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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cidade

Prevenção de acidentes exige avanço viário e tecnológico

João Pedroso de Campos e Renan Rodrigues - Do Portal

03/04/2013

 Reprodução TV

A queda do ônibus da linha 328 (Castelo-Bananal) do viaduto Marechal Trompowski na pista lateral da Avenida Brasil, por volta das 16h30 desta terça-feira, reforça a necessidade de aperfeiçoamentos, alguns urgentes, para a melhor segurança do trânsito urbano. O descontrole do veículo, que culminou em sete mortos e 11 feridos – três em estado grave –, teria sido decorrente, segundo testemunhas, da discussão entre um passageiro e o motorista, André Luiz Oliveira. Embora as circunstâncias precisas exijam uma investigação cuidadosa, especialistas avaliam que o caso expõe fragilidades relacionadas a treinamento e reciclagem profissional, condições de trabalho, fiscalização, estrutura viária e tecnologia embarcada, cuja combinação tende a aumentar a chance e a gravidade de acidentes.

O professor do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio José Alberto Parise lembra, categoricamente: não há avanço tecnológico capaz de anular a imperícia e a imprudência, principais causas da maior parte dos acidentes no Brasil e no mundo. Mas pondera que a disseminação, inclusive no transporte público, recursos como o sistema ABS (impede o travamento de rodas em frenagens bruscas), a suspensão inteligente (ajusta-se às variações do piso) e o sistema Kers (aproveita a energia absorvida em frenagens para aprimorar o desempenho do motor), desenvolvidos no laboratório da Fórmula 1, contribuem para uma direção mais segura. Outros revelam-se importantes para mitigar os efeitos da colisão. Por exemplo, os materiais que absorvem melhor o impacto e, assim, ajudam a proteger o interior do veículo; ou, nas palavras dos engenheiros automotivos, preservar a "célula de sobrevivência".

Ainda de acordo com José Parise, a incorporação dessas tecnologias seria mais eficaz, para conter o índice e a gravidade de acidentes, do que medidas como a limitação da velocidade máxima. Os riscos resultam de fatores mais complexos, pondera o especialista:

– Um ônibus a 60km/h no Aterro é uma coisa; na Voluntários da Pátria é outra. Se todo o tráfego está a 20km/h, um ônibus a 40km/h torna-se perigoso – exemplifica – O diferencial de velocidade e as condições da via são o que determina o risco.

O também engenheiro José Eugênio Leal, professor de Transportes e Logística da PUC-Rio, concorda que a velocidade deve estar compatível às características da via e do trânsito, mas ressalta que esse tipo de controle mostra-se aliado do passageiro contra o risco de excessos no pedal direito. Ela lamenta que a aposentadoria do apito que indica quando o veículo supera a máxima permitida:

– Há algum tempo, no Rio, quando o ônibus atingia uma determinada velocidade, havia um apito indicador. Mesmo sem o recurso, deve-se garantir ao passageiro formas de se proteger contra o risco de imprudência.

Muro de contenção não é garantia contra queda de veículos

Já o professor Giuseppe Barbosa Guimarães, do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio, aponta a necessidade de se melhorar a estrutura viária. Ele sugere a adoção de proteções reforçadas nas laterais (guarda-corpos) de viadutos e pontes, porém ressalva que, ainda assim, é impossível garantir que os veículos pesados seriam contidos em casos como do ônibus da Paranapuan:

– Observo pelas imagens da TV que o guarda-corpo (do viaduto Marechal Trompowski) é de metal. Uma estrutura de concreto reforçado poderia ser mais eficaz na proteção. Mas não dá para garantir que você conseguirá segurar um caminhão pesado em alta velocidade, por exemplo. 

A construção de muros de aproximadamente dois metros seria, segundo Giuseppe Guimarães, uma  alternativa para os muros de contenção. A proposta, porém, é considerada inadequada do ponto de vista arquitetônico:

– Imagine a ponte Rio-Niterói com um muro de dois metros em cada lado. É uma decisão que cabe ao dono da obra, mas não é viável pelo ponto de vista arquitetônico. No caso do acidente com o ônibus na Avenida Brasil, acredito que um guarda-corpo mais robusto teria ajudado.