Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Cidade

O passado dos candidatos a prefeito

Rodrigo Serpellone - Do Portal

05/10/2012

 Arte: Eduardo Ribeiro

Uma eleição pode ser decidida por carisma, publicidade ou confiança passada pelos candidatos. Além destas qualidades, o passado dos aspirantes a prefeito do Rio deve ser levado em conta na escolha do gestor da cidade nos próximos quatro anos. Para quem ainda não decidiu em quem votar, ou para os que têm um candidato em mente e querem saber o que ele fez na carreira, o Portal PUC-Rio Digital pesquisou o passado dos principais políticos que estão concorrendo na eleição para prefeito.

Seja com longos ou breves históricos, todos os candidatos já tiveram alguma experiência com política. Os principais aspirantes a prefeito do Rio variam entre 42 a 66 anos. Eduardo Paes (PMDB) e Rodrigo Maia (DEM) são os mais jovens (42), e Aspásia Camargo (PV) é a mais experiente, com 66. De acordo com a última pesquisa do Ibope, da última terça-feira (2), Paes lidera com 57% das intenções de voto; Marcelo Freixo (PSOL) tem 18%; Maia, 2%; Otavio Leite (PSDB), 2% e Aspásia, 1%. No Datafolha divulgado nesta quinta (4), Paes também tem 57% das intenções de voto; Freixo, 20%; Otavio, 3%; Maia, 2% e Aspásia, 2%.

Eduardo Paes

 Divulgação Casado e com dois filhos, Eduardo da Costa Paes é formado em direito pela PUC-Rio. Filiado ao PV, Paes começou sua vida política aos 23 anos, como subprefeito da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, durante o governo Cesar Maia (1993-1996). Para seguir o guru Maia, Eduardo Paes se transferiu para o PFL em 1996, quando se elegeu vereador graças à ordem que impôs na ocupação do solo das áreas que administrava. Ele teve o maior número de votos do Rio naquela eleição: 83.418.

Durante o primeiro mandato como deputado federal, o político nascido no Jardim Botânico e criado em São Conrado se transferiu para o PTB e voltou para o PFL. E a mudança de partidos não parou por aí. Em 2003, o vascaíno Paes foi para o PSDB e chegou a ser secretário-geral do partido. Quatro anos depois, mudou para o PMDB, levado por Sérgio Cabral, para quem perdeu as eleições ao governo do estado, em 2006 – conseguiu somente 5,5% dos votos.

Duas vezes deputado federal (1998 e 2002), atuou na administração pública nos intervalos. Entre 2000 e 2002, foi secretário municipal de Meio Ambiente no governo de Luiz Paulo Conde. Durante o primeiro mandato de Sérgio Cabral (2007 e 2008), foi secretário estadual de Turismo, Esporte e Lazer e logo após, ganhou as eleições para a Prefeitura.

Como prefeito atual, Paes é o que mais sofre com denúncias, que muitas vezes trata como “intriga da oposição”.

Em 2008, o Ministério Público (MP) entrou com ação civil pública contra Paes por improbidade administrativa. O prefeito foi acusado de ser um dos responsáveis por irregularidades em uma obra feita pela Secretaria de Meio Ambiente, na qual a licitação se referia a obras de melhorias em uma praça que supostamente não existe. Paes terminou inocentado.

Dois anos depois, levantamento da jornalista Berenice Seara para o jornal Extra mostrou que Paes havia gastado R$ 322.535,04 com aluguel de jatinhos entre 2009 e 2010. Somente no dia 25 de agosto do mesmo ano foram pagos, com dinheiro público, R$ 47.482,39 para fretar um jato do Rio a Brasília. Considerando que o preço de uma passagem aérea de ida e volta em voo comercial custava R$ 308, na mesma data, Paes poderia ter feito a viagem 152 vezes, caso optasse por um avião de carreira.

Como prefeito, bateu o recorde de gastos com publicidade em toda a história da Prefeitura do Rio: R$ 150 milhões. Os investimentos tiveram como alegação a campanha, vitoriosa, para a escolha da cidade como sede das Olimpíadas de 2016.

Nestas eleições, Paes foi multado em R$ 5 mil por propaganda antecipada, por aparições públicas com a presidente Dilma Rousseff na entrega de casas populares e na recepção ao jogador holandês Seedorf, do Botafogo. Obras como as vias expressas Transolímpica, Transoeste, Transcarioca, que integram as zonas Norte, Oeste, Centro e o aeroporto internacional do Galeão; a revitalização da zona portuária; e as Clínicas da Família são marcas da sua gestão.

No último sábado (29), o Ministério Público Eleitoral (MPE) instaurou um procedimento para investigar a suposta compra de apoio político do partido PTN pela campanha de Eduardo Paes. Se for confirmado, Paes pode ser cassado. O prefeito nega as acusações.

Seu patrimônio declarado ao TRE é de R$ 329.832,21.

