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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cultura

Paço Imperial, cenário de "Quincas Borba"

Yasmin Pamplona - Da sala de aula

18/12/2008

 Yasmin Pamplona

Não poderia haver lugar tão perfeito para recepcionar a família real. De frente para o mar, e moradia da elite política do Rio de Janeiro, o Paço Imperial foi a primeira pousada de Dom João VI e sua corte. Com a chegada da realeza, a construção passou por algumas reformas para aumentar e tornar o espaço mais confortável. Hoje, 200 anos depois da vinda dos reis portugueses para o Brasil, ele é um dos marcos desse período. E testemunha de diferentes momentos da história do país.

Tão importante que inspirou escritores e artistas. Machado de Assis usou o Paço como cenário em algumas obras. O conto "O diplomata" e o romance "Quincas Borba" (1891) são alguns dos exemplos. O escritor tinha uma relação afetiva com o local, pois nele trabalhava o padrinho de Machado, Joaquim Alberto de Sousa Silveira.

Construído no século XVIII como a residência dos governadores da então Capitania do Rio de Janeiro, o prédio foi inspirado na arquitetura maneirista (1515–1610), que privilegiava as formas simples. Na primeira grande reforma, o Paço Real, como passou a ser chamado, ganhou um novo andar na fachada central voltada para a Baía de Guanabara, e uma sala do trono, onde era feita a tradicional cerimônia do Beija-mão. Foi construído, ainda, um passadiço que ligava o palácio ao Convento do Carmo, onde se instalou a rainha D. Maria I; e outro à Casa de Câmara e Cadeia, cujas celas foram transformadas em quartos para as damas da rainha.

Como habitação da família real, o Paço continuou a ser o centro dos acontecimentos políticos, econômicos e sociais da cidade. Segundo a professora do Departamento de História da PUC-Rio, Margarida Neves, com a elevação da colônia à condição de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1815, a construção se tornou ainda mais importante. “Quando passa a existir Brasil, ou quando o Rio de Janeiro vira Lisboa, o Paço passa a ser sede do governo geral. Dele são governadas todas as colônias portuguesas, e até mesmo Portugal”, diz Margarida.

As grandes festas e as cerimônias de afirmação do poder eram feitas no entorno do prédio, e das varandas os governantes falavam ao povo. D. Pedro I estava nele quando, em 9 de janeiro de 1822, anunciou a decisão de ficar no Brasil, episódio que ficou conhecido como Dia do Fico. E foi em uma das salas do prédio que, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea.

Com a Proclamação da Independência, em 7 de setembro de 1822, o Brasil deixa de ser colônia de Portugal. E o Paço Real passa a ser chamado de Paço Imperial. Para o professor de arquitetura da PUC-Rio, Alfredo Britto, o local virou símbolo do império que nascia. “A arquitetura sempre teve um papel de afirmação de status de poder, sempre foi usada para isso. Os governos fortes, os governos autocráticos, sempre recorrem a ela para marcar a presença. E com o Paço não foi diferente”, observa Britto.

Era necessário que o prédio sofresse uma atualização para se adaptar ao gosto da época, o neoclássico, com a simetria e padrões geométricos. Os antigos beirais do telhado foram substituídos por platibandas – mureta de alvenaria que limita o telhado -, dando uma feição mais reta às fachadas. Esse aspecto durou pouco: com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o edifício perdeu as funções reais e, um ano depois, virou sede dos Correios e Telégrafos.

Durante os mais de 90 anos em que abrigou a repartição pública, o Paço foi totalmente desfigurado. As platibandas foram retiradas e foi construído um terceiro pavimento por todo o perímetro da construção. No pátio interior levantaram um anexo de quatro andares, e os espaços foram redivididos. Além da necessidade de mais espaço, arquitetos e historiadores são unânimes em afirmar que a descaracterização teve como objetivo acabar com as características imperiais do prédio. Em 1982, o edifício foi restaurado, e todas as intervenções foram abolidas. Hoje, o Paço Imperial abriga um centro cultural, e tem a forma que tinha em 1817.