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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cidade

Opções não faltam para o eleitor carioca

Carlyle Junior - Da sala de aula

28/07/2008

 Felipe Corrêa A cidade do Rio de Janeiro promete ser palco de uma das eleições mais disputadas do país. Seis principais candidatos estão no páreo para a sucessão do prefeito Cesar Maia: o senador Marcelo Crivella (PRB), a ex-deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), o deputado Eduardo Paes (PMDB), o deputado estadual Alessandro Molon (PT), os deputados federais Fernando Gabeira (PV), Chico Alencar (PSOL) e Solange Amaral (DEM). Todos eles possuem características políticas diversificadas, mas com um ponto em comum – pouca ou nenhuma experiência administrativa. O cientista político e professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio, Ricardo Ismael, analisou o quadro pré-eleitoral da cidade. Para ele, o candidato que se revelar mais bem preparado para administrar a capital fluminense conquistará a preferência do eleitorado. “As principais exigências do eleitor ainda são saúde, educação, segurança pública, saneamento básico e emprego. O candidato que oferecer propostas concretas para tais áreas, certamente, ganhará a preferência do eleitorado”, explica ele nessa entrevista.

CARLYLE JUNIOR - Qual será o critério para a escolha do novo prefeito, considerando que a maioria dos candidatos não apresenta nenhuma ou pouca experiência administrativa?

RICARDO ISMAEL - Com exceção da deputada Solange Amaral, que já foi secretária municipal na gestão atual e acabou adquirindo certa experiência administrativa, os demais candidatos possuem maior experiência parlamentar. Mas é importante que o político tenha experiência parlamentar, já que como prefeito ele terá que lidar com a relação entre o Executivo e o Legislativo. Como praticamente todos os candidatos vêm do Legislativo, isso faz com eles conheçam bem o jogo político. Um requisito exigido pelos eleitores nas últimas eleições, principalmente em grandes metrópoles como o Rio de Janeiro, é que o candidato a prefeito possa demonstrar, durante a campanha, que conhece os problemas da cidade e, mais do que isso, que ele possa demonstrar que é habilitado para enfrentá-los. Em agosto, quando for liberada a propaganda eleitoral gratuita, os candidatos terão a oportunidade de apresentar suas propostas e soluções para os problemas da cidade do Rio. A eleição será bastante concorrida. O nível de competitividade será alto, já que seis principais candidatos estão na disputa. Opções não faltam para o eleitor carioca.

C.J - A grande maioria dos candidatos parece querer distância política do prefeito Cesar Maia. Como a deputada Solange Amaral enfrentará essa ligação?

R.I - Embora nesse momento a deputada estadual Solange Amaral tente dissociar sua imagem da atual administração, ela não tem como escapar da idéia de uma continuidade da gestão do prefeito Cesar Maia, que está encarando uma queda na popularidade. Por isso, Solange terá dificuldades para encontrar um discurso que possa convencer os eleitores de que fará uma gestão autônoma. A criatura não pode renunciar o seu criador. Não existe Solange Amaral sem Cesar Maia. No entanto, não podemos esquecer que o apoio da máquina municipal ainda pode ser determinante no pleito de outubro. Aparentemente, o apoio da máquina da prefeitura pode parecer insuficiente para vencer a eleição. Mas talvez possa ser importante para levar a candidata do DEM para um segundo turno. Não concordo com algumas análises que colocam o prefeito Cesar Maia como um ator irrelevante do cenário político deste ano. É bem verdade que o Cesar Maia tem se esquivado do debate político por conta da epidemia de dengue e da desordem urbana. Se a eleição for, de fato, muito disputada, o apoio do atual prefeito, mesmo que nos bastidores, através dos seus vereadores ou de ações da prefeitura, como as obras municipais nos bairros da Zona Oeste, por exemplo, pode garantir a chance de Solange Amaral concorrer o segundo turno em novembro, talvez. A eleição é um processo que depende muito da aglutinação de forças políticas. Os candidatos precisam de uma estrutura partidária forte ou de um aparato por parte dos governos que dêem um suporte para as candidaturas. Nesse caso, nenhum tipo de ajuda pode ser recusada ou desprezada.

C.J - Como o senhor avalia a candidatura do deputado federal Fernando Gabeira?

R.I - O Gabeira tem toda uma história política vinculada à cidade do Rio de Janeiro. É um deputado que marcou sua trajetória pela defesa de questões ambientais e, mais recentemente, pela ética na política. Gabeira tem um discurso muito fácil de ser comprado e de ser absorvido pelas classes média e alta da cidade. E isso não é pouco. O grande desafio do Gabeira é tentar ganhar o apoio de camadas mais populares e buscar votos nas Zonas Norte e Oeste. Numa primeira análise, Gabeira seria o candidato mais forte para rivalizar com um candidato da base governista. Imaginando que haja uma disputa entre um candidato pró-Lula e um candidato de oposição, o Gabeira é o que, potencialmente, teria mais chance de crescer na corrida eleitoral.

C.J – Na última pesquisa Datafolha o senador Marcelo Crivella ocupou o primeiro lugar das intenções de votos. E também o de mais rejeitado pelos entrevistados.O que o candidato do PRB terá que fazer para superar esse impasse?

R.I - O senador Marcelo Crivella deverá preparar um discurso para os eleitores que não são fiéis da Igreja Universal. Crivella é um candidato que consegue falar mais facilmente para as camadas populares. O seu eleitorado se concentra nas Zonas Norte e Oeste da cidade. Ao contrário de Gabeira, ele tentará buscar a simpatia das classes média e alta, que não se identificam com o seu discurso. É um típico candidato que consegue ir para um segundo turno, mas não se elege. Para conquistar a maioria absoluta dos votos, Crivella deverá atingir as pessoas que não fazem parte do seu eleitorado tradicional. E isso não é tarefa fácil.

C.J - O Senhor acredita que, mesmo por um partido pequeno como o PSOL, o deputado Chico Alencar tenha chances de crescer junto ao eleitorado?

R.I - Na eleição municipal de 1996, o deputado federal Chico Alencar obteve uma boa colocação e quase chegou ao segundo turno. Certamente, ele deverá se aproveitar da popularidade da ex-senadora e presidente do PSOL, Heloísa Helena, que foi muito bem votada no Rio nas eleições presidenciais de 2006. Nas pesquisas de intenções de votos para as eleições de 2010, Heloísa Helena ainda é fortemente cotada no estado do Rio de Janeiro. Por isso, acredito que o Chico Alencar deverá contar com o apoio da ex-senadora na campanha. Além disso, a candidatura do Chico Alencar aparece como opção para os eleitores que desejam a possibilidade de uma gestão que faça oposição aos governos municipal, estadual e federal. Mas isso também pode ser um entrave na campanha de Alencar, já que ele terá que enfrentar três máquinas: a do prefeito Cesar Maia, a do governador Sergio Cabral e a do presidente Lula.

C.J - Já é possível traçar um cenário para a disputa do primeiro turno?

R.I - Se não houver nenhuma surpresa, que às vezes acontece, a princípio o cenário possível seria um candidato da base governista enfrentando um candidato de oposição no segundo turno.