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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Luxo e beleza no Catete

Thaís Pádua - Da sala de aula

24/09/2008

O Palácio do Catete é um resquício do tempo em que viveu um dos maiores escritores brasileiros, Machado de Assis. A construção, que é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi erguida em 1858 para ser residência de Antônio Clemente de Pinto, o Barão de Nova Friburgo. Pelo luxo e beleza, tornou-se um dos endereços mais chiques do Segundo Reinado. Em 1897, o casarão virou sede do Governo Federal. Muitos acontecimentos da história do país ocorreram em suas dependências e 18 presidentes trabalharam e viveram ali. Em 1960, Juscelino Kubitscheck transferiu o poder federal para Brasília e transformou o local no Museu da República. Cem anos após a morte de Machado de Assis, o lugar não tem o mesmo glamour, mas reúne cultura, lazer e educação.

Há 110 anos, o romancista compareceu à festa de inauguração da nobre residência como sede do poder executivo nacional. No seu livro "Esaú e Jacó" há um capítulo dedicado ao palácio, no qual o personagem Santos fala sobre o desejo de morar naquele suntuoso casarão, localizado na via de circulação do povo. Na época, a Rua do Catete era muito importante, pois era a única ligação entre o Centro e a Zona Sul da cidade. Hoje, o museu está em meio ao corre-corre das calçadas, o entra e sai das lojas populares e intenso fluxo de carros do bairro. Os moradores mais antigos lembram saudosamente dos tempos em que ali circulavam personalidades como Getúlio Vargas e Tancredo Neves.

Segundo Elisabeth Abel, 47 anos, historiadora e museóloga, existe uma grande contradição no Catete. “Quando o palácio deixou de ser sede do poder, o bairro entrou em decadência. Como não é uma área valorizada por empresários, é mais fácil a conservação dos imóveis. É uma perda econômica, mas um ganho cultural”, afirma a historiadora que trabalha há 17 anos no Museu da República.

O prédio de três andares passou por reformas para ser adaptado para as novas funções, e o antigo jardim residencial foi transformado em parque público. Fátima Osório, de 69 anos, professora de literatura brasileira, considera o jardim um local de tranqüilidade interiorana em meio ao caos urbano. “Aqui é possível desfrutar de um espaço sossegado e raro em uma grande cidade, onde gente como eu pode sentar em um dos bancos do jardim e dizer como Carlos Drummond de Andrade: ‘jardim, um convite à preguiça’”, diz Fátima.

O palácio, no estilo neoclássico, é uma das maiores expressões da arquitetura brasileira do fim do século XIX, tem 24 mil metros quadrados e paredes revestidas de granito e mármore rosa. Dentro dessa área funcionam um restaurante, uma livraria, uma brinquedoteca, além de um espaço de vendas de plantas e salas de teatro e cinema. Segundo Maria de Lourdes Teixeira, 56 anos, coordenadora do Departamento de Ação e Difusão Pedagógica do museu, ali é um centro de pesquisa, memória, informação e reflexão político-social. “Recebemos cerca de três mil pessoas, diariamente, a maioria é de estudantes e instituições sociais. Aqui é um espaço comprometido com o nosso tempo e aberto a criações culturais.”, diz a pedagoga que trabalha há 23 anos no local.

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