Artur Romeu - Do Portal
18/08/2008Pesquisa do Datafolha realizada no ano passado revela que a violência é a principal preocupação de um em cada três brasileiros. Em metrópoles como Rio e São Paulo, corresponde a boa parte das aflições dos moradores. Transforma-se numa tensão cotidiana. Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, a professora de psicologia social da PUC-Rio Teresa Góes avalia os impactos deste medo.
- De que maneira a violência influencia o comportamento das pessoas?
- É importante compreender que esse discurso de que a violência é uma conseqüência dos tempos modernos é um mito, uma baboseira. Sempre existiu a violência em todos os momentos da história. O que muda é a forma com que ela se manifesta, que só faz refletir a cultura de determinada sociedade.
- De que forma se apresenta hoje?
- Vivemos numa cultura materialista e individualista, na qual visamos constantemente à fama, ao poder, à glória. Isso propicia a violência com o outro, pois somos ensinados desde criança que temos de correr na frente dos outros. Os filmes mostram como herói aquele que mais agride o outro. Por exemplo, muitos jovens da favela entram para o crime, percebendo que os poderosos da comunidade são chefes do tráfico.
- Quais são as conseqüências deste pensamento?
- O que acontece é que a sociedade precisa de leis, mas estas são como teias que só pegam coisas pequenas. Não estou falando só do crime organizado, dos traficantes ou das milícias. Refiro-me também aos ricos que têm seguranças, carros blindados e armas em casa. Cada um busca o seu próprio bem.
- A preocupação dos brasileiros com a violência indica que grande parte da população não se sente segura. Como isso afeta a sociedade?
- Tendemos a ter duas reações: a fuga ou o ataque. No primeiro caso, há literalmente a fuga, o êxodo para cidades mais tranqüilas, coisa bastante comum hoje. Também percebemos isso no uso do insulfilme nos carros e nos condomínios que parecem cada vez mais com prisões. São tentativas desesperadas de se esconder. Quanto ao ataque, observamos gente que compra armas, contratam seguranças. De vez em quando acontece uma tragédia anunciada. Como diz o ditado: não é só a mão que puxa o gatilho, é também o gatilho que puxa a mão. O medo da violência acaba gerando mais violência.
- O que se passa na cabeça de uma pessoa que lida constantemente com o medo?
- Talvez um dos maiores problemas de estar sob o estresse permanente seja que acabamos por não nos dar mais conta dele. Assim, acumulamos um peso grande no nosso inconsciente que eclodem em danos psíquicos variados - de pequenas perturbações neuróticas a conseqüências físicas sérias, como problemas cardíacos e de pressão. Isso acontece porque há com esse estresse uma baixa da resistência orgânica.
- A violência pode ser considerada uma doença psíquica?
- Em alguns casos sim. Mas na grande maioria das vezes, o ato violento é cometido por pessoas que, num dado momento, estão desequilibradas emocionalmente. O que temos que compreender é que o ser humano é agressivo por natureza. Mas, aí citando Freud, somos todos educáveis. Assim é possível canalizar essa agressividade é coisas produtivas, sublimar os impulso agressivos para a arte, esporte.