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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Cultura

TV, cinema, e a estética da repetição

Gabriela Ferreira - Do Portal

30/06/2008

Na palestra “Cinema, Televisão e Cultura de massa”, a coordenadora do Núcleo de Cinema e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fatimarlei Lunardelli (foto), discutiu como os filmes que se tornam minisséries criam uma ligação entre cinema e televisão usando a estética da repetição. Também participaram da mesa as pesquisadoras Miriam Rossini (UFRGS), Patrícia Burrowes e Flávia Selihman (Poscom/Unisios). Fatimarlei conta que há uma estratégia de marketing para vender, baseada no reconhecimento prévio do público com aquele produto. Entretanto, isso não desvaloriza o que se vende, pois como o mercado dos seriados é dominado pelos americanos, a estratégia acaba por ser estimuladora do mercado brasileiro de forma positiva.

Em que se baseia a estética da repetição?

Ela se baseia na análise do Humberto Eco, que diz que quando alguma coisa passa por uma repetição, passa pelo outro lugar do reconhecimento. Não acredito que esse seja o único lugar de prisão cética. Acho que tem uma construção, uma expectativa do produtor com relação ao seu público. Agora dentro da publicidade posso dizer perfeitamente que se trabalha com o previsível, tem um limite bastante estreito do que é aceitável dentro da publicidade e do que o público vai, de fato, reconhecer. Não tem espaço pra toda essa viagem, ela será, necessariamente, apenas na medida do reconhecimento do público, e vai variar de acordo com o público a quem se destina aquele trabalho.

Qual é a maior preocupação em relação ao abuso do marketing?

A minha, particularmente, é uma questão ética. A gente não pode conceber o marketing como algo que seja dissociado da organização social contemporânea. O marketing é um elemento fundamental desse tipo de organização que eu chamo de agenciamento. Então, se a gente põe em questão aspectos como exclusão social, pobreza, concentração de renda, aspectos da ecologia e impactos do meio ambiente, vamos ter uma implicação que diz respeito ao marketing. É muito fácil a gente esquecer todos os problemas e pensar num mundo maravilhoso e perfeito, mas essa dissociação faz parte de uma estratégia de apagamento.

Qual a estratégia usada para que filmes se tornem seriado e vice-versa?

É uma estratégia de produção audiovisual. É um diálogo muito forte, muito intenso, entre a produção televisiva e a produção cinematográfica. A produção televisiva tem como janela de exibição a televisão e a sala de cinema. Então, por que é uma estratégia? Porque é uma forma de a “Globo Filmes”, que é quem compõe esses produtos, explorar o modelo seriado, modelo de repetição que é possível na televisão, e também explorar o modelo de longa metragem, que vai ser usado na sala de cinema.

Essa estratégia é recente no Brasil?

Sim, É algo que nós estamos percebendo hoje no Brasil tardiamente. Porque se nós formos olhar um pouquinho o cinema, vamos ver que Ingmar Bergman fazia filmes para uma TV sueca, que eram exibidos como seriado. Um exemplo foi “Fanny and Alexander”, foi um longo seriado para a televisão sueca, e ele foi exibido como filme de longa metragem no mundo inteiro. Isso é recorrente no cinema, não é uma novidade, mas aqui no Brasil está sendo explorado de uma maneira eficiente apenas agora.

O fato de filmes de tornarem seriados desvaloriza o cinema?

Acho que isso gera mais produtos audiovisuais, gera mais representação por propriedade, gera mais oportunidade de ver exatamente os produtos. Digo “produtos” porque se pensarmos dentro da lógica industrial, um filme de longa metragem é o produto da janela sala de cinema. Agora, ele pode também ter a mesma história, personagens, trama, ter tudo dobrado em uma micro-série, minissérie, seriado. Claro que é ótimo. Não tem nenhuma desvalorização. Tem mais ocupação de mercados, já que a guerra dos mercados é uma guerra individual. O que ocupa o nosso mercado é o cinema americano e se a gente pode ocupar esse mercado, seja com produtos com modelo seriado, seja por um produto totalmente novo, a gente ta ocupando o nosso mercado. E isso é positivo.