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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

200 anos de charme e história

Luísa Côrtes Fonseca - Da sala de aula

28/07/2008

 Luísa Côrtes Fonseca

A Ouvidor, a primeira rua de pedestres do Rio, tornou-se o grande centro mercantil e cultural da cidade depois da vinda da Família Real para o Brasil. Em 2008, na comemoração dos 200 anos da chegada da corte, o local ganha importância e tenta reviver seu tempo de corredor cultural, com novos estabelecimentos. Diversos casarios históricos mantêm a fachada original e os postes de iluminação, principalmente na área perto da Praça XV, continuam com o desenho antigo. A marca do passado continua presente e se mistura com restaurantes, bares, lojas e livrarias, que buscam a revitalização da rua.

O primeiro nome da Rua do Ouvidor foi Aleixo Manuel, em homenagem ao magistrado da capitania, que morava no local. Depois, no século XVIII, alguns juízes, os chamados “ouvidores”, se estabeleceram na rua, que ganhou o nome que permanece até hoje. Em 1808, o decreto de abertura dos portos brasileiros às nações amigas beneficiou os ingleses e franceses, que formaram um comércio na área, com lojas de produtos importados, como seda, perfumes, jóias, chapéus e livros. A partir do Segundo Reinado, a região tornou-se um ponto comercial e de encontro de intelectuais, jornalistas e boêmios, que buscavam notícias do país e do mundo. Durante a Guerra de Canudos, por exemplo, a Ouvidor tornou-se o centro de formação de grupos de discussão sobre os combates no sertão da Bahia.

Intelectuais, como Machado de Assis e Olavo Bilac, freqüentavam a Rua do Ouvidor. Costumavam ir à Livraria Garnier, à Confeitaria Paschoal, aos famosos cafés e à Casa Crashley, uma importadora de revistas e livros estrangeiros. O local transformou-se em uma espécie de vitrine dos modismos franceses. “A Ouvidor era ponto de encontro daqueles que queriam saber das últimas novidades e modas parisienses; desde o livro que estava fazendo sucesso até sobre as roupas que as francesas usavam”, afirma o historiador Luiz Antônio Simas. Além disso, a região tornou-se um centro de identificação com a intelectualidade a partir da fundação do Jornal do Comércio, em 1827, A Nação e o Diário de Notícias.

A atual Ouvidor: fase de recuperação

Através do livro “Ouvidor, a rua do Rio”, o pesquisador Alberto Cohen prestou uma homenagem ao local. Segundo ele, a partir da chegada da Família Real, o lugar tornou-se o mais nobre da cidade. “Tudo que acontecia no Brasil, acontecia no Rio de Janeiro. E tudo que acontecia no Rio, acontecia na Rua do Ouvidor. O primeiro elevador, o primeiro carro a circular, entre outras coisas”, afirma Cohen. Com o decreto de 1867, em que D. Pedro II fechou a região para carroças e charretes, a Rua do Ouvidor foi consagrada como a mais sofisticada da época.

Atualmente a Ouvidor tenta recuperar a sua importância cultural e histórica. A área próxima à Praça XV passa por um processo de revitalização, com novos bares, restaurantes e livraria. Rodrigo Ferrari, 40 anos, dono da Livraria Folha Seca, promove diversas atividades ao ar livre com música e literatura, que reúnem cerca de 200 pessoas. “Os eventos da Folha Seca ajudam todos os comerciantes do local e, além disso, mostram que os cariocas estão começando a valorizar essa região importante da história da nossa cidade”, afirma Ferrari. A rua, que já foi freqüentada por Machado de Assis e João do Rio, torna-se hoje ponto de encontro de jornalistas, historiadores, músicos e jovens. “Ainda falta muita coisa, mas a Ouvidor começa a dar sinais de recuperação. Tomara que volte a ser uma referência cultural do carioca,” diz Simas.