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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Economia

"Perfil conciliador favorece resolução da inércia comercial"

João Pedroso de Campos - Do Portal

10/05/2013

 Eliza Fiúza/ABr Quando assumir a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), em setembro, o diplomata Roberto Azevêdo, eleito terça-feira passada para quatro anos à frente do órgão (ouça reportagem do rádio), terá o desafio de desatar os nós que vêm travando negócios multilaterais nos últimos cinco anos. Das arestas a aparar, testarão o perfil conciliador do brasileiro o impasse agrícola entre países emergentes e desenvolvidos, a proliferação de acordos bilaterais e o protecionismo que, segundo reiterou a diretora do FMI, Christine Lagarde, impede o crescimento global. Neste cenário (avaliado, em artigo, pelo professor e jornalista Arthur Ituassu), os analistas apontam a "falta de fluência" na Rodada de Doha – paralisada desde 2008, quando a economia entrou em colapso – como um dos principais obstáculos à redução das barreiras comerciais entre os 159 membros da OMC. Azevêdo reconhece a dificuldade, agravada pelo avanço de apenas 2% no comércio mundial e pela previsão de 3% até dezembro.  Professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio (IRI), Adriana Abdenur avalia que a experiência de Roberto Azevêdo na resolução de disputas comerciais o credencia a vencer o principal desafio no comando da OMC. Para a especialista, o perfil da gestão do brasileiro começará a se desenhar na próxima reunião da entidade, em Bali, na Indonésia, programada para dezembro deste ano. O foco, ainda segundo Adriana, deverá mesmo ser a retomada de Doha: – Ainda é cedo pra se traçar uma mudança de perfil na OMC. Está tudo parado, mas o embaixador Azevêdo tem experiência em resolução de disputas, e seu foco deve ser acabar com a paralisia na Rodada de Doha. Mais do que ser político, é preciso resolver disputas. Ele tem um histórico muito forte nisso, é um bom negociador para lidar com esse cenário de maneira a terminar a inércia da OMC. Já o economista da UFRJ Luiz Carlos Prado (foto), depois de comparar Azevêdo ao mexicano Herminio Blanco, seu adversário na eleição, aposta no brasileiro como um diretor mais independente de Estados Unidos e União Europeia para superar as divergências nas agendas de negociação dos países-membros. Apesar da vitória de Roberto Azevêdo, americanos e europeus apoiaram o mexicano. Prado atribui os votos à participação de Blanco em negociações do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), mas afirma que o não alinhamento dos países desenvolvidos a Azevêdo não significa que o novo diretor da OMC beneficie os países emergentes, que o apoiaram, em detrimento de Estados Unidos e União Europeia, que correspondem a 48% e 34%, respectivamente, das mediações comerciais.  Arquivo Pessoal – Na OMC, como tal, nada muda, há um conjunto de países que a compõem. Mas é uma vitória política, porque Roberto Azevêdo foi o candidato dos países em desenvolvimento, sem o apoio da Europa ou o dos Estados Unidos. Mas, como diretor de um órgão internacional, ele deverá encontrar um equilíbrio entre a aderência e a independência às principais regiões mercantis, como Estados Unidos, União Europeia e Japão. Será uma tarefa difícil, mas vejo a eleição com otimismo. Roberto Azevêdo pode redinamizar a retomada das negociações – acredita o professor. Nos dias que antecederam a votação, o discurso do Ministério das Relações Exteriores indicava esperança do governo brasileiro na maior visibilidade de temas que interessam ao Brasill, envolvido em 9% das disputas comerciais intermediadas pela OMC. No tabuleiro internacional, o principal alvo do Brasil na entidade são os Estados Unidos, com dez reclamações. Segundo o economista, a expectativa do Itamaraty insinua-se exagerada: – A eleição dele foi uma vitória da diplomacia brasileira. E é claro que foi uma vitória dos países mais pobres, já que Azevêdo recebeu apoio maciço dos países africanos e dos Brics. Mas não diminui as dificuldades que o Brasil vai ter, nem ajuda o Brasil em relação a situações controversas com países mais fortemente industriais, como os Estados Unidos – afirma.  Adriana ressalta a adesão dos outros componentes do Brics à candidatura de Azevêdo no momento em que novos pólos de crescimento, como o Mist (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia), ameaçam a hegemonia do tradicional grupo de emergentes no cenário internacional:  – Certamente o apoio dos países mais pobres e dos emergentes tem um peso simbólico, especialmente o dos Brics. Essas eleições demostraram o peso da diplomacia brasileira, mostraram a projeção do Brasil no cenário internacional.