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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Campus

Peça na PUC renova debate sobre a lucidez da loucura

Vítor Afonso - Do Portal

19/03/2013

 Reprodução

A PUC-Rio recebe, nesta quarta-feira (20), a peça Estamira – Beira do Mundo, baseada no documentário Estamira (2004), de Marcos Prado. O monólogo conduzido pela atriz Dani Barros, às 13h, no auditório do Centro Pastoral Anchieta, serve de pano de fundo para discutir os dramas, as sutilezas e as revelações em torno da loucura. Depois da apresentação, o professor de Saúde Mental Fernando Tenório, do Departamento de Psicologia da PUC, mediará um debate sobre os temas levantados no palco. Aberta ao público, a iniciativa reúne 200 vagas (por ordem de chegada).  

A encenação inspira-se na vida de Estamira de Souza, ex-trabalhadora do aterro sanitário de Jardim Gramacho, cuja principal marca, retratada no documentário homônimo, era a mistura, digamos, entre loucura e lucidez em seus discursos "filosóficos". Dani revela, no entanto, que o monólogo também traz questões pessoais da atriz:

– Como minha mãe tinha depressão, desde pequena eu vivenciei a rotina de hospitais psiquiátricos. Por isso, utilizamos histórias do documentário para contar as minhas experiências que estavam engasgadas.

Ela acrescenta que o processo de criação da peça começou por meio desse convívio nos hospitais. Mas foi preciso filtrar as histórias para, contá-las de “maneira mais branda”:

– Trabalhei bastante para contar essas histórias sem me machucar.

Dani conheceu Estamira, e considera este encontro igualmente importante na criação do monólogo. Ela lembra que, apesar do distúrbio mental, a senhora de 70 anos derrotada pela diabetes em 2011,  falava do mundo com "muita lucidez, mostrando o lixo da sociedade”:

– A Estamira tinha uma fala muito lúcida, mesmo com os surtos. Ela, que vivia em um lixão, jogava para nós o lixo de sistema em que vivemos.

Tenório reafirma a visão da atriz. Ele destaca a “capacidade criativa” que um psicótico pode desenvolver. O professor reforça que a peça representa uma “oportunidade única” para os alunos de Psicologia, por retratar a história de uma pessoa que conseguiu organizar a vida em torno da doença:

– A peça coloca os alunos em contato com uma experiência humana que eles vão ter que lidar na vida profissional. Nós psicólogos temos que aprender com as histórias da Estamira, porque ela carrega uma exuberância de manifestações da doença mental.

 Reprodução Segundo Dani, apesar de o monólogo já ter sido  apresentado para outros universitários, esta é a primeira vez que ganha uma universidade. A atriz observa a importância de trazer essa discussão para o ambiente acadêmico:

– Como trabalhei por 13 anos em hospitais, estive próxima de muitos médicos e psicólogos em formação. Por isso, acho importante desenvolver esse tema para os universitários.

Após a apresentação, o debate no auditório da Pastoral aproximará os estudantes da atriz. Segundo Tenório, a conversa será “livre para uma troca com Dani Barros”:

– Pode ser oportunodo que o debate traga uma discussão mais teórica, sobre o tratamento, mas essa não é a prioridade. O principal é deixar os alunos em contato com a atriz – esclarece.