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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cultura

Peça discute a eternidade e a solidão

Olivia Haiad - Do Portal

02/07/2008

É possível sonhar acordado? Nos encontramos em algum lugar entre o dormir e o acordar. Somos feitos de “memória e esquecimento”, dizia Fernando Pessoa. É na imagem que o homem se imortaliza. Em meio a estas reflexões, a peça “A Invenção de Morel” - em cartaz até o dia 6 de julho no Centro Cultural Banco do Brasil - explora o chamado “realismo fantástico”. Baseada no livro homônimo do escritor argentino Adolfo Bioy Casares, traz uma história sobre  tecnologia, morte e, principalmente, amor. Vera Novello, professora do departamento de Comunicação Social, atua e produz o espetáculo.

O Fugitivo, um homem perseguido pela polícia, se esconde em uma ilha contaminada por uma epidemia letal. Lá, encontra um grupo de pessoas que repetem suas ações em períodos regulares e ignoram sua presença. Atordoado, ele acaba se apaixonando por Faustini, que faz parte do grupo. Para a atriz e produtora, o romance de Casares anteviu, em 1940 (ano no qual foi escrito), o surgimento do mundo virtual de hoje:

- Ele enxergou esse mundo de imagens da informática, da internet, da televisão, e refletiu como as pessoas se relacionam com a imagem e se existem mundos paralelos.

Na ilha, máquinas reproduzem as pessoas, como se fossem hologramas. Abrem espaço para uma discussão central: seria real o grupo que o Fugitivo observa? Desta forma, o conceito de eternidade é discutido.

- Onde está a eternidade senão na consciência de alguém? O Fugitivo estranha quando descobre que Faustini é uma gravação, mas depois de um tempo se acostuma, passa a freqüentar o quarto dela, dormir ao seu lado. Quantas pessoas sozinhas não passam horas em frente à TV achando que tem alguém, de fato, com elas? – diz Vera.

Os seis atores da peça - Ísio Ghelmann, Ana Velloso, Vera Novello, Josie Antello, Cândido Damm e Cláudio Gabriel e Leandro Daniel Colombo (assistente de direção) - se revezam no papel do Fugitivo. Segundo Vera, é um recurso para “provocar no público a sensação de que as pessoas existem e não se encontram”, ou seja, denunciar nossa solidão.

Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, Vera falou também da situação do teatro no Rio de Janeiro. Observou que, em meio às peças baseadas puramente na atuação de pessoas famosas, às casas de espetáculos localizadas em regiões sem segurança e à popularização dos DVDs de espetáculos, fica difícil valorizar aquele tipo de dramaturgia:

- As pessoas não têm hábito de ir ao teatro. Elas não têm paciência para ler um livro, assistir a uma peça. Já vi espectadores que saíram no meio do espectáculo para fumar. Agüentam ficar sem ver a peça, mas não agüentam ficar sem fumar.

Vera Novello se formou em jornalismo pela PUC-Rio, porém não seguiu exatamente este caminho. Decidiu que teatro era “necessário, quase visceral” e fez dele seu meio de sustento. Além de atuar e produzir diversas peças, principalmente musicais, ela leciona a disciplina Comunicação e Teatro na universidade.

Mesmo consumida pelo teatro e pela criação dos filhos João, de 5 anos, e Isabela, de 3, Vera diz que  não abre mão de outra arte em sua vida, a arte de ensinar:

- Estou sempre cansada, mas meu marido me fala: ‘não reclama, você está fazendo o que gosta’. Eu gosto muito de ser professora. O que os alunos me dão ninguém pode me dar, é incrível. Tem sempre alguém especial, alguém curioso.

Saiba mais sobre o Realismo Fantástico

O chamado Realismo fantástico foi uma escola literária que surgiu no inicio do século XX e ganhou força principalmente nos anos 60 e 70. Também conhecido como realismo mágico, reúne tramas nas quais o irreal e o cotidiano interagem, criticando assim a narrativa da própria ficção. Expressou, em determinadas circunstâncias, um reação a ditaduras na América Latina. O romance “Casa Tomada”, de Julio Cortázar, por exemplo, remete à ditadura de Juan Perón na Argentina, durante os anos 40 e 50.

O movimento influenciou uma série de obras, como "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez, e "A Casa dos Espíritos", de Isabel Allende. Mario Vargas Llosa, Ítalo Calvino, Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares também integraram o time de talentos do realismo fantástico.

A Invenção de Morel

Direção: Moacir Chaves

Com: Ana Velloso, Cândido Damm, Ísio Ghelmann, Josie Antello, Vera Novello, Cláudio Gabriel e Leandro Daniel Colombo.

Programação: de terça a domingo, de 29 de maio a 06 de julho, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), às 19h30. CCBB: Rua Primeiro de Março, n. 66, Centro.