Projeto Comunicar
PUC-Rio

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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

Ex-professor vai doar mil livros para a PUC-Rio

Gustavo Coelho - Do Portal

03/06/2008

No escritório de Eliézer Burlá, cultura, história e conhecimento se misturam. Amante dos livros, o publicitário de 87 anos construiu um acervo precioso, que ficará disponível ao público da Biblioteca Central da PUC-Rio. Reúne mil obras, de temas variados: música clássica, mitologia grega, filosofia, direito, comunicação e história do judaísmo. Oitocentas ficarão com a própria biblioteca da universidade e 200 serão repassadas para outras entidades.

 

Um dos fundadores do curso de Comunicação da PUC-Rio, Eliézer mantém uma ligação afetiva com a universidade. A sugestão de doar o acervo para a Biblioteca Central partiu de Leonardo, seu neto. Eliézer aceitou a proposta de pronto. Planeja fazer a doação assim que ajeitar a mudança de apartamento, provavelmente até o início do segundo semestre. Por enquanto, os livros continuam no seu escritório. Mas já estão sendo preparados para o novo lar. Eliézer diz que doar o acervo para a PUC é uma "questão de retribuição":

 

- Não é favor. A PUC fez muito por mim. Estou chegando a uma idade em que não preciso mais ficar juntando livros. Chegou o momento de doá-los. Quero que a nova geração seja melhor do que eu, que me ultrapasse.

 

A coleção inclui também biografias, de Mozart, Proust, Platão, Freud e Weber. As obras dividem-se em cinco idiomas: português, francês, inglês, espanhol e hebraico. Tamanha variedade indica a pluralidade de assuntos freqüentados por Eliézer Burlá. Pioneiro no ensino da Comunicação na PUC-Rio, o ex-professor construiu uma carreira de sucesso na publicidade – área que engatinhava naquela época.

 

Eliézer desempenhou um papel pioneiro na divulgação da carreira publicitária, como presidente de associações de propaganda e professor do curso de Comunicação da PUC-Rio. Também fez carreira como escritor, com coletâneas de contos premiadas e artigos em revistas de destaque. Presidiu a Federação Israelita do Rio de Janeiro, protegendo a religião nos tempos da ditadura militar. A distinta trajetória foi recompensada com o título de cidadão benemérito do município do Rio de Janeiro, prêmio que ostenta com orgulho no escritório. Nada que ofusque, no entanto, a antiga parceria com a PUC:

 

- Minha relação com a PUC é de respeito mútuo. Para mim, foi a casa matriz. Doar as obras para a PUC é um gesto de carinho. Isso é o mínimo que eu poderia fazer para expressar a gratidão.

 

Já com a idade avançada, Eliézer tem dificuldades para falar e se locomover. Conta com a eterna companhia de Anita, com quem está casado há 64 anos. Apesar da agenda cheia, os dois sempre encontraram uma maneira de ficar juntos. Orgulhosa, Anita conta que a paixão literária do marido é hereditária:

 

- O pai dele tinha uma biblioteca em casa. Aos 18 anos, Eliézer já lia até obras de Balzac. Ele é um brasileiro dos pés à cabeça. Não sei como arranjava tempo para fazer tanta coisa.

 

A doação de livros aviva no professor lembranças dos primeiros passos curso de Comunicação da universidade,  pioneiro na implantação de disciplinas de jornalismo e publicidade. O jornalista Fernando Ferreira, diretor do Projeto Comunicar e professor da PUC-Rio, fez parte da segunda turma formada em Comunicação pela PUC, entre 1953 e 1955. Ele explica algumas diferenças em relação ao início so século 21:

 

- Éramos apenas cinco alunos e estudávamos sempre à noite. O curso era ligado à faculdade de filosofia. Tinha um forte enfoque nas matérias humanísticas. Havia aulas de Introdução ao Direito com alguns dos melhores advogados do Rio de Janeiro. Como a sala não era muito cheia, trabalhávamos muito. As aulas rendiam bastante. 

 

Fernando Ferreira conta que, naquele tempo, os alunos formados em Jornalismo demoraram um pouco para superar o preconceito de antigos colegas. Alguns acreditavam que “o jornalista já nascia pronto”. 

 

- Quando consegui meu primeiro estágio, fui colocado numa função chata, que era telefonar para os setoristas e passar as informações para o meu superior. Eu não podia escrever nada, o que me deixava frustrado. Um dia, porém, meu chefe me deu uma oportunidade, e se surpreendeu com a qualidade do meu texto. Lembro que ele me disse: “você escreve bem, hein, rapaz?”. A partir daí eu comecei a construir a minha carreira - lembra Fernando Ferreira.