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Rio de Janeiro, 7 de maio de 2024


Cultura

Do Brasil para o mundo

Gabriela Ferreira - Do Portal

22/11/2007

O verbo é “destribificar”. Foi como o músico André Abujamra, 42 anos, explicou o processo de criação de trilhas sonoras para o cinema, em que o compositor tem que aprender a ouvir todo o tipo de música. “Do funk carioca ao axé da Bahia, temos que estar abertos. Eu entro no espírito do filme que estiver fazendo”, disse ele no primeiro dia do ciclo de palestras do I Encontro de Música para Cinema. Abujamra, Antonio Pinto, Tony Berchmans e o crítico de trilha sonora Christian Petermann lotaram o auditório do Rio Data Centro (RDC), na PUC-Rio, durante o workshop “O Processo de Concepção da Música de Cinema”, que contou ainda com a presença do cartunista Ziraldo, pai de Antonio Pinto, e do compositor Remo Usai, homenageado pelos convidados.

Filho do ator e diretor Antonio Abujamra, André tem 36 filmes no currículo, começando por “Carlota Joaquina”. Ele explicou que, para se ter uma boa trilha sonora, é preciso saber lidar com os diretores e perceber o que querem para cada cena. “Muitas vezes, eles aparecem com um violão e mostram que já têm a música na cabeça. Para o filme Carandiru, fiz nove trilhas diferentes. O diretor odiou todas”, disse. André começou a construir sua carreira internacional no México graças a uma indicação de Antonio Pinto. Uma das marcas das composições de André é a distorção do som das músicas, como em “Bicho de Sete Cabeças”. “Nessa trilha, tudo está destruído. Nada está limpo. Eu gosto de fazer coisas feias, erradas mesmo”, contou. Além das distorções, o uso de mantras indianos em trilhas é presença constante na sua obra.

Já o diretor musical de “Central do Brasil”, Antonio Pinto, acha que é fundamental não deixar a música falar o que a cena já está dizendo. “Quanto mais o diretor musical souber do filme, menos risco há de ser repetitivo. As pessoas que fazem música para a imagem devem ter menos apego ao que fazem e ter seu próprio estilo. Mesmo diversificando, sempre gosto de colocar uma coisa minha. Quem fica só reinventando suas referências, não cresce”, disse. O compositor das trilhas de “Terra Estrangeira” e de “Menino Maluquinho” diz que seu sonho é que os recursos brasileiros sejam suficientes para que os profissionais de cinema possam viver só dele.

Para o crítico Cristian Petermann, com exceção de algumas trilhas, como de “O limite”, de “Central do Brasil”, de “Laranja Mecânica”, do nervosismo de “Bicho de Sete Cabeças” e das composições de Wagner Tiso, não há boas trilhas que se possa comprar atualmente. A criação musical fica limitada quando se tem pouco tempo para produzir um filme. Nos Estados Unidos, por exemplo, os filmes passam por diversos testes de popularidade e têm suas trilhas sujeitas a mudanças pelo menor índice de rejeição.

Em relação a usar músicas pop em filmes, os diretores musicais mostraram reservas. “Se quer fazer barulho em uma cena poluída e botar uma música pop de fundo, tudo bem. Porém, se a cena é formada por um personagem que anda de bicicleta, não há motivo para não fazer uma música para ele pedalar”, disse André.