Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Fronteiras cinematográficas

Glaucia Marinho - Do Portal

27/06/2008

O cinema é uma arte universal. Mas os filmes produzidos também são universais ou podem cair nas barreiras geográficas? Essa foi a discussão da mesa “Fronteiras do Nacional”, no XI Encontro da Socine, realizado na PUC-Rio. Para o professor Fernando Mascarello, da Universidade do Vale dos Sinos/RS, o que está em jogo é o conceito do que é cinema nacional. Segundo ele, este conceito foi pouco problematizado até os anos 1980. E, para ele, gerou a canonização da obra glauberiana e do Cinema Novo. O professor não nega a importância da contribuição de Glauber Rocha para o cinema, mas afirma: “O cinema brasileiro é muito mais que isso”.

Para Fernando Mascarello, o cinema sempre foi transnacional. “Basta vermos o número de cineastas que Hollywood importava na década de 1920”. Ele lembra o filme "Quinto Elemento", do diretor Luc Bresson, que esconde as marcas locais e especificidades nacionais que são vistas como empecilhos para entrada nos mercados internacionais.

Já para o professor Walter Moser, da Universidade de Ottawa, no Canadá, o "road movie" é um estilo que cumpre o papel de ultrapassar fronteiras. Nesse gênero, segundo ele, as histórias se desenrolam durante uma viagem. Filmes como "Cinema, aspirinas e urubus” definiriam, assim, o estilo do "road movie" brasileiro.Walter Moser aponta uma característica peculiar no modelo brasileiro: a capacidade critica, denunciando as disparidades regionais e “integrando” a nação. “O caminhão correndo nas estradas está fazendo a construção do território nacional”, conclui.

As novas fronteiras culturais e de visibilidade foram discutidas por Andréa França, professora da PUC-Rio, e mediadora do debate. A professora exemplificou usando os filmes "500 almas", do cineasta Joel Pizzini, e "Serra da Desordem", da diretora Andréa Tonacci. Andréa França analisou os “povos em ruína”. Segundo ela, os filmes podem elucidar as relações entre sujeito, tempo e território. No documentário "500 almas" tem-se o retrato do índio errante, sem memória, sem aldeia, sem tribo. Já o longa "Serra da Desordem" é um filme repleto de memória, mas sem índios. A professora ainda comentou sobre as dificuldades de entrada dessas obras no grande circuito: “A engrenagem mercadológica capitalista que deixa pouco espaço para esses segmentos e quando conseguem ultrapassar essas barreiras não tem nenhum tipo de divulgação.”

O professor da UFRJ, Denílson Lopes, sugeriu o estudo das diásporas para possibilitar a leitura de culturas que ultrapassam os limites geográficos. Segundo ele, quando se fala em diáspora negra, implica em pensar a questão da cultura negra não como uma questão africana, ou uma questão dos Estados Unidos, Brasil ou Cuba. Mas sim como algo transformado pelo dialogo que acontece na medida em que os produtos culturais e as obras artísticas transitam entre vários países.