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Rio de Janeiro, 23 de abril de 2024


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Um ser humano múltiplo

Thiago Castanho - Do Portal

09/06/2008

Compositor da Mangueira, amigo de Cartola, assistente de Marcuse, homem generoso e elegante, ser humano múltiplo, profissional de comunicação. Essas são as definições que os amigos e a História usam para classificar Nuno Veloso, que foi diretor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio e faleceu no dia 28 de abril.

Nascido em 15 de março de 1930, em Fortaleza, Nuno Veloso foi também professor da Escola de Comunicação da UFRJ e da Escola Superior de Guerra. Fez mestrado em filosofia da Arte, na Inglaterra e fez doutorado em Frein Universitat Berlin – Osteurope Institute, onde foi assistente do conhecido filósofo Herbert Marcuse.

Embora tivesse formação intelectual extensa, Nuno nunca deixou de valorizar a cultura popular. Era compositor da escola de samba Mangueira e parceiro musical de Cartola. Ele primeiro conheceu Dona Zica e, depois, acabou tornando-se amigo íntimo do sambista. José Guilherme, professor de comunicação da PUC, foi aluno e amigo de Nuno e presenciou momentos da amizade entre o sambista-intelectual e Cartola. “Subíamos a Mangueira para conversar com Nuno e Cartola, com Dona Zica servindo pastel”, relembra. Entre as obras dos dois compositores estão as canções “Soldado do Amor”, “Festa da Vinda”, “A canção que chegou” e “Senões”.

A carreira de músico rendeu também outros frutos. Com os pesos-pesados do samba Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti, Elton Medeiros e Jorge Santana, Nuno Veloso formou o grupo “A Voz do Morro”, de curta existência, tendo se apresentado apenas uma vez. Mais tarde, em 1968, suas composições foram gravadas pelo grupo “Os Cinco Crioulos”. Deste grupo faziam parte Paulinho da Viola, Nélson Sargento, Elton Medeiros, Anescarzinho do Salgueiro e Jair do Cavaquinho.

O amigo Alberto Daniel, arquiteto, lembra de outra faceta de Nuno Veloso, a de atleta. “Ele jogava waterpolo no Botafogo e eu no Fluminense. Eu era centro-avante e ele era meu marcador quando nos enfrentávamos”. Eles também foram sócios de um clube fictício. “O tatuí waterpolo clube, e a ‘sede’ era em um restaurante no Leme, onde nos reuníamos e cantávamos um hino de brincadeira”, relembra.

O professor José Guilherme, ex-aluno de Nuno, não esquece de mencionar a disciplina e a elegância de Nuno Veloso, mas prefere classificá-lo como um “ser humano múltiplo”. Além de sambista e intelectual, ele também chegou a ser diretor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. “Lembro da porta dele sempre aberta a todos nós”, lembra o ex-aluno sobre a época. A filha Mariana Veloso lembra que ele “deixou na PUC vários ex-alunos e professores”. “Há uma comunidade muito grande na PUC que gostava muito dele, por todos os anos que passou lá”, completa.