pluvial, vai fazer a sua parte de, em parceria com o estado, identificar as redes pluviais que estão recebendo despejo de esgoto para que isso seja modificado e que o esgoto seja tratado pelo estado. Além disso, o município vai cumprir a sua parte de fazer saneamento básico nas favelas, cumprindo termo firmado de parceria com o estado. Por fim, eu destacaria o problema do aquecimento global. Isso se faz contribuindo para que sejam reduzidas as emissões de gás carbônico, substituindo progressivamente transportes rodoviários por transportes ferroviários.

Como o município pode contribuir para democratizar a cultura?

De um lado, estimulando iniciativas de fomento à cultura popular espalhadas pelo município. O governo federal tem um projeto muito interessante chamado Pontos de Cultura. O município pode se somar a essa iniciativa garantindo que, em cada comunidade, em cada canto da nossa cidade, em cada bairro, que muitas vezes é tratado como um gueto, sejam oferecidas oportunidades de acesso à cultura por meio de projetos culturais, financiando iniciativas da própria sociedade civil, permitindo o acesso ao teatro, a grupos de teatro, aulas de teatro, de dança, de música, e assim por diante.

De outro lado, estimulando o acesso à leitura com um grande programa de leitura. O município pode dar uma contribuição importante financiando também bibliotecas comunitárias e pontos de leitura. Esse é um investimento importante em cultura. Além disso, recuperando a rede municipal de teatros, que já foi muito boa, mas hoje está completamente abandonada. Portanto, eu destacaria esses pontos como sendo importantes para garantir o acesso à cultura fundamental para a construção de uma outra cidade do Rio de Janeiro.

Como administrar o transporte público na cidade do Rio?

Nós pretendemos reorganizar completamente o sistema de transporte do Rio de Janeiro, apostando no transporte sobre trilhos, portanto priorizando o metrô e o trem de superfície, o chamado VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Pretendemos fazer uma licitação para todas as linhas de ônibus da cidade, criando linhas troncais, que levem os usuários dos pólos da cidade para o centro, e linhas alimentadoras, que levem passageiros para as estações dessas linhas troncais. Além disso, pretendemos licitar, também, o transporte suplementar, que é o transporte de vans.

Vamos apostar na bicicleta como meio complementar, para levar as pessoas até às estações de trem ou de metrô, por exemplo. E, por fim, nosso compromisso é de instalar o bilhete único aqui no Rio de Janeiro, ou seja, permitir que uma pessoa pague o preço de uma única passagem, duas ou três conduções, dentro de um determinado período de tempo. Com tudo isso, licitação, reorganização e bilhete único, nós vamos fazer com que o sistema funcione, atendendo ao interesse dos usuários, em vez de atender ao interesse das empresas de ônibus, como tem sido aqui no Rio de Janeiro.

Mesmo perdendo o apoio do PMDB o PT decidiu homologar sua candidatura à Prefeitura do Rio. A sua campanha será prejudicada por isso?

Nossa candidatura está mais forte do que nunca, porque a militância do PT reagiu de forma muito saudável, muito positiva, a essa ruptura da aliança. O PT trabalhou para construir e consolidar essa aliança. Nós fizemos todo o possível para que essa aliança fosse construída para simbolizar, no nosso palanque, a união que o Rio de Janeiro tanto deseja entre os governos Federal, Estadual e Municipal. É compromisso nosso, na Prefeitura do Rio de Janeiro, trabalhar em parceria com esses outros dois governos.

Se isso não pôde ser simbolizado num palanque no primeiro turno, não há o menor problema. Nós continuamos com essa determinação de juntar as esferas de governo em defesa da população do Rio de Janeiro, em defesa da reconstrução da cidade. E agora, mais do que nunca, a garra da militância do PT, a nossa combatividade, a força das nossas propostas e o enorme tempo de televisão que nós temos sozinhos, quase cinco minutos, são mais do que suficientes para nos levar ao segundo turno e à vitória nas eleições de 2008, para mudar de vez a história do Rio de Janeiro e fazer com que a cidade ocupe o lugar que sempre mereceu e que a população tanto espera.

Confira o site de Alessandro Molon.