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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Antigos Alunos

Seis décadas de Comunicação e de histórias inesquecíveis

Júlia Zaremba - Do Portal

15/10/2012

Arquivo Pessoal Alberto Dines

Tudo começou em 1952, quando um novo curso foi inaugurado dentro da Faculdade de Filosofia da PUC-Rio. A primeira turma de aspirantes a jornalistas tinha 18 alunos, entre os 1.065 que estudavam na universidade à época.

Das máquinas de escrever aos computadores de última geração, dos penteados exóticos aos cortes modernos, muitas mudanças aconteceram ao longo das últimas seis décadas. Hoje, mais de 8 mil alunos já passaram pelo Departamento de Comunicação, levando, além do diploma, muitas histórias e lembranças da universidade. Histórias que mostram que a PUC esteve presente em momentos cruciais da vida desses personagens.

A primeira turma de jornalismo

Advenir de Souza Lima fez parte da primeira turma de jornalismo da PUC, em 1952. Diferentemente da maioria dos universitários, já tinha 42 anos quando ingressou no curso. Na época, as aulas eram em um casarão na Rua São Clemente, em Botafogo.

Nasceu em 9 de abril de 1910, na cidade de Arceburgo, em Minas Gerais, mas só foi registrada quatro anos depois, em 1914. Além do curso de jornalismo, concluiu outros dois cursos superiores: Filosofia e Letras. Tinha orgulho em dizer que foi uma das primeiras mulheres a pilotar aviões no país.

Álbum de famíliaTécnica de Educação do Ministério da Educação, foi cronista da seção escolar do Diário de Notícias, em São Paulo. Também foi professora do curso de Letras das Faculdades Associadas do Ipiranga (FAI), no curso de Pedagogia nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e no curso de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC).

Em 1976, aos 66 anos, mudou-se para Guararema, em São Paulo, pouco antes de se aposentar.

– Ela era muito simpática, muito culta e tinha bastante conhecimento – conta Lucas Luiz, jovem filho do caseiro que trabalhou por mais de 30 anos na casa de Advenir e seu biógrafo não oficial.

Não casou nem teve filhos, o que acabou estimulando uma relação afetiva com os animais. Ao fim de sua vida, chegou a ter 72 cachorros e 600 aves. Morreu pouco após completar 97 anos, em 29 de abril de 2011.

Lucas, que conviveu pouco com Advenir, tomou a iniciativa de registrar uma homenagem à ex-patroa de seu pai contando sua história em um site literário:

“Ela é um exemplo, quebrou o paradigma de que a mulher é só dona de casa, feita apenas para servir os maridos. Era uma mulher à frente do seu tempo, e poucas pessoas conhecem sua história, uma trajetória brilhante”, escreveu o jovem de 21 anos, que planejava fazer um documentário: – Pena que não deu tempo.

Um discurso que foi parar no ‘The New York Times’

Editor-chefe do Jornal do Brasil nos anos 70 e hoje à frente do Observatório da Imprensa, da TV Brasil, o jornalista Alberto Dines fez parte da história do curso. De 1963 a 1973, como professor da PUC, conciliou a redação à sua primeira experiência no meio acadêmico, já que não fez curso superior.

– Para mim foi uma experiência importante. Eu estava há dez anos na profissão de jornalista, com experiência em cinco mídias diferentes, e achei interessante compará-las para tentar extrair aproximações. Foi bom também para eu poder sistematizar a minha própria experiência – conta Dines.

Em 1968, com o país vivendo um momento turbulento, Dines foi convidado para ser o paraninfo da turma que se graduaria. No discurso que preparou, estavam presentes temas como liberdade de expressão e censura. Uma semana antes da formatura, no dia 13 de dezembro de 1968, o regime militar baixou o Ato Institucional nº 5, restringindo as liberdades democráticas:

– Era um protesto juvenil e veemente contra a censura, pela liberdade de expressão e pela democracia, porque uma coisa não existe sem a outra. E aí veio o ato, na sexta-feira antes da formatura. Eu teria que mudar o discurso, porque os censores entraram no jornal e ficaram na minha sala, vigiando – lembra Dines.

Mesmo alterado, o discurso caiu nas mãos dos censores dentro da redação do JB, que avisaram a seus superiores que haveria “um discurso bomba na PUC”.

No dia, após a leitura (foto do alto), uma ovação tomou conta do ginásio. Mas três agentes do Serviço Secreto da Marinha assistiram ao discurso e o gravaram. Dines foi preso dois dias depois. O fato de o editor-chefe de um grande jornal brasileiro ser preso gerou repercussão internacional, saindo em páginas do Le Monde e do The New York Times Evandro Teixeira

– Eu sabia que haveria consequências, mas não imaginava que fosse ser preso. Temos que arriscar. São desafios que a vida profissional oferece e temos que saber aceitá-los, porque senão ficamos à margem da vida.

Mãe e filha unidas até no jornalismo

Quem passou pelo Projeto Comunicar até os anos 90 via na parede da redação um grande pôster. Na imagem, uma mulher era empurrada por um homem furioso. A personagem da foto, a jornalista Maria d’Ajuda, então repórter da TVE, fazia plantão em um prédio da Avenida Atlântica, em Copacabana, à espera de um comandante de voo comercial acusado de contrabando. Eis que um homem saiu do prédio e a jornalista correu para entrevistá-lo. A resposta foi um baita empurrão, flagrado pelo fotojornalista Evandro Teixeira.

