Doutor em Economia pelo Delta (Paris), diretor-executivo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), professor-adjunto do Instituto de Economia da UFRJ – entre outras atividades – o italiano André Urani garante que conhece bem o Rio de Janeiro. Morador da cidade há mais de 30 anos, o economista já foi Secretário Municipal do Trabalho (1997-2000). Nesta entrevista, Urani falou sobre a herança deixada pelas três últimas gestões de Cesar Maia e os desafios que o próximo prefeito deve enfrentar.
O que o próximo prefeito do Rio vai herdar da gestão Cesar Maia?
O quadro atual do Rio tem melhorado nos últimos três anos. A renda está aumentando. Foi possível atrair investimentos para a cidade, pois a conjuntura do nosso país é favorável. O fato é que isso se dá em um contexto de estagnação. Por outro lado, o Rio de Janeiro tem diminuído em termos econômicos. Temos problemas muito graves. O emprego tem melhorado, mas ainda há muita gente no mercado informal. O Rio se tornou uma metrópole que perdeu parque industrial, basta observar o subúrbio carioca repleto de cemitérios de fábricas. Tínhamos um forte setor financeiro que migrou para São Paulo. Perdemos atividades econômicas que antes eram importantes e mesmo depois, com a vinda de outras indústrias para cá, o Rio não conseguiu se reinventar. Temos exemplos de cidades que deram a volta por cima, é o caso de Barcelona e Nova York. Mas, para que o mesmo aconteça aqui, precisamos de um prefeito que saiba fazer alianças com as instâncias federais, privadas, civis e com as universidades. Ainda vivemos um pouco presos ao século passado e, para sairmos disso, é necessário fazer essas alianças. Tivemos um prefeito (César Maia) que tinha uma forte liderança, mas que, na prática, era um “papai sabe-tudo” e acabou tomando medidas isoladas.
Quais foram os avanços e retrocessos da cidade durante esse período?
Tivemos avanços tímidos com relação aos outros estados. Os jogos Pan-americanos foram um investimento positivo para a cidade. O Favela-Bairro é um projeto interessante, o problema é que, atualmente, temos mais favelas do que anos atrás. Já foram gastos no projeto R$ 600 milhões, e ainda serão gastos mais R$ 300 milhões. É projeto tradicional que, na prática, ao invés de urbanizar e integrar a comunidade, acabou virando um programa de obras que logo depois é abandonado. São poucos os casos em que as comunidades se integraram. Não houve avaliação de impacto, e, com isso, não foi possível frear a favelização. Está na hora de rever os nossos conceitos e, para isso, é preciso de uma pessoa que atue com alianças.
Quais áreas devem ser priorizadas pelo próximo prefeito?
A poluição no Rio de Janeiro é um grave problema que deve ser priorizado. Não dá para entender como temos uma Baía de Guanabara tão linda que é imprópria para o banho. A mesma situação encontramos na Lagoa Rodrigo de Freitas. Temos vários problemas estruturais e, para resolvê-los, é preciso usar uma lógica de longo prazo. É preciso combater a informalidade; revitalizar o subúrbio do Rio de Janeiro. A prefeitura até fez isso em São Cristóvão, mas o subúrbio é muito maior do que um bairro. Para resolvermos isso, é preciso fazer mais do que um trabalho da noite para o dia. A educação e a desigualdade social estão melhorando em todo país, porém o Rio está mais devagar com relação aos outros estados. Isso se deve à incapacidade do nosso prefeito de não atuar em conjunto. Com relação à saúde, tivemos avanços tímidos. Tivemos um caos na gestão atual. É uma pena, pois antes tínhamos uma gestão exemplar. A partir do segundo mandato de César Maia é que a saúde começou a desandar.
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