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Rio de Janeiro, 18 de maio de 2024


Campus

Confissões de uma jovem atriz

Nathalia Fernandes - Da sala de aula

20/05/2008

 Divulgação

Quando começou a fazer balé, aos três anos de idade, Claudia talvez não imaginasse que seu destino seria permanecer nos palcos. Mas, ao invés de fazer da dança seu objeto de permanência, optaria por um outro tipo de arte. As seqüências de movimentos ritmados dariam lugar ao árduo trabalho de pôr corpo e sentimentos à disposição de diferentes personagens.

O interesse pelo teatro começou cedo. Desde pequena atuava em peças no colégio e aos 11 anos decidiu procurar um curso. Foi a partir de um breve contato com a atriz e xará Cláudia Gimenez que decidiu entrar para O Tablado. Já na primeira aula, a aspirante a atriz teve que mostrar suas aptidões.

- Eu estava assistindo da platéia uma aula da Cacá Mourthé (diretora do O Tablado). Os alunos faziam um exercício de interpretação com música. Ela olhou para mim e perguntou se eu não queria fazer. Fiquei super nervosa, tinha bastante gente olhando. Mas aquela era uma oportunidade para mostrar o que eu sabia e o meu interesse por entrar no grupo. Decidi subir e fazer. Foi aí que ela me deixou ficar. Estou lá até hoje – afirma.

Apesar de ter feito outros cursos buscando um aperfeiçoamento teórico, a jovem afirma que a escola de Maria Clara Machado é sua grande escola. Ao longo destes nove anos na companhia, Claudia trabalhou com atores como Lionel Fisher e Bernardo Jablonski, além de ter sentido o gosto de ser premiada. No ano passado, a montagem do O Tablado da peça “O Dragão Verde” recebeu o II Prêmio Zilka Salaberry de Teatro Infantil como melhor peça e melhor iluminação. Apesar de o elenco ser formado por jovens, a atriz afirma que todos se dedicaram para aprimorar o espetáculo, fazendo inúmeras aulas de canto, dança e até esgrima.

Atualmente, Claudia está no elenco da peça “O Jardim das Cerejeiras”, em cartaz no Teatro Maria Clara Machado, no Planetário da Gávea desde o dia 8 de maio. Com direção de Moacir Chaves e Deborah Evelyn no papel principal, o drama de Anton Tchekov fala da decadência de uma família aristocrata russa no início do século vinte. A oportunidade de fazer parte da montagem surgiu de maneira repentina. Foi em leituras dramáticas do concurso Seleção Brasil em Cena, realizado pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em 2007, que Claudia teve o primeiro contato com o diretor.

- Nesse concurso foram escolhidos 10 textos inéditos de novos dramaturgos de todo o Brasil e foram realizadas leituras. Eu fui chamada pelo O Tablado para representá-los. Uma dessas leituras foi com o Moacir. No início desse ano, ele precisou de uma menina nova para montar “O Jardim das Cerejeiras”. Então, ele ligou para o Bernardo Jablonski e como eu tinha acabado trabalhar com o Bernardo, ele me indicou. Quando fui fazer o teste o Moacir me reconheceu e me convidou para o papel. Ele é maravilhoso e está me ajudando muito – conta.

Na montagem, a atriz interpreta a filha de Deborah Evelyn. Para Claudia, é uma honra dividir o palco com ela:

- A Deborah é uma excelente atriz, muito dedicada e aberta a conselhos e críticas. No início dos encontros, ela estava gravando muito e não tinha tempo para ensaiar. Mesmo assim ela correu atrás, fez ensaios individuais com o Moacir e esteve sempre muito presente. Fez de tudo para não prejudicar o andamento da peça.

O espetáculo revezará com outros três espetáculos no mês de maio: “Macbeth”, “O Ovo Frito” e “A Descoberta da América”. Além de ter atuado em cerca de quinze peças, Claudia Sardinha teve experiências no cinema e na televisão. Fez dois curtas universitários, além de participar de um filme na maratona Curta Um Fim de Semana, realizada por alunos do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio e o grupo Estação. Um dos curtas chama-se “Psitrote”e conta a história de uma caloura que morre de medo de seu primeiro dia de aula na faculdade.

Na televisão, a jovem atriz fez diversas participações em programas da TV Globo como “Malhação”, “Minha Nada Mole Vida”, “Turma do Didi” e “Beleza Pura”. Recentemente, fez uma cena na última novela das 18h, “Desejo Proibido”. Claudia interpretou o papel da atriz Eva Wilma quando era jovem. Para ela, esta foi participação teve uma maior importância.

