Caio Cidrini, João Pedroso de Campos e Renan Rodrigues * - Do Portal
18/10/2012Os 1,4 mil metros quadrados dos pilotis concentraram seis décadas de jornal, rádio, TV, cinema, publicidade. A exposição comemorativa dos 60 anos do curso de Comunicação – o mais antigo do Rio, iniciado em 1952 com a habilitação em jornalismo – conduziu a um mergulho por histórias que ajudaram a torná-lo uma referência entre jornalistas, publicitários e, mais recentemente, cineastas. Contadas por ex-alunos, alunos e professores, em imagens e textos, indicam as mudanças na área em mais de meio século. "Começamos numa época em que Emilinha rivalizava com Marlene no rádio, a TV ainda engantinhava e, apesar do grande número de jornais e revistas, jornalismo ainda era coisa de escritor, militante ou boêmio, não necessariamente nesta ordem. Tivemos o pioneirismo de investir na profissionalização do ofício", observa o diretor do Departamento, Cesar Romero. "Nestes 60 anos, a comunicação mudou muito, mas o curso manteve o compromisso com o pioneirismo e a inovação, refletido, por exemplo, na criação do Projeto Comunicar, que completou 25 anos, e no Portal PUC-Rio Digital, há cinco", acrescenta ele, referindo-se aos dois laboratórios profissionalizantes.
O passeio pela comunicação incluiu exibições de filmes brasileiros, da Atlântida à Retomada, palestras e transmissões ao vivo de programas das rádios CBN e Globo. Dele também fez parte um integrante tão marcante quanto o conhecimento convertido em sucesso profissional e contribuições sociais: o indisfarçável carinho estampado comum a ex-alunos de diferentes gerações. Como o jornalista Bruno Thys, executivo do Sistema Globo de Rádio, contemporâneo, por exemplo, de Pedro Bial e Fausto Fawcet (pré-Katia Flávia). Convidado para falar aos estudantes na abertura da exposição, Thys trocou as habituais recomendações de quem chegou lá por memórias afetivas, recebidas com identificação e risos. "Até hoje não sei o número da minha identidade, nem decorei o meu CPF. Mas a minha matrícula na PUC, esta eu não esqueço", afirmou o ex-diretor de redação do jornal Extra, formado em 1981. Para mostrar que era sincero, enumerou deliciosas passagens, do surfe de peito nos intervalos das aulas aos chopes com colegas e professores, contrapontos às manifestações contra o regime militar características do ambiente universitário naquela época.
Sorridente, o diretor do Sistema Globo de Rádio recordou a efervescência da universidade nos anos da repressão, em que “todo mundo era de esquerda”, e destacou que “na PUC se tem prazer de aprender” (ouça entrevista com Thys feita pelo Portal PUC-Rio). O conhecimento, lembrou o coordenador de Pós-Graduação, Miguel Pereira, deve estar voltado não só para a qualificação profissional, mas também para o bem social:
– Para produzir um melhor conhecimento, que se traduza em benefícios à sociedade, o curso cumpre uma trajetória consistente, da qual faz parte a abertura do curso de doutorado – ressaltou o professor, que também dirige o Projeto Comunicar, um laboratório profissional que completa 25 anos e e pelo qual passaram nomes como o jornalista e apresentador da TV Globo Márcio Gomes.
Para o reitor da PUC-Rio, padre Josafá de Siqueira, uma das características importantes do curso é justamente a aproximação com o mercado:
– Esta relação pródiga entre o meio acadêmio e os meios de comunicação favorece o desenvolvimento de novas perspectivas sociais e profissionais – ressaltou o reitor, que sonha com um cinema no campus, "palco para exibições e reflexões".
Durante as comemorações, padre Josafá e a comunidade PUC tiveram um cinema autêntico nas imediações dos pilotis. A fachada reproduzia a entrada clássica do cine Odeon. Não menos clássico, um pipoqueiro recebe os espectadores para quatro sessões por dia, abertas ao público, com produções de diferentes fases.
O glamour do cinema se reproduz, de certa forma, nos traços de jornalismo e publicidade reunidos na exposição produzida pelos alunos de publicidade dos professores Marcos Barbato e Cristina Bravo. Vencedores do concurso da disciplina de Laboratório de Publicidade, Paulo Camões (foto), Arom Altman, Elisa Xavier, Leonardo Andrade e Paulo Galeão são responsáveis pelo estande da Globosat. O grupo apresentou uma proposta de campanha, na disciplina de Barbato, na qual as mães dos estudantes de Comunicação são o público-alvo.
– Quando a pessoa fala que trabalha na Globosat, a mãe acha que é na NET ou na Rede Globo. Nossa proposta é fazer com que elas e a sociedade em geral conheçam o que, de fato, é a empresa – explica Paulo.
Os estudantes do sexto período acreditam que a importância de fazer um trabalho direcionado às mães passa pela influência que elas exercem na maioria das famílias. A questão é trabalhar com as escolhas que os filhos fazem a partir da mãe. Eles escolheram o stand-up comedy – representando uma mãe – e a elaboração de um jogo, onde cada pessoa precisa controlar uma bola a partir de Iphones, como estratégias da campanha.
