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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Cultura

Um desfile de glamour, estilos e contrastes

Carlos Serra* - Do Portal

24/04/2013

 Carlos Serra Durante cinco dias o Rio tornou-se a capital da moda. Celebridades, jornalistas, anônimos garimpeiros de "novas tendências", outros tantos dedicados a mostrar seus looks descolados – e, claro, um batalhão de fotógrafos (profissionais e amadores) – misturavam-se a modelos, estilistas e produtores para os quais as passarelas montadas na Marina da Glória, região central da cidade, representavam uma Copa do Mundo. Na teoria, foram conhecer as novidades do próximo verão. Na prática, reforçavam, com produções ousadas, autênticas ou simplesmente divertidas, o colorido desse universo tão plural, tão peculiar e, ao mesmo tempo, pretensamente cosmopolita. Na sexta-feira passada, provavelmente movidos pela proximidade com o fim da 23ª edição do Fashio Rio, todos ou quase todos pareciam desfilar. (Veja as fotos do Fashion Rio)

Boa parte dos que circulavam pelo cartão-postal usava roupas pouco comuns. Replicava o tom, digamos, conceitual predominante, para não dizer obrigatório, da passarela. Mais que isso, esse clones de modelo vestiam o personagem. Posavam para fotos imitando as caras e bocas de praxe. Com looks extravagantes, revoltados ou inusitados, providos ou não de costura ideológica, buscavam seus 15 minutos de fama sob os holofotes do caldeirão da moda. Quase como uma competição de estilos, esse desfile paralelo cativou até a imprensa. Repórteres seguiam a onda fashion ao preferir produções distantes do cotidiano. Permitiam-se, inclusive, óculos escuros mesmo num evento noturno.

Amplificados pela constelação de câmeras, os desfiles despertavam reações pulsantes – algumas espontâneas, outras orquestradas – no séquito disposto a celebrar a moda, suas conexões simbólicas, culturais, econômicas. Olhos atentos e brilhosos uniam famosos, anônimos e profissionais em torno do glamour inerente ao vaivém de corpos e estilos cuidadosamente preparados para brilhar. Enquanto as luzes se apagam, a trilha sonora sobe lentamente e produz uma ansiedade nada acidental. Quando a luz volta, a modelo já está na passarela. Embora separados pela geopolítica da passarela, em que lugares indicam as escalas de status para celebridades e editores de revistas da área, público e fotógrafos comungam um inevitável encantamento. Delírio a cada passo.

Há, contudo, uma diferença capital. No espaço tradicionalmente reservado à turma da imagem, a geopolítica é menos sutil. Ali o glamour sucumbe à habilidade de garantir uma parte estratégica nesse minifundio conhecido como pit: espécie de cercado no qual se espremem repórteres fotográficos e cinematográficos. É dura, embora democrática, a luta por um pedacinho de chão que possa levar à melhor fotografia, ao melhor ângulo. 

 Carlos Serra Enquanto as modelos não entram em campo,  fotógrafos de vários veículos, estados e até nacionalidades aquecem as câmeras num ambiente descontraído. Piadas, risos, conversa fiada. Quando o desfile insinua começar, o clima amistoso dá lugar ao empurra-empurra e a alguns bate-bocas: “Ei, abaixa a mão aí”. “Chega um pouco para o lado”. “Olha essa cabeça na frente”. Cada um defende com disposição, e alguma malandragem, o pedacinho que lhe cabe. Terminado o tráfego intenso de pernas longas, o Pit volta ao estado leve, com papos de todos os tipos. Desde comentários sobre os últimos cliques até a mudança das redes do Maracanã.

Depois de cinco horas de flashes, clicando muita gente bonita – e estranha –, chegava a vez do derradeiro desfile, da noite e do Fashio Rio. Um comitiva corria para arrumar tudo. Em apenas uma hora, o cenário foi composto por 35 placas de espelhos que saíam do teto e formavam a passarela. Um primor. Muitas poses, inúmeras fotos, distribuição fartas de sorrisos, a emoção do dever cumprido, a (alta) expectativa sobre os comportamentos e negócios despertados cobriam o ato final da semana de moda.

Depois dos cinco dias de badalação, batalhas de estilos e discussões sobre tendências, encontro, na volta para casa, um Rio menos formoso. A poucos metros dali, nos jardins do MAM, mendigos usavam farrapos tão excêntricos quanto os fashionistas de plantão. Um contraste entre o glamour e uma face não menos emblemática da realidade carioca.

* Repórter fotográfico do Portal PUC-Rio Digital.