– Ela era uma mulher muito à frente do seu tempo. Tinha uma ânsia de viver tudo, uma gula, uma paixão que faziam dela uma pessoa inesquecível. Eu me lembro de inúmeras ocasiões em que ela ficou felicíssima com as missões mais espinhosas que recebia como repórter – conta a filha, a jornalista Luciana Medeiros.

Nascida em Caravelas, Bahia, Maria d’Ajuda veio para o Rio de Janeiro na década 50. Entrou na turma de jornalismo da PUC-Rio em 1969, contrariando o marido, o cantor Carlos José, que não apoiava a ideia de a mulher estudar. Luciana, filha do casal, então com 7 anos, frequentava o curso com a mãe.

– Eu assistia às aulas com ela de manhã e, à tarde, estudava no Colégio Teresiano, ao lado. Foi muito marcante. Eu dava até palpite em prova: ela perguntava as questões para mim – conta Luciana, que, marcada pela experiência universitária da mãe, se formaria na mesma faculdade quase duas décadas depois: – Fiz dupla graduação em jornalismo na PUC – brinca.

A professora da PUC e ex-aluna Rosângela Nunes foi da turma de Maria, a última antes de o curso se tornar Comunicação Social, e se lembra bem dos esforços da amiga para conseguir a formação universitária: Álbum de família

– Ela era apaixonada pelo jornalismo. Chegou a vender roupa na faculdade para ajudar a pagar o curso. O dia da formatura foi uma data muito especial para ela, tanto que era uma das mais animadas.

A jornalista integrou a primeira geração de repórteres femininas da TV Globo, junto com Glória Maria (com Ajuda na foto), Leda Nagle e Scarlet Moon, passando depois pela TV Bandeirantes e pela TV Educativa. Como as colegas, não gostava de revelar a idade, e chegou a rasurar a certidão de nascimento original.

Maria também deu aulas na PUC, nos anos 70, tendo entre os alunos o jornalista Mauro Silveira, hoje professor do Departamento:

– Seu diferencial estava no fato de estar no mercado e na sua capacidade de analisar de forma crítica os noticiários a que assistíamos na TV. Além disso, trazia histórias de seu cotidiano profissional, o que tornava as aulas mais interessantes.

Sua vida foi interrompida aos 46 anos, de forma inesperada e em plena atividade profissional. Estava a caminho de Macaé para cobrir o marco da extração de 500 mil barris de petróleo pela Petrobras, em Campos, quando o avião em que viajava bateu em uma montanha. A filha, que na época cursava a faculdade, estava saindo de uma aula de redação quando soube da notícia.

– Aprendi com a minha mãe a ter ousadia, permissão de ir adiante. Não há nenhuma questão profissional que me deixe paralisada. Sempre podemos aprender a lidar com as coisas. Isso é preciso, senão a vida não tem graça.

Hoje, Maria é lembrada e homenageada também na cidade de Salvador, na Bahia, que recebeu o nome de Rua Jornalista Maria d’Ajuda Medeiros.

A grife que começou nos pilotis

 Arquivo PessoalEm 1971, o curso de Comunicação Social teve entre os alunos a estilista Alice Tapajós, que na época sonhava em ser jornalista.

– Eu fazia camisas de brincadeira e levava para a PUC. Com o boca a boca, começaram a vir as encomendas. Bastava eu chegar nos pilotis que várias meninas vinham falar comigo. Mas eu era péssima vendedora, minhas amigas é que vendiam por mim – lembra Alice.

Com isso, ficou famosíssima na universidade, inclusive entre os professores – “um deles chegou a dizer que eu só vinha para a faculdade vender camisas”. Animada com o sucesso, abriu uma sala em Copacabana, aos 20 anos.

– Muita gente ia para a salinha quando saíamos da aula, onde ficávamos conversando e olhando camisas.

A confecção era em sua própria casa, com a ajuda de uma costureira. O modelo mais conhecido de blusa era uma camisa branca com ponta azul marinho e botão de cueca, considerada “diferente e bacana” pelas clientes.

Começava ali a marca Alice Tapajós. A primeira loja foi aberta em 1980, no Leblon, e fechou as portas em 2004. A estilista, que chegou a ter modelos seus na Armani, hoje dá consultoria de moda e criação estilos, e recentemente ganhou um concurso internacional de design de bolsas em Nova York.

– A faculdade representou tudo para mim. Foi um tempo em que praticava a arte de ser feliz. Fiz muitos amigos e aprendi muito na PUC. Foi o máximo.

Começa o registro das memórias

Alexandre Costa e Silva Um minucioso trabalho de busca está sendo feito pelo Departamento de Comunicação para catalogar os cerca de 8 mil alunos e resgatar o passado do curso. Para isso, ex-alunos estão sendo procurados, e o material será agregado ao Núcleo de Memória da PUC-Rio.

– Não existia até então um núcleo de memória formal do Departamento. Estamos reconstituindo esta memória – explica a professora de publicidade Claudia Brütt, uma das responsáveis pelo trabalho.

Um perfil no Facebook foi criado para promover a aproximação entre os “filhos da PUC”, que podem postar fotos, encontrar amigos via internet e escrever mensagens.

– Queremos juntar as pessoas, celebrar, é um momento importante. A PUC tem uma relação afetiva com os alunos. Quem passa muito tempo sem vir fica maravilhado quando volta. É legal fortalecer esse vínculo afetivo, é bom para a instituição – conta Cláudia.

Para celebrar as seis décadas de existência, uma festa será realizada no dia 20 de outubro no ginásio da universidade. Todos os ex-alunos estão convidados para esse reencontro de gerações puquianas, que promete surpresas para os presentes.

Saiba aqui como participar do projeto de memória do Departamento de Comunicação.