Marcelo Freixo

Aos 19 anos, Marcelo Ribeiro Freixo já estava na vida política. Filiado ao PT, o niteroiense, prestes a se formar em economia, em 1988, foi estudar história, formando-se pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Freixo deu aula em presídios e pré-vestibulares comunitários. De 1993 a 95, foi diretor do Sindicato dos Professores (Sinpro) de São Gonçalo e Niterói. Divulgação

Atualmente com 45 anos, casado com a jornalista Renata Stuart, sua assessora de imprensa, e com dois filhos, Marcelo Freixo é flamenguista e amante de futebol.

Foi consultor do deputado federal Chico Alencar de 1999 a 2002, período no qual coordenou a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Entre 2001 e 2004, presidiu o Conselho da Comunidade da Comarca do Rio de Janeiro, órgão que fiscaliza as penitenciárias. Freixo ainda foi pesquisador da ONG Justiça Global.

Deixou o PT rumo ao PSOL em 2005, e no ano seguinte se elegeu deputado estadual com 13.547 votos. Nas eleições seguintes, foi eleito para o segundo mandato com 177.253 votos, um crescimento de 1.300%, o que fez dele o segundo candidato mais votado naquela eleição em todo o país – o campeão de votos foi Wagner Montes (528 mil).

O crescimento é atribuído à combatividade com que Freixo denunciou corruptos durante o mandato como deputado. Entre as CPIs presididas por Freixo estão a do Tribunal de Contas do Estado, das milícias e do tráfico de armas. Em março de 2009, o candidato a prefeito assumiu a presidência da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa. No ano passado, deixou o Brasil por 15 dias após sofrer uma série de ameaças de morte. Seu irmão, Renato, foi assassinado a tiros em julho de 2006.

Freixo apresentou projetos de lei como a cota de 30% de ingressos a preços populares em arenas esportivas que, em sua construção ou reforma, tenham recebido benefício fiscal e cobrança de meia-entrada em estabelecimentos culturais e de lazer para todos, por exemplo.

O deputado transferiu o título de eleitor de Niterói para o Rio em agosto do ano passado, para concorrer nestas eleições. Na Assembleia Legislativa, Freixo presenciou todas as 166 sessões do plenário. O patrimônio declarado pelo deputado no Imposto de Renda foi o mais baixo entre todos os candidatos: R$ 265.276,34.

Otavio Leite

 Divulgação Nascido em Aracaju, Otavio Santos Silva Leite é casado com a pedagoga Angela Leite e também tem dois filhos. Nascido em 1961, o político chegou ao Rio com dois anos de idade. Afilhado de Juscelino Kubitschek, Otavio foi criado em Copacabana por seu avô, o ex-senador Júlio Leite, e sua tia paterna, Maria Auxiliadora Leite.

O flamenguista Otavio Leite, formado em direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), se filiou ao PDT em 1982 e, no ano seguinte, se tornou assessor de gabinete do prefeito Marcello Alencar em seu primeiro mandato, cargo que ocupou até 1985. No segundo mandato de Alencar como prefeito do Rio (1989-93), Otavio coordenou as regiões administrativas da cidade e foi secretário municipal de Governo do Rio de Janeiro.

Assim que deixou o cargo em 1992, o sergipano de 51 anos se elegeu vereador. No ano seguinte, porém, Otavio foi para o PSDB, partido em que está até hoje. O advogado ocupou o cargo de vereador por dez anos, quando se elegeu deputado estadual com 66.178 votos. No entanto, ele só exerceu o ofício de deputado estadual por dois anos, já que se candidatou a vice-prefeito do Rio na chapa de César Maia em 2004 e foi eleito.

Na metade do tempo pelo qual tinha direito de permanecer no cargo, Otavio deixou a função para se candidatar a deputado federal pela primeira vez. Ele foi eleito com 90.629 votos. Na tentativa de se manter no cargo por mais quatro anos, nova vitória do tucano. Mas desta vez com menos votos: 84.452. Para esta eleição, o deputado declarou um patrimônio de R$ 329.832,21.

Em Brasília, onde esteve presente em 81% das 313 sessões, Otavio abriu a CPI do Apagão Aéreo, com o objetivo de apurar os responsáveis sobre os problemas do sistema aéreo brasileiro. Também em 2007, criou a PEC da Música, que se for aprovada, isenta a carga tributária de CDs e DVDs de música brasileira para combater a pirataria. Ela ainda tramita na capital federal porque os representantes de Amazonas no Senado afirmam que a lei tiraria empregos da Zona Franca de Manaus. Otavio Leite declarou o maior patrimônio entre os candidatos a prefeito do Rio nestas eleições: R$ 1.226.592,11.

Rodrigo Maia

Nascido no Chile em 1970, Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia se mudou para o Rio com três anos. Seu pai, César Maia, e a família foram exilados para Santiago na época do regime militar. Casado e pai de três filhas, Rodrigo Maia estudou economia na Universidade Candido Mendes (Ucam), mas não chegou a se formar, o que faz dele o único candidato a prefeito do Rio sem ensino superior completo. Divulgação 

O fato, porém, não atrapalhou sua carreira política. Aos 26 anos, ele se tornou o mais jovem secretário de Governo do Rio de Janeiro no governo de Luiz Paulo Conde. Em 1998, Rodrigo Maia fez sua primeira tentativa como deputado federal. Com mais de 96 mil votos, ele se elegeu para o cargo do qual nunca mais saiu. Aumentando o eleitorado para 117.229, Maia se reelegeu em 2002.

