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Rio de Janeiro, 18 de abril de 2024


Cultura

Múltiplos olhares sobre 1968

Glaucia Marinho - Do Portal

27/06/2008

 Thiago Castanho

Em maio de 1968, os muros franceses tornaram-se murais onde divulgavam-se palavras de ordem. Neles nasceram “é proibido proibir”, “exijamos o impossível” e muito mais. Além disso, em 1968, o muro da Soborne foi tela para o filme "Terra em Transe", do diretor Glauber Rocha. Os cineastas Silvio Tendler, Orlando Sena e a professora da UFRJ, Ivana Bentes discutiram o legado de Glauber no Seminário Múltiplos Olhares de 68, realizado na PUC-Rio.

O seminário exibiu o filme Terra em Transe. O longa tem 106 minutos, foi filmado em 1967 e recebeu os prêmios Luis Buñuel e Fipresci no XX Festival de Cannes e o melhor filme e critica no festival de Havana . Como definiu o cineasta Silvio Tendler, o filme é uma alegoria do golpe de 1964. A história se passa na República de Eldorado. Paulo Martins, o personagem principal, é um jornalista e poeta que tenta mudar a situação de miséria e injustiça. As semelhanças com a ditadura militar do Brasil são intencionais.

Silvio Tendler analisou a obra de Glauber partindo do ponto de vista da sua geração. Em 1967, Silvio tinha 17 anos. E naquele momento existiam apenas dois grandes modelos a serem seguidos: Glauber e Jean-Luc Godard. “Era a possibilidade de transformar a política através da arte”. Segundo o cineasta, "Terra em Transe" é uma leitura da época.


Pensar nas transformações de 1968 é construir um projeto cultural. O poeta de "Terra em Transe" planeja ascensão ao poder de um político “progressista” para mudar a situação de miséria em Eldorado. “É o resultado do impulso de toda uma geração que desejava mudar o mundo”, diz Orlando Sena, para quem o filme é uma metáfora latino-americana com foco intencional na ditadura no Brasil. "A proposta do cinema novo era romper com a tradição. Nessa época não havia manifestação artística que fizesse essa unidade de transformação do mundo a arte", afirmou.

Segundo Orlando Sena, o que Glauber propõe no filme são duas alternativas: a luta armada ou a poesia, opções filosóficas que se fazem no personagem de Paulo Martins. “Terra em Transe aborda o futuro e não o passado”, conclui.

Para o filósofo francês Gilles Deleuze, o novo será eternamente novo. E é assim que Ivana Bentes caracteriza a obra glauberiana - como uma novidade. Segundo próprio Glauber, “a revolução é uma estética”. Para a professora, o filme é a descrição da transição do Brasil rural para o urbano.