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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Fukuyama: foco na qualidade, não no tamanho do Estado

Arthur Ituassu* - Do Portal

29/04/2013

 Arte: Carlos Serra

A editora Rocco lançou este mês no Brasil o mais recente livro de Francis Fukuyama, As origens da ordem política: Dos tempos pré-modernos até a Revolução Francesa. O calhamaço de 592 páginas é somente o primeiro volume de uma saga histórica que o autor vem construindo em torno do Estado, instituição-chave, segundo ele, no processo contínuo de construção das comunidades políticas no planeta.

Publicado mais de 20 anos depois do seu grande sucesso internacional, The End of History and the Last Man, onde Fukuyama utiliza a noção hegeliana de "fim" como "sentido" ou "direção", para ressaltar o consenso em torno da democracia e do mercado no contexto político do fim da Guerra Fria, As origens da ordem política dá seguimento ao trabalho já desenvolvido em State-Building: Governance and World Order in the 21st Century, de 2004 – lançado em 2005 pela Rocco no Brasil com o título Construção de Estados: Governo e organização no século XXI.

Em seu mais novo lançamento, o cientista político de Stanford mantém a ênfase na perspectiva institucional do Estado como elemento fundamental na constituição das comunidades (políticas) modernas, ou seja, sua preocupação com a qualidade político-institucional da autoridade política, apontando para a importância da (boa) construção do Estado no desenvolvimento histórico da sociedade global.

Dessa forma, apesar de um certo sentido darwinista que chama a atenção para a evolução dos (Estados) mais aptos (a Dinamarca, por exemplo, segundo o autor), mais uma vez o argumento de Fukuyama tem sido mal interpretado. Se em O fim da Historia o equívoco está em perceber o ensaio como uma ode ao Estado mínimo liberal, em Construção de Estados e As origens da ordem política o problema está em ler essas obras como uma defesa do "Estado forte" em contraposição ao "Estado mínimo", como se Fukuyama tivesse mudado de ideia.

Na verdade, o foco do autor, em especial nos seus dois últimos trabalhos, não é tanto o "tamanho" do Estado, mas a qualidade de suas instituições e a natureza de suas ações. Nesse sentido, um "Estado forte" para o autor se configura em uma autoridade política eficiente, respeitosa das leis e "responsiva" na sua relação com o cidadão. Afinal, constatemente "naturalizado" e reificado na narrativa política, o Estado é uma construção relativa e por isso mesmo passível de ser objeto constante de reflexão e transformação. O que deve ser o Estado? O que deve fazer o Estado? O que é o Estado e o que faz o Estado? E não somente que "tamanho" o Estado deve ter ou até onde deve ir em relação ao mercado e a economia.

Para Fukuyama, a qualidade institucional do Estado e seus impactos na vida social se constituem na discussão política por excelência, ou na própria política. Sem ela, despolitizada estará a sociedade e mais distante estarão as instituições dos anseios do cidadão. (Leia o artigo no Blog do Ituassu)

* Coordenador do curso de Jornalismo da PUC-Rio e doutor em Relações Internacionais pelo IRI.