– Aproveitamos o feriado e passamos cinco dias inteiros preparando e arrumando tudo. Viramos a noite de segunda trabalhando nisso – conta Barbato.
Embora a exposição ilumine recantos do passado – como o painel com os nomes dos alunos do curso, agrupados por ano de matrícula –, a exposição e a série de atividades em comemoração aos 60 anos aponta também para os novos horizontes na área. O coordenador de Pós-Graduação do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, Miguel Serpa Pereira, destaca que relembrar o passado é importante para construir o futuro:
– O que estamos fazendo não é simplesmente relembrar a história, não é um momento de nostalgia. Isso é o presente.
O curso mais antigo de comunicação da cidade do Rio cumpriu, na opinião de Miguel Pereira, todo o projeto acadêmico do conhecimento. Professor desde 1975, ele vê agora a “efetivação” do doutorado, iniciado no primeiro semestre, como um dos propósitos desta trilha:
– Desafios como esses revigoram o compromisso com a inovação e o pioneirismo.
O professor destaca também o caráter inovador do Projeto Comunicar, que, nos últimos 25 anos, consolidou-se como avançado laboratório de qualificação profissional para jornalismo e publicidade. A coordenadora do Comunicar, Julia Cruz, acrescenta:
– É um excelente cartão de visitas para quem está entrando no mercado de trabalho. São situações reais em todas as áreas da comunicação, como impresso, rádio, TV e assessoria.
Situações como as vividas pela estudante de jornalismo Caroline Vieira no estágio na Globosat. Ele divertiu-se ao procurar o nome da prima no tal painel de ex-alunos montado nos pilotis do edifício Kennedy. Espera "passar pela mesma emoção":
– A ideia é muito legal. Espero ver o meu nome aqui no futuro – diz Caroline, que faz a produção do canal Combate.
O também estudante Wagner Pinheiro orgulha-se por ter encontrado o nome do pai, o jornalista Narciso Pinheiro, formado em 1972. Narciso trabalhou em publicações como O Dia, Jornal do Brasil e O Globo e em assessorias de imprensa:
– Achei o nome dele com algum esforço, mas consegui! Vou fotografar e mandar para ele. Meu pai vai ficar todo bobo! – comemorava Wagner.
A caça aos nomes pegou, inclusive entre professores que integraram turmas de diversas safras. A brincadeira foi um dos motivos que levaram a publicitária Alessandra Alvarenga a dar uma parada na universidade entre a casa, no Grajaú, e o trabalho, na Barra. Ao saber da exposição pelo Facebook, tratou de conhecê-la e, é claro, verificar se ela estava lá no mar de letras em frente aos elevadores.
– Sinto muita saudade da PUC. Não sabia nada da vida quando entrei na universidade. Aprendi muito aqui, e devia ter aproveitado muito – comenta, com indisfarçável nostalgia, a publicitária formada em 1992, colega de turma dos jornalistas Márcio Gomes e Cristiana Sousa Cruz, chefe de produção do Jornal Nacional.
Depois de finalmente "se encontrar", ela defendeu alterações na disposição dos nomes no painel:
– A ideia foi genial, mas poderiam ter destacado os anos, para facilitar a procura dos nomes.
Já o Cine Odeon PUC é fácil de achar. Pela fachada clássica, em torno de dez metros de altura. Ou pelo cheiro da não menos clássica pipoca, feita por Paulo César Coelho, que se reveza com a mulher, Renata Bittencourt, no comando da carrocinha. Eles admitem que, quando o movimentó é menor, dão uma espiadinha nos filmes que remontam à Atlântida e à Retomada.
– Venho descansar as pernas e me divertir um pouco, relembrando Grande Otelo e Oscarito – confessou Paulo César, na sessão de Matar ou correr, nesta quarta.
O cinema e a pipoca gratuita transformam-se em num retrato democrático. Atraem desde estudantes e Cinema e de outros cursos até funcionários como Hernando de Oliveira, que trabalha há 15 anos no setor de limpeza. Ele chegou a fotografar a novidade para mostrar ao filho:
– Ficou muito bacana este cinema. Bem original. Tinha de tirar umas fotos – justifica.
A programação da semana comemorativa reúne também conversas entre profissionais da área com alunos. Na quarta-feira, o jornalista, crítico de cinematográfica DJ Marcelo Janot, formado em 1992, falou cinema e música. Também contou passagens (hoje) divertidas amealhadas em 20 anos de carreira, como cobrir festas de interior que pagam cachês a atores-celebridades, pela revista Capricho; e as facetas para dar conta da múltipla atuação profissional. Como DJ, por exemplo, Janot abriu o show dos Rolling Stones na Praia de Copacabana:
– Se você se fecha em uma área, restringe seu trabalho – advertiu, aos futuros profissionais.
A versatilidade o levou a vice-presidente do DCE:
– Descobrimos que o DCE iria fechar porque não havia chapa concorrendo. Corremos lá, nos inscrevemos e fomos eleitos – recordou.
* Colaboraram: Amanda Reis, Júlia Zaremba, Matheus Vasconcellos e Monique Rangel.
Programação Cine Odeon PUC-Rio 18/10 19/10 Até o fim da semana, entre 15h e 16h, curtas-metragens de alunos da PUC serão exibidos. |
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