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Rio de Janeiro, 18 de abril de 2024


Cidade

PSOL toma espaço do PT na Câmara de Vereadores

Mateus Campos - Do Portal

20/02/2013

 Arte: Eduardo Ribeiro

Na nova Legislatura da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que teve início na última sexta-feira, 15 de fevereiro, PT e PSOL ocupam o mesmo número de assentos: cada partido elegeu quatro vereadores. O empate é significativo para a legenda que governa o país há 10 anos. Afinal, o diretório municipal do Partido dos Trabalhadores vê uma sigla de dissidência, surgida há apenas seis anos, conquistar um espaço que antes era seu na cidade.

Nas eleições de 2012, o voto da esquerda foi, em sua maioria, na direção do partido do candidato derrotado Marcelo Freixo (PSOL). Na eleição para vereadores, por exemplo, 114.993 pessoas votaram na legenda, levando Paulo Pinheiro, Eliomar Coelho, Renato Cinco e Jefferson Moura nas cadeiras de vereadores. Enquanto isso, apenas 20.845 fizeram o mesmo pelo PT, e  elegeram Reimont, Marcelo Arar, Elton Babu e Edson Zatana. O afastamento entre o PT e esse tipo de eleitor, contudo, não é de hoje.

Segundo o cientista político Cesar Romero Jacob, a partir de 2008 iniciou-se um processo de transição: naquela eleição, ao contrário das outras, o candidato petista à prefeitura, Alessandro Molon, teve melhor desempenho nas áreas mais populares da cidade. Autor de “A geografia do voto nas eleições para prefeito e presidente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo: 1996-2010”, Romero explica que, a partir das eleições presidenciais de 2002, o PT nacional adotou uma estratégia de aproximação com setores populares. Para isso, implementou uma agenda que desagradou aos campos mais ligados à esquerda, que um dia formaram a sua base eleitoral:Matheus Vasconcellos" alt=" Matheus Vasconcellos" class="popup">

— Talvez as classes médias de esquerda imaginassem que o governo federal do PT fosse ser uma coisa diferente do que está sendo. Esperavam um governo socialista, mas os rumos tomados se assemelham à Social Democracia. Nesses setores há um desconforto por alianças feitas pela governabilidade, como, por exemplo, com Sérgio Cabral. E aqui no Rio há uma clara aliança entre o PT nacional e o PDMB estadual ­— pontua.

Deputado federal, Alessandro Molon (foto) também elege a aliança com os peemedebistas como um fator decisivo para a perda da confiança do eleitor mais politizado. Descontente com os rumos da própria legenda, o petista pede autocrítica e mudança por parte da cúpula partidária:

— Se o PT do Rio não se reposicionar, vai caminhar cada vez mais para perder o eleitorado da classe média. O atrelamento do PT ao PMDB do Rio presta um desserviço à cidade e, por isso, tem merecido repúdio desses eleitores — critica. Camila Grinsztejn

A controversa política de alianças da direção nacional petista provoca polêmica no Rio de Janeiro há tempos. Nas eleições municipais de 1996, o candidato do partido, Chico Alencar, foi abandonado pelas lideranças, que optaram pela candidatura de Miro Teixeira (PDT). Já na campanha para o governo do estado em 1998, a militância se frustrou com a determinação de apoiar Garotinho, novamente do PDT, ao invés de lançar uma candidatura própria.

Ex-petistas vencem eleição pelo PSOL enquanto PT elege um ex-tucano

Não é coincidência que, atualmente, o deputado federal Chico Alencar esteja nos quadros do PSOL. A legenda, fundada em 2006 por parlamentares expulsos pelo PT, aglutinou nomes insatisfeitos com as orientações do partido. Assim como Chico, mudaram de lado Marcelo Freixo, o ex-deputado federal Milton Temer e outros nomes que exerciam papel de destaque no PT carioca. Junto com os líderes, foram-se os votos de suas áreas de influência.  

Enquanto ex-petistas engrossam as fileiras do PSOL, o PT vem recebendo reforços vindos de campos ideológicos aparentemente opostos ao seu. Por exemplo, dos quatro vereadores eleitos pelo PSOL, dois já foram do partido da presidente Dilma Rousseff: Eliomar Coelho e Paulo Pinheiro. No sentido contrário, dos quatro candidatos vitoriosos do PT, dois tiveram outras legendas. Marcelo Arar veio do PSDB e Edson Zanata era filiado ao PR.

Em números absolutos, o PT teve ligeira maioria: juntando votos nominais e de legenda, recebeu 240.208 contra 229.832 do PSOL. Por outro lado, o Partido dos Trabalhadores estava na imensa base de apoio do prefeito reeleito Eduardo Paes (PMDB), que contou com 20 partidos. Já os correligionários de Marcelo Freixo concorreram sozinhos. As cifras também apontaram disparidade: enquanto Paes declarou ter gastado R$ 3.128.986,93 na campanha, Freixo totalizou em R$ 256.013,16 suas despesas.

O fraco desempenho na cidade do Rio veio na contramão das vitórias estratégicas obtidas pelo PT ao redor do país. Afinal, o partido bateu o próprio recorde de prefeituras: 624. Além disso, venceu a intensa disputa em São Paulo, que reproduziu o embate que normalmente ocorre em nível nacional. Apoiado por Lula, o novato Fernando Haddad bateu o ex-candidato tucano à Presidência José Serra na briga pela capital paulista.