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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Cidade

Quando o prefeito sair em viagem de negócios

Monique Rangel - Do Portal

05/10/2012

 Arte: Eduardo Ribeiro

A disputa para ser o segundo na linha de sucessão do governo municipal é tão concorrida quanto a cadeira de prefeito da cidade olímpica. Longe dos holofotes principais, mas perto do poder, os candidatos a vice-prefeito querem deixar sua marca na administração.

O vice auxilia o trabalho do prefeito, e é ele quem assume o poder executivo nas ausências do titular. Quando o atual prefeito, Eduardo Paes, está em campanha, por exemplo, é o vice-prefeito Carlos Alberto Vieira Muniz quem governa o município do Rio.

Mas, se as eleições fossem hoje, de acordo com pesquisa do Datafolha do último dia 25, o vice-prefeito seria Adilson Pires (PT), companheiro de chapa de Eduardo Paes (PMDB), que tem 55% das intenções de voto. Em segundo lugar estão Marcelo Freixo (PSOL) e seu vice, Marcelo Yuka (PSOL), com 19%. Rodrigo Maia (DEM) e Clarissa Garotinho (PR) aparecem na terceira colocação, com 4%. Em seguida, Otávio Leite e Geraldo Nogueira, com 3%, estão colados em Aspásia e Alfredo Piragibe, com 2%. Cyro Garcia e Marília Macedo (PSTU) e Fernando Siqueira e Irapuan Santos (PPL) aparecem com 1% cada.

 DivulgaçãoUm dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, Adilson Nogueira Pires foi militante do movimento sindical e já exerceu o cargo de vereador seis vezes. Como líder do governo Paes na Câmara Municipal, fica a seu encargo a articulação entre o Legislativo, os vereadores, e o Executivo. No governo de Benedita da Silva, em 2002, esteve à frente da Secretaria de Estado de Ação Social e Cidadania. Segundo análise do projeto Excelências, da ONG Transparência Brasil, que mostra o perfil das propostas dos parlamentares, 88,3% das 401 propostas apresentadas por ele, de 2007 a 2012, foram encaixadas na categoria “sem relevância”, como concessão de honrarias e batismo de ruas, e 11,7% foram classificadas como “outras”, que inclui questões como educação, meio ambiente, questões urbanas, interesse público. Durante a organização dos Jogos Pan-Americanos, ele participou como representante do governo federal. A assessoria do vereador alegou que ele estaria muito “atarefado” para falar com a reportagem.

Divulgação Yuka é o sobrenome artístico de Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana, 46 anos, um dos criadores do grupo O Rappa e compositor de músicas com foco em temáticas sociopolíticas. Em novembro de 2000, ficou paraplégico depois de ser baleado em um assalto na Tijuca. Ativista social, atuou em parceria com o Afro Reagge na comunidade Santa Marta. É fundador da Frente Urbana de Trabalhos Organizados (F.U.R.T.O.) e da Brigada Organizada de Cultura Ativista (B.O.C.A.),com foco em entidades carcerárias.

A “cara” de Yuka na gestão Freixo será a “união da cultura com outras secretarias”, como define. Segundo ele, a cultura é uma forma de proteção e de conquistar autoestima. O candidato a vice não vê desvantagem em nunca ter exercido um cargo público:

– Eu acho que o Marcelo me procurou porque não queria a parceria com político de carreira. Quem vota em nossa proposta quer uma política não convencional, e me conhece como alguém que tem um trabalho de ativista.

 DivulgaçãoHerdeira dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho, Clarissa Garotinho, 30 anos, foi eleita vereadora pelo PR em 2008, aos 26, e dois anos depois, se elegeu deputada estadual. De acordo com o Excelências, 73,9% das 23 propostas apresentadas por ela estão enquadradas na categoria “outras”, como idosos, aposentados, corrupção e controle, sendo que 26,1% sem relevância.

Por causa das alianças com o Democratas em todo o estado nestas eleições, o Partido Republicano não pôde lançar candidato próprio, ambição inicial da “princesa da política”. Assim, Clarissa aceitou o convite feito por Rodrigo Maia, filho de outro cacique da política no estado, Cesar Maia.

– Na verdade, eu sempre tive o sonho de disputar a eleição na capital – afirma Clarissa, diferenciando-se dos pais: – Olhar para as experiências de meus pais não significa que eu vá reproduzi-las. É uma oportunidade de aprender com os erros. O Garotinho conseguiu montar um plano estratégico para o estado, que estava falido. Mas o principal erro foi ter cedido a uma aliança profunda com a Assembleia Legislativa, em especial com o presidente (de 2003 a 2010) Jorge Picciani (PMDB), para manter a governabilidade.

Caso seja eleita, Clarissa acredita que já ter sido vereadora e deputada ajudará na relação com o parlamento, “um espaço de diálogo”. Das marcas que pretende deixar no governo municipal está a atenção à juventude:

– Falta uma política efetiva para a juventude. Fui a Portugal, que tem os melhores programas para jovens no mundo, colhi e adaptei à realidade do Rio um programa específico para jovens, que seria liderado pelo Instituto de Juventude que queremos criar.

Divulgação O sotaque de Geraldo Nogueira não esconde a origem do quarto colocado nas pesquisas para ocupar a cadeira de vice-prefeito: ele veio de Minas. Há 27 anos, o advogado adotou o Rio como cidade após passar em um concurso da Polícia Federal. Cadeirante há 22 anos, desde que sofreu um acidente, se tornou militante da causa da acessibilidade. Ele é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência/OAB-RJ. A proximidade com Otávio Leite veio da parceria de ideias para elaboração de projetos de lei, desde o primeiro mandato de vereador do candidato a prefeito. Nogueira repete Otávio, para quem “todas as ações de governo devem ter o ser humano como base”.

– A minha marca, inevitavelmente, é atuar em defesa das classes mais excluídas, com problemas sociais, questões da área em que trabalho.