Nesse mesmo ano, o botafoguense doente começou a integrar a lista dos cem parlamentares mais influentes do Congresso Nacional, de acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Ele está na lista anualmente até hoje. Em 2006 e 2010, Rodrigo Maia venceu novamente as eleições para deputado federal. No primeiro caso, dobrou o número de votos para 235.108. No segundo, o político de 42 anos teve uma grande queda, mas ainda conseguiu se eleger com 86.162 votos.

Rodrigo Maia foi líder do PFL em 2005 e 2006. Portanto, chefiou a oposição nas investigações do mensalão. Na época, três deputados do PT pediram cassação contra Maia por quebra de decoro parlamentar. O deputado do PFL tornou públicos os nomes dos funcionários da câmara que estiveram no Banco Rural, onde supostamente eram sacados os recursos ilegais.  Os petistas envolvidos consideraram isso um gesto maldoso, pois não foram consultados antes da divulgação.

Entre os projetos de lei mais importantes de Rodrigo Maia em Brasília estão a isenção do IPI na compra de embarcações pesqueiras para uso profissional, a gratuidade no transporte interestadual para os portadores de doenças crônicas e de deficiências e o acesso grátis à internet de banda larga para famílias de baixa renda. O candidato a prefeito declarou, neste ano, um patrimônio de R$ 739.544,58, o que o coloca em terceiro colocado no quesito riqueza entre os candidatos.

Em 2007, o MP pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a cassação de Rodrigo Maia por suposta prática de abuso do poder político de gestores municipais. Segundo a denúncia, o prefeito do Rio na época, César Maia, haveria distribuído santinhos e adesivos da candidatura do filho em evento destinado aos garis da cidade. O TSE, porém, rejeitou por unanimidade o recurso do MP. Enquanto isso, ele assumia a presidência nacional do DEM e liderava o partido na votação para o fim do imposto CPMF.

Em Brasília, Maia esteve presente em 85% das 313 sessões da Câmara durante o último mandato como deputado federal.  Recentemente, nestas eleições, Rodrigo Maia foi multado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) em R$ 5 mil por propaganda antecipada, assim como Paes. De acordo com a sentença, Maia se valeu de uma propaganda partidária para promover sua imagem antes do tempo permitido.

Aspásia Camargo

 Divulgação Nascida no bairro de Realengo em 1946, Aspásia Brasileiro Alcântara de Camargo se formou em ciências sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Aos 23, se tornou assistente do professor Candido Mendes na PUC-Rio. Aspásia cursou mestrado e doutorado em ciências sociais na Universidade de Paris e, em 1974, se tornou pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Desde 1975, é professora da Uerj.

Aos 43, a socióloga conseguiu entrar na política, ao ser convidada pelo governador Moreira Franco para o cargo de secretária estadual de Cultura do Rio de Janeiro. Em 1991, se filiou ao Partido Verde e, dois anos depois, foi nomeada presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi secretária-executiva do Ministério do Meio Ambiente e assessora especial da Presidência da República.

Em 2004, Aspásia se elegeu vereadora do Rio, posto no qual foi reeleita em 2008 com 31.880 votos. Após dois anos, a política do PV venceu a candidatura como deputada estadual, com 34.733 eleitores. Entre os projetos de lei apresentados por Aspásia durante seu mandato como deputada estadual, os principais foram a extensão dos benefícios do Bilhete Único para as barcas Rio–Paquetá e Angra–Mangaratiba, o veto de novas usinas nucleares no estado e a implementação de sistemas de logística reversa para resíduos eletrônicos, agrotóxicos, pneus e lubrificantes, ou seja, o retorno dos produtos após o uso pelo consumidor.

A deputada, que declarou patrimônio de R$ 997.349,52 para estas eleições, teve o maior custo de voto entre os candidatos de 2004 para vereador do Rio: R$ 48 a unidade. O caixa de R$ 733.792 para a divulgação da campanha resultou em somente 15.294 votos. Presente em 89% das sessões da Alerj, Aspásia Camargo presidiu a CPI da Desordem Urbana, com o objetivo de investigar o uso indevido, discriminatório ou abusivo das praias, calçadas, praças, estacionamentos e demais locais públicos.

Quando estava no Ministério do Meio Ambiente, participava de diversos eventos internacionais. Em um deles, em Nova York, Aspásia disse que novos carros oficiais no Brasil seriam movidos a álcool, que táxis a etanol teriam incentivo e que consórcios de carros a álcool teriam prazo maior. Além disso, afirmou que o congresso estaria negociando a criação de um fundo ambiental para a reconversão do sistema energético brasileiro. FHC negou todas as informações e o ministro do Meio Ambiente Pedro Malan a criticou.