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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

Janelas para a cultura de todos os cantos do Brasil

Felipe Machado - Do Portal

16/10/2007

O conceito de jornalismo está cada vez mais amplo. Desde o início da imprensa as mudanças ocorrem, cada vez mais rápidas, e a transmissão de informações acompanha essa velocidade. Se achávamos que a televisão era o meio mais rápido por onde chegava a notícia, hoje nada barra a Internet. Os jornais impressos já não são a fonte de informação primordial há muito tempo, precisando, cada vez mais, achar uma nova saída. Qualquer grande jornal hoje em dia tem uma boa quantidade de blogs disponíveis de seus colunistas sobre os mais variados assuntos.

A grande novidade, no entanto, são sites de conteúdo colaborativo, como o Wikipedia, grande sucesso, e o jovem brasileiro Overmundo, lançado no início de março de 2006, com patrocínio da Petrobras. Voltado para cultura, o portal recebe dicas, reportagens, matérias e fotos de todos os cantos do Brasil, onde muitos eventos são pouco divulgados. “O resultado é termos uma diversidade cultural que nenhum grande veículo, por mais que tenha sucursais espalhadas pelo Brasil, conseguirá ter”, diz Felipe Vaz, o responsável pelo desenvolvimento do site através da agência Tecnopop, da qual é diretor. Ele diz que, enquanto poucas pessoas no Rio e em São Paulo conhecem o Overmundo, fora desse eixo o site tem uma presença muito forte em meio a pessoas ligadas à cultura.

Para Felipe, revistas e jornais de grande circulação, futuramente, poderão continuar publicando aquilo que agrada sempre à maioria, uma limitação que corre perigo por causa da Internet. Ou “contextualizar essas manifestações dos nichos em relação à sociedade e outras culturas, fazendo um sobrevôo, coisa que talvez os blogs muito focados em determinado assunto não sejam capazes”, completa. Apesar de ter colaboradores de variadas profissões, o Overmundo conta com alguns jornalistas que contribuem oficialmente, como o potiguar Yuno Silva, free lancer, produtor de eventos, que trabalha com jornalismo cultural desde 2000, antes mesmo de se formar, e colabora desde o início com o site.

Para Yuno, todo mundo é um jornalista em potencial, principalmente quando o assunto é cultura, que é tudo à nossa volta, por isso, acredita “piamente”, como ele mesmo diz, que o conteúdo do Overmundo é uma nova forma de jornalismo. Felipe concorda, e fala da credibilidade das informações. Por um lado, são relatos do ponto de vista pessoal, sendo mais uma conversa, já que outros colaboradores podem comentar livremente, expondo suas visões. Por outro, a mesma diversidade de discursos “parece muito mais digna de credibilidade do que a pretensa objetividade do jornal, um discurso também filtrado pelo olhar do editor e do jornalista, mas sem as outras vozes”, diz.

Segundo Yuno, “um blog funciona de acordo com o enfoque que se dá a ele e vejo com muito otimismo essa questão de que somos todos co-autores”. Essa relação entre leitor e autor, ou produtor de conteúdo, foi levantada há 71 anos pelo filósofo alemão Walter Benjamin, como lembra o antropólogo pernambucano Roberto Azoubel. Na época, Benjamin dava o exemplo da seção de carta dos leitores nos jornais. Hoje, esse conceito se expande consideravelmente com a quantidade de blogs e sites pessoais existentes. “Tal democratização vem, sem dúvida, minando as posições de excelência do autor e de passividade do leitor”, diz Roberto.

“Mediante o advento dessas novas ferramentas de comunicação e informação, o conceito de ‘formadores de opinião’ tende a se tornar obsoleto já que as fontes podem e devem ser múltiplas”, completa o antropólogo. Yuno concorda e acrescenta que a facilidade de propagar informações sob o ponto de vista pessoal é justamente o que enriquece essa relação. No entanto, alerta para que se use um filtro eficiente e com discernimento capaz de separar o que é relevante do que é facilmente descartável.

Uma alternativa aos direitos autorais

Tanto no mercado da música como da literatura de modo geral, o recurso mais usado para proteção da obra são os direitos autorais, pelo qual o autor tem o copyright do que está sendo comercializado. No entanto, a quantidade de downloads gratuitos, no caso da música, e cópias não-autorizadas, no caso dos livros e textos, vem balançando os alicerces desse recurso. Contra os direitos autorais, Felipe Vaz decidiu adotar um recurso diferente no Overmundo.

Para publicar um texto, o autor deve autorizar que seu texto esteja em Creative Commons, pelo qual é permitido copiar, distribuir, exibir e executar a obra, contanto que se dê crédito ao autor original e não a utilize de forma comercial. Felipe dá o exemplo da produção no mundo acadêmico, onde pesquisadores às vezes têm dificuldade em publicar seus livros e “o conhecimento produzido fica refém de uma editora”, diz. Mas como incentivar o uso de um recurso que não visa prioritariamente o lucro? Para ele, “a melhor forma de incentivar é gerar e apoiar iniciativas que mostrem a possibilidade de remuneração dentro desses sistemas econômicos mais abertos, e divulgá-las ao máximo”.