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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


País

Fórum discute mídia e ética

Glaucia Marinho e Thiago Carvalho - Do Portal

28/07/2008

 Thiago Carvalho “Tudo que é sólido desmancha no ar”, célebre frase de Karl Marx, serviu de inspiração para o debate da primeira mesa do Seminário Mídia Ética Verdade, realizado com o objetivo de discutir como a mídia deve lidar com a questão da verdade. A professora Maria Cristina Franco Ferraz (UFF) lembrou que a pós-modernidade fragmentou todos conceitos, inclusive o de verdade, que deixou de ser única e absoluta. Ela ancorou sua apresentação na definição de verdade do filósofo Friedrich Nietzsche, para quem não há lugar para uma verdade universal. Na concepção nietzschiana, os sentidos e valores remetem a interesses vitais referidos a certas perspectivas, isto é não há verdades em si. “Mas essas afirmativas não abrem espaço para um relativismo banal”, disse a professora.

– As relações entre mídia e verdade, como trabalhadas por Nietzsche, se perduram desde o século XIX até os dias atuais. Conforme a denúncia nietzschiana, a “vontade de verdade a qualquer custo” se diagnostica em nossa tradição cultural – completou Maria Cristina.

Não havendo uma verdade única inabalável, passa a ser preciso considerar as perspectivas. Quando afirmou que “não há fatos, só interpretações”, Nietzsche contestou a visão positivista, dominante no final do século XIX. “O lugar da verdade ficou inoperante”, concluiu Maria Cristina, chamando a atenção para o fato de que a mídia, quando produz informação, torna-se produtora de “efeitos de verdade”, cristalizando crenças e valores.

Jornal é serviço público

Na mesma mesa estava o jornalista de O Globo, Luiz Garcia, para quem a profissionalização da mídia ajuda a construir um comportamento ético, percurso prejudicado pelo regime militar. A partir do processo de redemocratização, a função social da mídia passa a ser a de estabelecer a comunicação entre o poder público e os cidadãos.

- O jornal é um serviço público. Somado aos outros meios de comunicação diz ao cidadão o que está acontecendo e assim habilita a exercer suas funções políticas, disse o jornalista.

Garcia reclama da lei brasileira que só permite o exercício da profissão a graduados em jornalismo. Segundo ele, a regra facilita a abertura de escolas de jornalismo de baixa qualidade, formando profissionais para os quais as redações fecham a porta.

O professor Paulo Vaz, da Eco/UFRJ, afirmou que os meios de comunicação distribuem e atribuem responsabilidade. Segundo ele, a mídia enquadra o fato a partir de uma perspectiva dada e assim perde o lugar crítico. Para Vaz, o papel da mídia não é formar opinião, mas permitir que as pessoas mudem de opinião.

- O jornalismo só abre espaço para denuncia e gera indignação, que permite sentimentos exaltados e fascistas. É cultural. A mídia não forma ninguém, infelizmente. – disse o professor.

Local privilegiado

A segunda mesa do dia começou com a professora de Filosofia Kátia Muricy (PUC-Rio). Ela citou diversos pensadores e filósofos para localizar como se dá a busca pela verdade no pensamento humano ao longo dos tempos. Utilizando conceitos de Platão, como a “Alegoria da caverna”, ela tentou mostrar a dificuldade de buscar a verdade. “O mundo visível é das certezas cotidianas, de uma realidade formada sob uma opinião imprecisa e imparcial”, disse ela.

Em seguida foi a vez da professora de Comunicação Social Angeluccia B. Habert , professora de comunicação da PUC-Rio. Ela aproximou o tema “mídia e verdade” do documentário cinematográfico. Segundo ela, o documentário está “saindo da marginalidade”, o que é um ganho para o binômio mídia-verdade.

Fechando o primeiro dia do fórum, o último convidado a falar foi Muniz Sodré, da Escola de Comunicação da UFRJ. O jornalista citou diversos casos da imprensa internacional em que houve falhas na transmissão da verdade ao público e afirmou que a situação está “cada vez mais complexa”. Para ele, a credibilidade decorre do “local privilegiado do jornalista”, como testemunha das situações que ele narra. Surge, daí, um pacto implícito entre o consumidor de jornal e o veículo de comunicação. “Quando o discurso do jornalista não parece crível, o pacto fica em perigo”, concluiu.