- Sou fã da Eva Wilma. Ela é muito experiente. Assim como Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Tony Ramos, esses grandes atores. Sem contar que eu fui escolhida de última hora, porque a menina que faria o papel teve problemas com a documentação. Fomos gravar no dia seguinte em Teresópolis. Eu estava toda produzida, com roupa de época, cabelos feitos e andando a cavalo. As crianças me viam com aquele vestidão e me davam tchau, como se eu fosse famosa – diz.

Na opinião da jovem, a TV é um meio importantíssimo para a exposição do trabalho do ator, além de ser mais rentável que o teatro. Como muitas companhias independentes não conseguem investir em divulgação, suas produções muitas vezes passam despercebidas aos olhos da população. A TV possibilita a disseminação da imagem e desperta interesse dos telespectadores em conhecer o trabalho de determinados atores.

- As pessoas querem ir a peças específicas, do ator tal. Não existe o hábito de ir ao teatro, como se vai ao cinema, sem saber o que assistir. Eu conheço muita gente que vive só de teatro, mas a TV ajuda muito. É impressionante. Quando fiz as participações nas novelas, as pessoas me ligavam e diziam que agora sim eu era atriz de verdade. Ou seja, você ensaia 10h por dia um espetáculo e os quinze segundos que você aparece é mais reconhecido – brinca.

Aluna do 4º período de Publicidade da PUC-Rio, Claudia Sardinha faz parte do Banco de Atores da PUC, uma idéia da aluna do 5º período de Cinema Marina Provenzano. O projeto é coordenado pelo professor Hermes Frederico e visa unir em uma espécie de catálogo, atores e atrizes da PUC e disponibilizar esse material para os alunos de Cinema em suas produções. E através do cadastro no Banco, que Claudia foi selecionada para fazer dois curtas universitários. Para ela, o projeto interessa não só os atores, mas os futuros cineastas.

- Os alunos do curso de cinema, muitas vezes, não possuem atores para suas produções. Além disso, alguns não sabem como abordar. Com o banco, eles podem ter nosso currículo, algumas fotos e um material audiovisual. Eles vão saber o ator é bom ou não para determinado papel. É uma ótima oportunidade de trabalho.

Apesar da paixão pelas Artes Cênicas, a jovem optou por ingressar, em 2006, no curso de Comunicação Social. Claudia afirma que teme pelo seu futuro e que a profissão é muito incerta. Ser talentoso não é o suficiente para ter as portas abertas. 

- A maioria dos atores faz inúmeros testes até conseguir ser aprovado, pois além de saber interpretar, a pessoa deve ter o perfil que o diretor busca para o personagem. Então, decidi ter um plano B. Afinal também quero me casar e ter filhos. Claro que se minha carreira for seguindo, vou procurar uma formação mais profunda, fazer faculdade. Por enquanto, pretendo me formar – diz.

Fã incondicional de uma outra xará, a atriz Cláudia Abreu, a jovem acredita que para se manter na carreira é necessário estudar e praticar.

- O ator tem que estudar muito e fazer cursos diferenciados porque a teoria é importantíssima, apesar de não ser o bastante. Ele deve estar aparecendo, montando produções independentes por aí. É fundamental estar no palco, porque por mais que a gente tenha um embasamento teórico, quando você sobe e dá de cara com a platéia, tudo pode acontecer. Todos têm certas limitações de corpo, sem contar a vergonha de se expor. Tudo isso só será superado com muito trabalho. Se o ator ficar apenas estudando em casa, ninguém vai saber que ele é ótimo para tal papel e as oportunidades não vão surgir – afirma.

Tão importante quanto estar no palco, Claudia avalia que trabalhar em grupo e saber ouvir é essencial. Para ela, a convivência ajuda a respeitar o espaço do outro e controlar a vaidade. Já as críticas, além de alertar o ator, são importantes no amadurecimento profissional. - Sempre vai ter alguém que não vai gostar do que você faz. Até os grandes atores já foram criticados, porque eu não vou ser? – brinca.

Com críticas positivas de seu trabalho em “O Jardim das Cerejeiras”, feitas pela crítica teatral Bárbara Heliodora, a jovem Claudia Sardinha começa a trilhar um caminho que a aproxima, cada vez mais, dos palcos e holofotes. A pequena bailarina, que não esperava ser atriz, dá lugar à uma futura estrela.