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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

Simulação do real atrai telespectadores

Gabriela Ferreira - Do Portal

30/06/2008

 Glaucia Marinho

Na palestra “Violência, Vigilância e Imagens de Exceção”, Ivana Bentes (ECO/UFRJ), Eliana Monteiro (ECO/UFRJ, UNESA) e Consuelo Lins (ECO/UFRJ) discutiram as transformações nas imagens que interessam e atraem os telespectadores. São imagens reais ou que simulam o real, através de uma câmera escondida, ou de celular; e imagens chamadas de “exceção”, ou seja, com conteúdo muito violento. Segundo Ivana, tudo pode ser mostrado, desde que haja uma contextualização e um elemento ético. A gestão da imagem, para ela, serve tanto para matar quanto para cuidar. Além disso, diz que a violência não está por trás do poder. O poder é que permite a violência e as suas linguagens.

Como tratar da violência sem recorrer aos estereótipos que fazem a própria violência aumentar?

Essa é uma questão dificílima. Uma questão que vem desde a década de 1960. Como mostrar a pobreza, a violência, sem cair no paternalismo, no exotismo, na pieguice ou nessa comoção que pede mais repressão? Tem alguns filmes que conseguem trabalhar com essas questões. Eu vejo isso em alguns videoclipes de hip-hop, que tratam da pobreza, da polícia; em filmes brasileiros contemporâneos, que vão para a favela sem essa idéia pré-concebida de que ali e o território da violência, a origem da violência. É preciso tornar esse discurso complexo, porque enquanto a gente trabalhar com a idéia dos estereótipos, eles se duplicam com muita rapidez. O discurso mais fácil de entender se duplica e circula com muita facilidade.

Há como estabelecer elementos éticos diante de imagens de exceção?

Sim, o objetivo de eu colocar essas imagens aqui é o de fazer uma discussão sobre o elemento ético diante de imagens tão terríveis. Do poder sobre a vida e a morte. Será que tudo pode ser mostrado? Acredito que sim, desde que se tenha um discurso interpretativo que aponte numa dimensão ética, senão a gente alimenta essas imagens como um consumo, uma comodidade, uma coisa qualquer.

Qual é a causa dessa vigilância excessiva da população, que muitas vezes se coloca no lugar de detetives e de jornalistas?

O discurso do medo é uma demanda social do Estado, construído socialmente. Nós estamos em guerra total permanente. É um discurso de controle da relação de pobreza com violência. Ele tem uma base muito sólida, o medo social, essa idéia de que o outro é o nosso inimigo, ou seja, o pobre, o traficante, seja o que for. O problema é essa “demonização” do outro. O outro é um demônio do qual nós estamos sendo protegidos pelo Estado, pela polícia, pela repressão. Isso é muito complicado e sério.

Então, em certa medida, pode-se dizer que esse policiamento acaba cumprindo uma função social?

Uma função social muito discutível, que é da produção de mais medo, de mais demanda por repressão, e que nunca chega a colocar as questões efetivamente importantes. Ela simplesmente alimenta esse circuito, do medo, da violência e da repressão, não cria uma ruptura. Isso impede a gente de fazer coisas mais interessantes, políticas, diferentes disso.

Por que a estética das imagens de vigilância no cinema quer causar o impacto de parecer o real?

Há uma comoção espetacularizada, uma moralização do consumidor. Agora as imagens são outras. Elas se confundem com a própria vida, e podem ser vigiadas por todo mundo, por nossos celulares inclusive. Muitas vezes imagens amadoras e tremidas são usadas em filmes justamente para simular essa idéia de realidade e espontaneidade. O filme “Bruxa de Blair”, dando um exemplo no campo de terror, tenta essa estética. Quanto mais precário, mais escuro, mais tremido, mais você produziria medo, mais produziria a sensação de que aquilo é real. Cada filme pode fazer um uso bem distinto desse tipo de imagem, é uma expressão estética.