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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

MAM, 50 anos de modernismo

Rebeca Herval de Oliveira - Da sala de aula

11/08/2008

“Um museu vivo! Com exposições, música, teatro e cinema”. Era esse o objetivo do colecionador Raymundo Ottoni de Castro Maya ao fundar o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). Mas essa criação fez mais: conseguiu ser um espaço dedicado às atividades artísticas e contar não apenas com a presença, mas também com a participação do público. Além de ter sido o lugar de vanguardas, o maior espaço dedicado às exposições da cidade foi o principal incentivador das artes aplicadas, sobretudo o desenho industrial. Devido ao passado marcante, vale lembrar os principais fatos para concluir a importância dele para o Rio de Janeiro.

No final de 1952, a Câmara dos Vereadores aprovou a doação do terreno de 40 mil metros quadrados no Aterro do Flamengo para o Museu. Ele já tinha passado pelas dependências do Banco Boavista e pelos pilotis do atual Palácio Gustavo Capanema. Demorou para que a construção tomasse a forma que conhecemos hoje. As obras do arquiteto Affonso Reidy foram iniciadas em 1954 e inauguradas em diferentes momentos. O Bloco-Escola foi o primeiro, em 1958, e iniciou a trajetória de incentivo à produção artística moderna.

O principal impacto da mudança para o Aterro foi associar arte moderna a um prédio moderno. O urbanista Marcelo Soares lembra que o Aterro é uma área recente, criado com os restos do desmonte do Morro de Santo Antônio. Essa nova estrutura permitiu um maior envolvimento do público com as obras, que deixavam de ser apenas quadros dentro dos limites da moldura. “Havia uma nascente cultura urbana através da arquitetura, design e música, o museu saía de um espaço pequeno para concretizar essa idéia”, explica o artista plástico Manoel Ferreira.

O Coordenador de História da Arte da PUC- Rio, João Massao Kamita, elogia o trabalho de Reidy: “A construção é sensacional, um dos conjuntos arquitetônicos mais impactantes.” Com concretos aparentes e sem pilares por dentro, o ambiente fica solto e amplo; é arejado, luminoso e funciona bem. Os vidros ao redor e o chão vazado conversam com a paisagem, assim, conseguem implementar no museu a característica dos cariocas de valorizar a exuberante natureza.

“Freqüentei exposições de diversos portes e a estrutura nunca foi problema”, conta Eulália Pimentel, visitante desde a juventude. Hoje, aos 80 anos, lembra que levava seu filho aos Domingos da Criação, no início da década de 70, para produzir junto com os artistas. Os ateliês não foram somente um local para diversão, mas também foram fundamentais para o desenvolvimento do desenho industrial no país. Lá se formou o primeiro grupo de designers, a turma de Aloísio Magalhães e Carmem Portinho, os fundadores da Escola Superior de Desenho Industrial, hoje, parte da Uerj.

O designer José Antônio de Oliveira destaca o Ateliê de Gravura, de 1959: “O trabalho com xilogravura, metal e litografia foi a ruptura na visão clássica sobre a gravura, limitada a uma auxiliar da pintura em tela”. Ele enfatiza que os Salões de Verão faziam um contraponto ao Salão Nacional de Belas Artes ao aceitar novas manifestações. Aconteceram entre os anos 1969 e 1974, sempre no fim do segundo semestre. Os de Belas Artes eram tradicionais e acadêmicos.

Para o aposentado Geraldo Pimentel, o espaço deu oportunidade às performances políticas. De acordo com ele, a instituição alertava o público mesmo sem defender bandeira partidária, a revolução estava misturada nos eventos. O objetivo era excitar a população. Para isso, os eventos juntaram obra, artista e público. Ao entrar no MAM, a pessoa contribuía ao fazer a sua obra, havia uma convocação de socialização, o oposto do que o regime militar queria.

Segundo o artista plástico Luiz Fernando Paiva, as exposições Opinião 65 e Opinião 66 foram uma série de mostras e discussões sobre a nova estética. Reivindicaram uma produção voltada para as realidades social e política brasileira, além de questões urbanas e da cultura de massa. Opinião 65 foi a primeira manifestação coletiva da classe depois do golpe de 64 e teve o caráter de denúncia, instigando os artistas a retratar a situação política através de trabalhos neofigurativos.

Durante a Proposta 66, versão paulista da Opinião 66, Hélio Oiticica criou o conceito da Nova Objetividade, para a superação dos suportes clássicos. A iniciativa foi em proveito de estruturas ambientais e a criação de diversos tipos de objetos, sempre na defesa do nacional. Em abril de 1967, artistas e críticos realizaram a mostra Nova Objetividade Brasileira com as vanguardas: concreta, neoconcreta e nova figuração. O espectador assumia a posição política e participava corporal, tátil e visualmente.

Outro ponto que atraiu público ao MAM foi a cinemateca. Com filmes alternativos, cult movies, ela realizava sessões e debates sobre diversos temas. Havia projeção de produções nacionais, mas o forte eram as européias. Essas cópias estavam fora de circulação comercial no Brasil e chegavam ao país através das representações diplomáticas. O MAM Rio tinha um vasto acervo em 16 mm e acabou assumindo posição de destaque do circuito, chegando a emprestar fitas para outros cineclubes.

A singularidade do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro é que ele não é sustentado pelo Estado. Foi inaugurado nos anos dourados e seus fundadores acreditavam que a elite estaria intelectualmente preparada para investir em arte e, logo, que eles teriam maior independência. Só não levaram em conta as conjunturas econômicas. E chegaria o momento em que ficaria difícil, até mesmo para a elite, colaborar com o museu.