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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Cultura

Lego, 50 anos de criatividade

Lívia Brandão - Da sala de aula

12/08/2008

Construir cidades inteiras, naves espaciais, castelos medievais, navios piratas e o que mais as crianças quisessem criar com as próprias mãos. Foi essa idéia que levou o dinamarquês Ole Kirk Christiansen a aperfeiçoar os brinquedos de madeira que fabricava em sua pequena oficina até chegar às peças de Lego como elas ficaram conhecidas. Depois de uma série de testes com plástico, Christiansen chegou ao formato atual de encaixe entre os blocos e lançou a novidade no mercado em janeiro de 1958. A versatilidade do Lego, cujo nome deriva das palavras dinamarquesas LEg e GOdt –“brincar bem”, em português – foi um dos fatores para ele ser eleito o Brinquedo do Século XX, prêmio concedido pela British Association of Toy Retailers.

Tanto prestígio foi conquistado junto a uma legião de fãs, seguidores fiéis da marca. Um deles é o designer Fábio Fiss, de 23 anos. Aos 12, Fábio desbancou mais de três mil crianças em um concurso nacional promovido pela Lego Group e ganhou uma viagem para conhecer a Legoland, na Dinamarca. “Ganhei um certificado de cidadão honorário do parque que emoldurei e coloquei na minha parede. Há pouco tempo descobri que ele me dá direito à entrada vitalícia”, conta. “Só falta voltar à Dinamarca”, brinca.

Além do quarto decorado com mais de 200 sets do brinquedo, o designer mantém um blog dedicado à Legomania . E para quem pensa que o assunto não rende, Fábio entrega. Em pouco mais de dez meses no ar, já recebeu 25 mil visitas. “Coloquei o número do meu celular na página e recebo ligações de gente atrás de informações. Dependendo da dúvida, encaminho para os representantes da marca no Brasil ou para os fóruns dedicados ao assunto”, explica Fábio, que participa e ajuda a organizar encontros entre fãs já crescidos do brinquedo na cidade de São Paulo.

E não é só de nostalgia que vive o Lego. Ainda em produção em escala mundial, o brinquedo é um dos artefatos preferidos de pais e educadores para estimular a criatividade infantil e o raciocínio lógico, além de auxiliar o desenvolvimento da coordenação motora dos pequenos. Brasil afora, cresce o número de escolas que utilizam os blocos de Lego para complementar o ensino didático. “Usamos o brinquedo para situar os alunos mais novos no mundo. Os mais velhos têm aulas sobre o corpo humano e mecânica com peças mais complexas”, explica a psicopedagoga Sueli de Abreu, do Centro de Novas Tecnologias para Educação. Sueli aponta que alguns pais ainda apresentam resistência ao método. “Muitos dizem que não pagam escola para os filhos brincarem”, conta Sueli. “Por isso, fazemos oficinas para explicar a metodologia do curso e acabamos ganhando mais aliados”, completa.

Pais de família, os irmãos Nick e Dado Ellis, fazem parte da turma pró-Lego desde crianças. Ganharam as primeiras caixas de um tio que morava fora do Brasil, a coleção foi aumentando e eles não pararam mais de brincar. Até hoje. Nick, de 37 anos, pai de Clara, de 3 anos e Théo, com 5 meses, usa as peças grandes do Lego Duplo nas atividades em família. “O Lego tira as crianças da frente do computador e estimula a convivência”, valoriza. Dado, de 41 anos, aproveita a brincadeira de Giulia, 11 anos e Rafael, de 5, para botar a imaginação das crianças para funcionar. “Compro baldes de peças genéricas para eles criarem o que quiserem sem precisar dos manuais. Isso é maravilhoso”, encanta-se.

E mesmo quem não tem filhos pode se divertir com Lego sem se restringir aos sets convencionais. De volta à moda, as pecinhas servem de inspiração para roupas, acessórios e produtos para a casa. Até o estilista da Louis Vuitton, o americano Marc Jacobs, homenageou o brinquedo na última coleção primavera de sua marca própria, a Marc by Marc Jacobs: os cintos e faixas de cabelo usados no desfile foram confeccionados com peças de Lego. Para complementar o visual, os colares, anéis e brincos criados pela designer Jacqueline Sanchez são uma boa pedida. Os acessórios vêm com um pequeno diamante e custam a partir de U$ 100. Para juntar dinheiro e comprar esses acessórios, a loja oficial do Lego vende um cofrinho de cerâmica no formato do famoso bloco de montar. Ainda no site oficial, dá para ornamentar a cozinha com forma de gelo estilizada, ímãs para geladeira, timer, saleiro e pimenteiro, saca-rolhas e até forma para bolo, tudo inspirado pelo universo Lego. Sinal de que o brinquedo cinqüentão continua em alta entre adultos e crianças e está por toda parte.

50 anos em números

Em sua história, a Lego Group já vendeu 400 bilhões de peças nos 130 países em que a marca está presente, o que corresponde a 60 peças de Lego para cada um dos 6,6 bilhões de habitantes humanos da Terra. Sim, humanos. Porque a população de bonecos amarelos chega a 4 bilhões, 7 mil vezes maior que o número de habitantes da Dinamarca, país de origem do brinquedo. Calcula-se que a cada segundo são vendidas sete caixas de Lego no mundo, que poderia ser percorrido cinco vezes com o total de peças comercializadas em um ano. Para construir uma torre de tijolinhos e alcançar a lua, basta empilhar 40 bilhões deles.

A variedade das peças chega a 2.400 formatos, em 53 cores disponíveis. Só que um colecionador não precisa de tanto para se divertir. A empresa calcula que bastam seis tijolos retangulares para criar 915.103.765 combinações diferentes, que podem se transformar no que a criança quiser. Por ano, a Lego produz 19 bilhões de componentes – o equivalente a 2.16 milhões por hora, ou 36 mil por minuto. Só de pneus para os carrinhos e tratores do brinquedo, são fabricados 306 milhões de unidades anualmente. Para coleção nenhuma ficar desfalcada.